6 de janeiro
«Andaram as gentes na tua luz e os reis no esplendor do teu nascimento» (Is 60, 3).
I. — Os Magos foram as primícias dos gentios que acreditaram em Cristo. E neles se manifestou, como um presságio, a fé e a devoção das gentes que vieram a Cristo, das mais remotas regiões. Por onde, assim como a devoção e a fé dos gentios não estava contaminada de nenhum erro, por inspiração do Espírito Santo, assim também devemos crer que os Magos, inspirados pelo Espírito Santo, prestaram sabiamente reverência a Cristo.
II. — Diz Agostinho: «A estrela, que conduziu os Magos ao lugar onde o Deus infante estava com sua mãe, podia também tê-los conduzido à cidade mesma de Belém, onde nasceu Cristo. Contudo, escondeu-se-lhes aos olhares, até que os próprios judeus dessem testemunho da cidade onde nasceu Cristo. E assim, confirmados por um testemunho duplo, como diz Leão Papa, buscassem com fé mais ardente aquele que punham de manifesto o clarão da estrela e a autoridade das profecias.» E assim os Magos anunciam a natividade de Cristo e interrogam qual o lugar, crêem e procuram, como significando os que vivem na fé e desejam a visão.
E foi também por determinação divina que os Magos, mesmo sem avistarem então a estrela, guiados pelo senso humano, chegaram à Jerusalém onde, na cidade real, buscaram o Rei nascido; e assim foi Jerusalém o primeiro lugar onde se anunciou publicamente a natividade de Cristo, segundo àquilo da Escritura: «De Sião sairá a lei e de Jerusalém a palavra do Senhor» (Is 2, 3). E também para que o trabalho a que se deram os Magos, vindos de tão longe, condenasse a displicência dos judeus, que viviam tão perto.
III. — Admirável foi a fé dos Magos. Como diz Crisóstomo, «Se os Magos tivessem saído à procura de um rei terreno, ficariam confundidos por terem sem causa se dado ao trabalho de uma viagem tão longa». E por isso não o teriam adorado nem oferecido presentes. «Mas, porque buscavam um Rei celeste, embora nada descobrissem nele denotador da excelência real, contudo, contentes com o só testemunho da estrela, adoraram-no» Pois, reconheceram um Deus no homem que vêem. E oferecem dois presente convenientes à dignidade de Cristo: «ouro, como a um grande Rei; o incenso, usado nos sacrifícios divinos, como a Deus; e a mirra, com que se embalsamam os corpos dos mortos, lho oferecem como a quem havia de morrer pela salvação de todos.»
III q. XXVI a. VIII.
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)