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Art. 7 — Se a dignidade dos dons se funda na enumeração de Isaias, cap. XI.

(In Isaiam. Cap. XI).
 
O sétimo discute-se assim. — Parece que a dignidade dos dons não se funda na enumeração de Isaias.
 
1. — Pois, o mais importante dos dons é o que Deus exige, principalmente, do homem. Ora, o que dele Deus exige sobretudo é o temor, conforme a Escritura (Dt 10, 12): Agora, pois, ó Israel, que é o que o Senhor teu Deus pede de ti, senão que temas o Senhor teu Deus; e ainda (Ml 1, 6): se eu sou vosso Senhor onde está o temor que se me deve? Logo, o temor, enumerado (Isaías) em último lugar não é o ínfimo, mas o máximo dos dois.
 
2. Demais. — A piedade é considerada como bem universal, conforme diz o Apóstolo (1 Tm 4, 8): a piedade para tudo é útil. Ora, o bem universal tem preferência sobre os bens particulares. Logo, a piedade, enumerada em penúltimo lugar, é o mais importante dos dons.
 
3. Demais. — A ciência aperfeiçoa o juízo do homem, ao passo que o conselho é próprio à perquirição. Ora, o juízo é superior a esta. Logo, a ciência é dom mais importante que o conselho, embora venha depois dele na enumeração.
 
4. Demais. — A fortaleza reside na potência apetitiva, e a ciência, na razão. Ora, esta é mais eminente que a potência apetitiva. Logo, também a ciência é dom mais eminente que a fortaleza, enumerada contudo em primeiro lugar. Portanto, a dignidade dos dons não depende da ordem da sua enumeração.
 
Mas, em contrário, diz Agostinho: Parece-me que a septiforme operação do Espírito Santo, de que fala Isaías, concorda com os graus e as sentenças, mencionados por Mateus, V; Mas, difere na ordem, porque, em Isaías, a enumeração começa pelos dons mais elevados, e em Mateus, pelos inferiores.
 
SOLUÇÃO. — A dignidade dos dons pode ser considerada de dois modos: absolutamente, i. é, quanto aos próprios atos, enquanto procedentes dos seus princípios, ou relativamente i. é, quanto à matéria.
 
Ora, considerando absolutamente a dignidade dos dons, com eles sucede o mesmo que com as virtudes, pois os dons aperfeiçoam o homem para todos os atos das potências da alma, para os quais também as virtudes os aperfeiçoam, como já dissemos1. Por onde, assim como as virtudes intelectuais têm preeminência sobre as morais, e dentre as próprias virtudes intelectuais, as contemplativas, como a sabedoria, o intelecto e a ciência, são superiores às ativas, como a prudência e a arte, de modo que a sabedoria tem preeminência sobre o intelecto e este, sobre a ciência, bem como a prudência e a sínese sobre a eubulia; assim também, os dons da sabedoria e do intelecto, da ciência e do conselho têm preeminência sobre a piedade, a fortaleza e o temor, tendo a piedade preeminência sobre a fortaleza, e esta sobre o temor, como a justiça tem preeminência sobre a fortaleza e esta, sobre a temperança.
 
Mas, quanto à matéria, a fortaleza e o conselho têm preeminência sobre a ciência e a piedade, porque a fortaleza e o conselho supõem o que é árduo, ao passo que a ciência e a piedade se exercem nos casos comuns.
 
Assim pois, a dignidade dos dons corresponde à ordem da enumeração, parte, absolutamente, enquanto a sabedoria e o intelecto têm preeminência sobre todos; e parte, quanto à ordem da matéria, enquanto o conselho e a fortaleza têm preferência sobre a ciência e a piedade.
 
Donde a resposta à primeira objeção. — O temor é exigido, principalmente, como um quase primórdio à perfeição dos dons, porque o temor do Senhor é princípio da sabedoria; e não por ser mais digno que os outros dons; mas, na ordem da geração, antes de praticarmos o bem, por influência dos demais dons, fugimos do mal, por influência do temor, como diz a Escritura (Pr 16, 6).
 
Resposta à segunda. — A piedade não a comparam as palavras do Apóstolo a todos os dons de Deus, mas só ao exercício corporal, sobre o qual já havia dito, que para pouco é proveitoso.
 
Resposta à terceira. — Embora a ciência, por causa do juízo, tenha preferência sobre o conselho, contudo este a tem, quanto à matéria. Pois, o conselho só se exerce quando se trata de coisas árduas, como se disse2; ao passo que o juízo da ciência, em todos os casos.
 
Resposta à quarta. — Os dons diretivos, pertinentes à razão, são mais dignos que os dons executivos, se forem considerados em relação aos atos, enquanto procedentes das potências; pois, a razão tem preeminência sobre a potência apetitiva, como o que regula a tem sobre o regulado. Mas, quanto à matéria, o conselho se anexa à fortaleza como o diretivo ao executivo e, semelhantemente, a ciência à piedade; pois, o conselho e a fortaleza se exercem nos casos árduos, a ciência e a piedade, nos comuns. E portanto, o conselho, simultaneamente com a fortaleza, é enumerado, em razão da matéria, antes da ciência e da piedade.

  1. 1. Q. 68, a. 4.
  2. 2. III Ethic. (lect. VII).
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