Category: Tempo de Pentecostes
Paramentos brancos
O Espírito Santo cujo advento celebramos no Pentecostes veio-nos recordar nesta última parte do ano (do Pentecostes ao Advento, 6 meses) o que Jesus nos ensinou já na primeira (do Advento à SS. Trindade, 6 meses). O dogma fundamental em torno do qual todo o Cristianismo gravita é este da SS. Trindade, de Quem tudo nos vem e a Quem todos os que receberam o sinete do Seu nome devem regressar. Depois de nos lembrar no decorrer do ano litúrgico o Pai Criador, o Filho Redentor e o Espírito Santo Santificador e Regenerador das almas, a Igreja recapitula hoje antes de mais nada os elementos concernentes ao grande mistério em que adoramos a Deus uno em Natureza e trino em Pessoas.
“Depois de celebrarmos a efusão do Espírito Santo, dizia S. Roberto no século XII, festejamos logo a seguir, no primeiro domingo, a Trindade Santíssima; e é bem feita esta escolha, porque logo depois da vinda do Divino Espírito começou a pregação da fé e com a pregação da fé a administração do Batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”
O dogma da Santíssima Trindade aparece constantemente na liturgia. É em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo que se começa e acaba a Missa e o Ofício e se conferem os Sacramentos. Todos os salmos fecham pelo Glória Patri, os hinos pela doxologia e todas as orações concluem em termos cheios de devoção e de ternura para com as três Pessoas divinas. O dogma da Santíssima Trindade resplandece ainda nos nossos templos. Os nossos avós compraziam-se em simbolizá-lo na altura, na largura e no comprimento admiravelmente proporcionados das igrejas, no coro, nas naves, no trifório, nas três portas e muitas vezes até nas três torres. Sempre e em toda parte, no mais pequeno pormenor da ornamentação, o número três tem lugar de honra, marca um plano refletido, um pensamento de fé na Santíssima Trindade. A iconografia cristã também nos traduz, de diferente maneira, o mesmo pensamento. Até o século XII era vulgar representar o Pai por uma mão que saía dentre as nuvens do Céu a abençoar. Nos séculos XIII e XIV começou a aparecer primeiramente a face e depois todo o busto. A partir do século XV começou o Pai a ser figurado por um ancião revestido das vestes pontificais. — Até o século XII a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade era figurada com mais frequência pela cruz ou pelo cordeiro e ainda por um gracioso jovem no jeito do Apolo do paganismo. Do século XI ao XV, é o Cristo forte, já no vigor da idade, que nos aparece. A partir do XVI entra o costume de lhe pôr a cruz e de o representar frequentemente pelo cordeiro. — O Espírito Santo aparecia nos primeiros séculos sob a figura tradicional da pomba, tocando com as asas abertas na boca do Pai e na do Filho como argumento da sua procedência. A partir do século XI é na figura dum menino que o encontramos por vezes. No século XV, a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, assume as proporções dum homem feito semelhante ao Pai e ao Filho, somente com a pomba na mão ou na cabeça para se distinguir das outras Pessoas. Depois do século XVI, a pomba volta a tomar o lugar exclusivo na representação do Espírito Santo. A geometria concorreu também para a simbólica da SS. Trindade. O trevo teve por sua vez lugar de relevo na simbologia tradicional, e igualmente os três círculos enlaçados com a palavra unidade inscrita no lugar vazio pela interseção. Foi ainda representada por uma cabeça com três faces distintas. Urbano VIII, porém, em 1628 proibiu reproduzir esta perigosa e ridícula interpretação do grande mistério do Cristianismo.
A festa da SS. Trindade deve a sua origem ao fato de as ordenações do Sábado das Quatro Têmporas se celebrarem à tarde e se prolongarem até de manhã, não tendo o Domingo por este motivo liturgia própria. Como todos os domingos são consagrados à SS. Trindade, celebra-se no primeiro depois de Pentecostes a Missa votiva, composta no século VII em honra deste mistério.
Façamos hoje, conformando-nos ao espírito da Liturgia, profissão de fé na Santíssima e Eterna Trindade e na Sua indivisível unidade.
Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.
Paramentos vermelhos
“O Dom da Sabedoria é a iluminação do Espírito Santo, mercê da qual a nossa inteligência contempla as verdades da fé a uma luz deslumbrante e experimenta nela indizível prazer” (Pe. Meschler).
