8 de julho
[1] Convém considerar o que significa este nome — Deus. Significa precisamente Aquele que governa e cuida de todas as coisas. Acredita, por conseguinte, na existência de Deus, quem acredita que todas as coisas deste mundo são por Ele governadas, e estão subordinadas à sua Providência. Mas quem pensa que todas as coisas originam-se do acaso, não acredita na existência de Deus. Não há ninguém tão insensato que não creia que a natureza seja governada, que esteja submetida a uma providência e que tivesse sido ordenada por alguém, vendo que tudo se processa a seu tempo, com ordem. Vemos o sol, a lua e as estrelas, e muitos outros elementos da natureza obedecerem a um determinado curso. Ora, isso não aconteceria se tudo viesse do acaso.
[2] Alguns há que acreditam que Deus governa e ordena as coisas naturais, mas não acreditam que Deus atinja, pela sua Providência, os atos humanos. Evidentemente pensam que os atos humanos não são ordenados por Deus, porque vêem no mundo os bons sofrerem e os maus prosperarem, concluem que a Providência Divina não atinge os homens. Afirmar tal coisa, é grande insensatez. Acontece com os que assim pensam, o que acontece àqueles que vendo o médico bom conhecedor da medicina dar a um doente água e a outro vinho, julgassem, no seu desconhecimento da medicina, que o médico estava curando por acaso, e não, por motivo ponderado. Deus também age como médico. Por motivo justo e pela sua Providência dispõe Ele as coisas necessárias para os homens, quando aflige alguns bons e permite que alguns maus prosperem. Quem acreditasse que isso fosse obra do acaso, evidentemente deveria ser um insensato, como de fato o é. Assim pensa, porque desconhece a maneira de Deus agir, e a razão pela qual dispõe as coisas.
[3] Por conseguinte deve-se crer firmemente que Deus governa e ordena as coisas naturais e também os atos humanos. Lê-se no Livro dos Salmos: “Disseram (os maus): Deus não vê. O Deus de Jacó não percebe as coisas. Compreendei agora, ó néscios! Ó estultos, até quando sereis insensatos? Aquele que nos deu as orelhas, não ouve? Aquele que nos pôs os olhos, não vê? O Senhor conhece os pensamentos dos homens” (103, 7-10). Deus vê todas as coisas, os pensamentos e os segredos das vontades dos homens. Já que tudo o que pensam e fazem está patente aos olhos de Deus, os homens, de modo muito especial, são obrigados a praticar o bem.
(In Symb. Apost)
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)