Skip to content

24 de janeiro: A Graça infinita de Cristo

24 de janeiro
     
« Deus não lhe dá o Espírito por medida. » (Jo 3, 34)
   
A Cristo convinha possuir o Espírito Santo tanto enquanto Deus como enquanto homem: enquanto homem, como santificante, « O espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor me ungiu » (Is 61, 1); enquanto Deus, apenas para manifestar que o Espírito dele procede, « Ele me glorificará, porque receberá do que é meu. » (Jo 16, 14). De ambas as formas, Cristo não possui o Espírito Santo por medida.

Em Cristo a graça é tríplice: graça de união, de pessoa singular, que é habitual e a graça capital, que é de influência; ora, todas estas, Cristo não as recebeu por medida.
   
A Graça de união foi dada a Cristo uma vez que a natureza humana tenha se unido em uma só pessoa ao Filho de Deus. Ora, a natureza divina é infinita. Logo, desta mesma união, Cristo recebe um dom infinito.
   
A Graça habitual, Cristo não a recebeu por medida, uma vez que sua alma foi cheia de graça e sabedoria, « e nós vimos a sua glória, glória como de Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade » (Jo 1, 14). Para isso, dá-se três razões:
   
1. Da parte do que recebe. Quando a alguma natureza não se dá, da bondade divina, tanto quanto comporta a capacidade natural de sua espécie, dizemos que, o que foi dado, foi dado por medida; quando, porém, completa-se toda sua capacidade natural, dizemos que não se deu por medida — pois, ainda que haja medida da parte de quem recebe, não há da parte de quem dá, pois está pronto para dar tudo. Assim, se alguém vai pegar água de um rio, encontra lá água sem medida, ainda que pegue água com medida, devido a capacidade determinada de seu recipiente.
  
2. Da parte do dom recebido. A graça habitual de Cristo, finita segundo sua essência, é dita ter sido sem medida ou término, pois, tudo que poderia pertencer à razão da graça, Cristo o recebeu. Os outros não recebem tudo; mas um, um tanto, e outro, outro tanto.
  
3. Da parte da causa. De certo modo, a causa contém o efeito. Portanto, quem quer que tenha uma causa de infinito poder para influenciar, é dito ter aquilo que é influído sem medida e, de algum modo, infinitamente. Por exemplo, se alguém tivesse uma fonte que pudesse jorrar água infinitamente, poderíamos dizer que tem a água infinitamente e sem medida. Do mesmo modo, a alma de Cristo tem a graça de modo infinito e sem medida, por ter o Verbo unido a si, que é o princípio infinito e infalível de toda a emanação das criaturas.
   
Por onde se vê que a graça de Cristo dita capital é infinita quanto ao poder de influência. Pelo fato de que possui o princípio de efusão sem medida dos dons do Espírito Santo, Cristo recebeu o poder de os efundir sem medida, de modo que a graça de Cristo basta não apenas para a salvação de alguns homens, mas dos homens de todo o mundo, e mesmo de diversos mundos, se existissem.   
      
In Joan. III
  
 (P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

AdaptiveThemes