Lançara Jesus os fundamentos da Igreja e enriquecera-a com os seus poderes. Faltava ainda o Espírito Santo para acabar a formação dos apóstolos. “O Espírito Santo virá sobre vós. Deixai-vos ficar, pois, na cidade até receberdes a força do Alto”. A festa de hoje é a festa comemorativa da expansão da Igreja no mundo e foi sem dúvida por este motivo que se escolheu para estação de hoje a Basílica de S. Pedro dedicada ao Príncipe dos Apóstolos.
Dissera o Mestre que o divino Paráclito viria e a Epístola mostra-nos o cumprimento da promessa. Era a hora de Tércia, por volta das nove horas, quando se fez de repente sentir um vento impetuoso que encheu toda a casa, e línguas de fogo desceram sobre os apóstolos. Iluminados por esta luz e a transbordar deste fogo sagrado os apóstolos sentem-se novos e vão realmente renovar a face da terra. Este dom maravilhoso consiste para cada um de nós na plenitude da graça que recebemos no batismo e que se vai progressivamente desenvolvendo e ampliando até a maturação perfeita do céu. Para os apóstolos era isto mesmo com mais o dever, de que em parte não podemos também prescindir sem trair ainda que veladamente a nossa dignidade e a nossa vocação, de a transmitir a todos os homens. Remissão dos pecados, justificação, redenção, filiação divina, caridade cristã, comunhão dos santos, tudo isto, que constitui a riqueza e a vida da Igreja, nos foi e continuará a ser dado pelos sucessores dos apóstolos.
O Pentecostes neste sentido não é apenas a data comemorativa dum acontecimento passado, mas uma realidade presente, sempre viva no seio da Igreja e em nós. “Vinde Espírito Santo, enchei o coração dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor”: é a prece suplicante da Igreja ao Aleluia da missa. Façamo-la nossa e o Espírito Santo virá sobre nós.
Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.
“O Consolador que vos enviarei da parte do Pai, é o Espírito de verdade que procede do Pai” Evangelho.
Paramentos brancos
Este domingo prepara-nos para a festa de Pentecostes. Antes de subir ao céu, o Senhor prometera aos apóstolos que os não deixaria sós, mas lhes enviaria o Espírito consolador que os havia de acompanhar em todas as dificuldades e contingências até a consumação dos tempos. E os evangelhos dos domingos seguintes recordam-nos todos esta promessa do Senhor, como para recolher o sentido profundo da missão do Paráclito. Lembremo-nos no entanto, em conformidade com a doutrina exposta noutro lugar, que é sempre o espírito de Jesus que fecunda e governa a Igreja, que nos santifica e introduz pela graça no seio vivo e vivificante das três Pessoas divinas. Preparemo-nos, pois, para a festa integrando-nos no sentimento de Fé e de Esperança que animava os apóstolos reunidos no cenáculo e peçamos ao Senhor que assegure à Santa Igreja a presença e a ação renovadora do seu Espírito, que a santifica e a vivifica.
Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.
“Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem” (Evangelho)
O ciclo litúrgico termina com esta última semana do ano eclesiástico, e com ela a história do mundo, que nos veio revelando desde a origem, no Advento, até o seu termo final no último Domingo de Pentecostes.
