8 de janeiro
« Tendo, pois, nascido Jesus em Belém de Judá, reinando o rei Heródes, eis que uns Magos chegaram do Oriente a Jerusalém dizendo: Onde está o rei dos Judeus, que acaba de nascer?» (Mt 2, 1-2)
A diligência dos magos na procura de Cristo revela-se em três pontos, conforme aquilo de S. Agostinho: « Ó, minha alma, se procurasses com diligência, assim o demonstrarias: 1. Andarias na luz para que as trevas não te obstassem; 2. Interrogarias os sábios, para te não perderes no caminho; 3. Em parte alguma descansarias, até te encontrares com o amado. »
1. Sobre o primeiro ponto, diz a Escritura: « Deus, tenha piedade de nós... para que conheçamos na terra o teu caminho» (Sl 66, 1). Diz a Glosa: É este caminho que leva ao céu; « Mas a vereda dos justos, como luz que resplandece, vai adiante, e cresce até o dia pleno» (Pr 4, 18). Glosa: As obras dos justos são executadas sob a luz da ciência, e conduzem à vida eterna, que é o dia pleno.
Por isso os magos buscavam o Senhor sob a luz da estrela, e importa observar que esta luz, ou seja, a graça, perde-se pelo pecado. Por isso diz S. Remígio que a estrela significa a graça de Deus, Herodes, o diabo. Quem, porém, pelo pecado se submete ao demônio, perde a graça; e quem pela penitência se aparta do demônio, encontra a graça; e a graça não o abandona até o levar à casa do Menino, isto é, à Igreja.
2. Sobre o segundo ponto (Jr 6, 16): « Parai sobre os caminhos, e vede, e perguntai quais são as antigas veredas, para conhecerdes o bom caminho, e andai por ele, e achareis refrigério para as vossas almas.» Do mesmo modo, os Magos chegaram do Oriente a Jerusalém, dizendo: Onde está o rei dos Judeus que acaba de nascer? Comenta S. Agostinho: « Anunciam e interrogam, crêem e buscam, significando aqueles que caminham na fé e desejam a visão.» Mas, hélas! muitos doutores são similares aos judeus que, tendo indicado aos Magos a fonte mesma da vida, morreram de secura. A estes, diz Agostinho serem similares aos construtores da arca de Noé, pois trabalharam para que os outros escapassem, mas eles próprios morreram no dilúvio; ou similares às pedras de sinalização, pois indicam o caminho aos outros, mas não os seguem.
3. Sobre o terceiro ponto, « Durante a noite no meu leito busquei aquele a quem ama a minha alma» (Ct 3, 1). Diz S. Gregório: procuramos o amado no leito quando, nos pequenos descansos da vida presente, suspiramos de desejo pelo nosso Redentor. Buscamos durante a noite pois, ainda que a mente nele vigile, os olhos ainda não o vêem. Mas, a quem não encontra seu amado, resta despertar-se, percorrer a cidade, isto é, a santa Igreja dos eleitos, correndo a procurá-lo por ruas e vielas, isto é, observando os que seguem por caminhos largos e estreitos, e, se algum traço seu conseguir encontrar, procure o obter, pois, mesmo na vida secular, existe os que têm algo de virtuoso a que devemos imitar.
Ora, os Magos também não descansaram até encontrarem o amado, isto é, Cristo; o sinal disto é o ter percorrido tamanha distância em tão pouco tempo.
O desejo fervente do divino amor não deixa a alma descansar até que encontre o amado. O verdadeiro desejo, se satisfeito, deleita a alma e, por isso, quanto mais fervor na procura, mais gozo na posse. Assim, os Magos, que buscavam Cristo com fervor, encontraram-no com grande deleite. Donde, a Escritura: « Vendo novamente a estrela, ficaram possuídos de grandíssima alegria» (Mt 2, 10). Sobre o que, diz S. Bernardo: « Enche-se de alegria quem se alegra por causa de Deus, que é a verdadeira alegria».
De Humanitate Jesu
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)