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A excelência da natureza divina

[1] Deus não está compreendido no tempo: é eterno. Com razão se diz que Deus é eterno, pois carece de princípio e de fim, e também porque seu ser não se varia no passado ou no futuro. Nada se lhe subtrai, nada lhe pode advir de novo. Por isso disse a Moisés (Ex 3, 14): Sou aquele que sou, pois o ser dele não conhece nem passado nem futuro, mas encontra-se num perpetuo presente.

[2] A magnitude de Deus excede incomparavelmente a magnitude de todas as criaturas, pois é imenso. Toda coisa pode ser medida por outra, à qual, se excede em magnitude, o faz segundo alguma proporção. Assim, o binário mede o senário enquanto duas vezes três é igual a seis. O senário excede o binário segundo alguma proporção, conforme o binário mede o senário, que é o triplo dele. Ora, Deus, pela magnitude da sua dignidade, excede toda criatura infinitamente. Por isso é dito imenso, pois não há medida comum ou proporção de nenhuma criatura com Ele. Por isso diz o salmo (Sl 144, 3): Grande é o Senhor, muito digno de louvor, e a sua grandeza é insondável. E Baruque (Br 3, 25): É vasto, não tem limites, é elevado e imenso.  
 
[3] Deus está acima de toda mutabilidade: é imutável, uma vez que nele não há variação, conforme aquilo das Escrituras (Tg 1, 17): no qual não há mudança nem sombra de vicissitude.
 
[4] A tudo transcende pelo seu poder: é onipotente, uma vez que simplesmente pode tudo. Por isso disse (Gn 17, 1): Eu o Deus onipotente.
 
[5] Ultrapassa a razão e o intelecto de todos, pois é incompreensível. Dizemos compreender algo quando conhecemos perfeitamente quanto lhe é conhecível. Ora, nenhuma criatura pode conhecer Deus tanto quanto possível, e por isso nenhuma criatura o pode compreender. Donde a Escritura (Jó 11, 7): Porventura alcançarás os caminhos de Deus, e conhecerás perfeitamente o Onipotente? — E pergunta como quem nega. Noutro lugar (Jr 32, 18): Ó Deus grande e poderoso, Senhor dos exércitos é o teu nome. Grande em teus conselhos e incompreensível em teus pensamentos.
 
[6] Enfim, Deus desafia toda palavra: é inefável, pois ninguém pode dizer-lhe um louvor suficiente. Por isso, está escrito (Ecle 43, 33): Exaltai-o quanto puderdes, porque ele está acima de todo louvor.

[In I Decret ]

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