11 de janeiro
Rabi, onde habitas? Jesus disse-lhes: Vinde e vede. (Jo 1, 38)
1. — Em sentido literal, os discípulos buscavam a casa de Cristo. Ora, por causa das coisas grandes e admiráveis que de João Batista ouviram sobre ele, não queriam interrogá-lo superficialmente, ou apenas uma vez, mas freqüente e seriamente. E, por isso, queriam conhecer sua casa, para que freqüentemente fossem a ele, conforme o conselho do sábio, (Ecle 6, 36) « Se vires um homem sensato, madruga para ir ter com ele » e (Pr 8, 34) « Bem aventurado o homem que me ouve, e que vela todos os dias à entrada de minha casa ».
Em sentido alegórico, trata-se da morada de Deus que está nos céus. Perguntam, portanto, onde Cristo habita, pois devemos seguir Cristo para que, por ele, sejamos levados aos céus, isto é, à glória celeste.
Em sentido moral, perguntam « onde habitas » como se quisessem saber quais os homens dignos de que Cristo neles habite. Sobre esta morada, diz o Apóstolo (Ef 11, 22), « vós sois edificados para morada de Deus ».
2. — Disse-lhes: Vinde e vede. E falou em sentido místico, pois a morada de Deus, ou da glória, ou da graça, não pode ser conhecida senão por experiência, pois não se a pode exprimir por palavras. E por isso diz Vinde, por meio da fé e das obras; e veja, pela experiência e inteligência.
Ora, deve-se considerar que de quatro modos se pode atingir este conhecimento:
Pelas boas obras: Vinde, « A minha alma tem sede de Deus », diz o salmista (Sl 41, 3).
Pelo repouso ou recolhimento de espírito. « Repousai e reconhecei » (Sl 45, 11)
Pelo saborear da doçura divina. « Provai e vede quão suave é o Senhor » (Sl 33, 9)
Pela devoção. « Levantemos os corações e as mãos para o Senhor, nos céus » (Lm 3, 41) e « Apalpai e vede » (Lc 24, 39)
Acrescenta o texto: eles foram e viram. Quando foram, viram; e vendo, não foram embora; pois está escrito: ficaram lá aquele dia; todos que se afastaram do Cristo, não o viram ainda como convém. Estes, porém, que por uma fé perfeita o viram, permaneceram lá naquele dia, ouvindo, vendo, tendo um dia feliz. « Bem-aventurados os teus servos, que gozam sempre da tua presença » (3 Rs 10, 8). E S. Agostinho: « Construamos também em nosso coração, e façamos uma morada aonde Ele venha e nos instrua ».
In Joan., cap.I.
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae. Tradução: Permanência)