(II Sent., dist. XL, a . 1).
O sexto discute-se assim. ― Parece que o fim não diversifica especificamente os atos em bons e maus.
1. ― Pois, os atos se especificam pelo objeto. Ora, o fim não é objeto, de nenhum modo. Logo, o bem e o mal dele procedente não diversificam os atos especificamente.
2. Demais. ― O acidental não especifica, como já se disse. Ora, é acidental a um ato ser ordenado para um fim; assim, quando se dá esmola por vanglória. Logo, o fim não diversifica especificamente os atos em bons e maus.
3. Demais. ― Atos especificamente diversos podem se ordenar a um mesmo fim; assim ao fim da vanglória podem se ordenar os atos de diversas virtudes e de diversos vícios. Logo, o fim não diversifica especificamente os atos em bons e maus.
Mas, em contrário, demonstrou-se acima que os atos humanos especificam-se pelo fim. Logo, o fim diversifica especificamente os atos em bons e maus.
Solução. ― Certos atos se chamam humanos, enquanto voluntários, com já se disse. Ora, o ato voluntário inclui dois outros: o interior, da vontade, e o exterior, tendo um e outro o seu objeto. Ora, o fim propriamente é o objeto do ato interior da vontade; ao passo que o ato exterior tem por objeto aquilo mesmo sobre o que recai. Por onde, assim como o ato exterior se especifica pelo objeto sobre o qual recai, assim o ato interior da vontade, pelo fim, como seu objeto próprio. Ora, o que procede da vontade tem por assim dizer valor de forma para o que procede do ato exterior, pois a vontade se serve, para agir, dos membros, a modo de instrumentos; e nem os atos exteriores tem valor moral senão enquanto voluntários. Logo, a espécie dos atos humanos é formalmente considerada em relação ao fim; e materialmente, em relação ao objeto do ato exterior. Por onde, diz o Filósofo: aquele que furta para cometer adultério é, propriamente falando, mais adúltero que ladrão.
Donde a resposta à primeira objeção. ― O fim equivale a um objeto, como se disse.
Resposta à segunda. ― É acidental ao ato exterior ordenar-se a um certo fim, mas não o é ao ato interior da vontade, pois este último está para o primeiro como a forma para a matéria.
Resposta à terceira. ― Quando muitos atos especificamente diferentes se ordenam a um mesmo fim, há certo, especificamente, diversidade em relação aos atos exteriores, mas unidade em relação ao ato interior.