O Breviário e o Missal chamam a nossa atenção para o fim do mundo e para o Juízo Final. Eis que o Senhor vai sair do seu lugar — diz o Profeta Miqueias nas lições de Matinas. Descerá e pisará os altos da Terra. Destruirá as montanhas. E os vales fundir-se-ão como a cera na chama e como as águas que rolam para o abismo. E fará tudo isto por causa do crime de Jacob e dos pecados da casa de Israel. Depois de fulminar Israel com estas ameaças, o Profeta revela-lhe a promessa da salvação. Cristo nascerá em Belém, e o Seu reino, o reino da Jerusalém celeste, não terá fim. Os profetas Nahum, Abacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias, que se leram durante a semana, confirmam o vaticínio de Miqueias. E Jesus no Evangelho começa por evocar a profecia de Daniel, que anuncia a ruína total e definitiva do Templo e de Israel pelas armas romanas. Aquela abominável desolação era o castigo que o povo merecera por haver elevado ao auge a sua infidelidade, rejeitando a pedra angular, que era Jesus Cristo. E nós sabemos perfeitamente como a profecia se realizou alguns anos depois da morte do Salvador. A angústia foi tal que se o assédio durasse mais algum tempo nenhum judeu teria escapado da morte. Deus abreviou, porém, aqueles dias, para salvar os que se convertessem depois de prova tão rude. Assim acontecerá no fim do mundo. “Tunc”, então, quer dizer, quando Cristo voltar, as tribulações serão mais angustiantes ainda. De novo reinará a abominação da desolação, porque “o homem da iniquidade e da oposição levantar-se-á, segundo a palavra do Apóstolo, contra tudo o que se diz Deus e como tal se adora, e ousará sentar-se no Templo e exigir que lhe prestem honras de divindade”. Mas ainda aqui Deus abreviará estes dias terríveis por causa dos eleitos. Virá então o Senhor, não como da primeira vez, apagado e humilde num recanto da Terra, mas coroado de glória e fulgurante como o relâmpago. Os eleitos voarão ao seu encontro como as águias. Os cataclismos no céu e na terra darão o sinal da Sua vinda e todas as tribos verão o estandarte flutuante da Redenção e o Filho do Homem que se aproxima com grande poder e majestade. “Quando os maus desejos se apoderam de vós, comenta São Basílio, quereria que pensásseis naquele tribunal terrível onde devemos todos comparecer. Conduzidos um a um, nós, que estamos aqui a falar, daremos conta, na presença do Universo, de todas as ações da nossa vida. E então aqueles que pecaram gravemente nesta vida ver-se-ão cercados de Anjos terríveis e disformes que os arrastarão para o abismo do opróbrio e da confusão eterna. Isto deveis temer e, penetrados deste temor, servir-vos dele como dum freio para coibir a alma dos vícios e do pecado”. E a Santa Igreja, insistindo no pensamento do Santo Doutor, exorta-nos, pela boca de São Paulo, a andar de maneira digna do Senhor, e a frutificar em toda a espécie de boas obras, para que, fortalecidos com a graça divina, soframos com alegria e paciência as contrariedades da vida, dando graças ao Pai que nos deu parte na herança do Seu Filho Nosso Senhor Jesus Cristo.
No fim dos tempos, tendo vencido totalmente os inimigos, que ressuscitarão para o castigo, e feito Rei incontestável dos eleitos, que esperavam a sua vinda para entrar de corpo e alma na glória, Cristo deporá nas mãos do Pai o reino que conquistou por meio do Seu Sangue, como homenagens perfeita da Cabeça e dos membros. E será então a verdadeira Páscoa, a passagem plena à terra da promessa, a conquista e a ocupação definitiva da Jerusalém celeste, onde, nesse Templo que não é de indústria humana, louvaremos o nome de Deus para sempre.
Jesus veio na humildade a primeira vez; à segunda virá glorioso. O Seu primeiro advento teve por fim preparar o segundo. Os que O acolheram no tempo, serão por Ele acolhidos na eternidade. Os que O rejeitaram no tempo, serão igualmente rejeitados por Ele na eternidade. É por isso que os Profetas não separam os dois acontecimentos; são dois atos do mesmo drama. Por este motivo também o Senhor não separa a ruína de Jerusalém do fim do mundo, porque o castigo que dispersou os judeus deicidas é figura do castigo eterno que está reservado aos iníquos que rejeitaram o Salvador. O primeiro se deu, o segundo há de se dar também.
Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.
Dizia João, precursor do Cristo (Jo 1, 27): Esse é o que há de vir depois de mim, ao qual eu não sou digno de desatar a correia das sandálias. Era como se falasse: não julgueis que seja Ele superior a mim em dignidade, do mesmo modo que um homem o possa ser a outro; antes, me é superior de modo tão iminente, que nada sou comparado a ele. Por isso diz não sou digno de desatar a correia das sandálias, que é o mínimo obséquio que se pode fazer a outrem.
[1] Deus não está compreendido no tempo: é eterno. Com razão se diz que Deus é eterno, pois carece de princípio e de fim, e também porque seu ser não se varia no passado ou no futuro. Nada se lhe subtrai, nada lhe pode advir de novo. Por isso disse a Moisés (Ex 3, 14): Sou aquele que sou, pois o ser dele não conhece nem passado nem futuro, mas encontra-se num perpetuo presente.
Intróito. Jerem. 29, 11 – 12 e 14 Diz o Senhor: Eu tenho pensamentos de paz e não de aflição; invocar-Me-eis e escurarei a vossa oração e reconduzirei os vossos cativos de todos os lugares em que andam dispersos. Sl 84,2. Abençoastes, senhor, a Vossa terra e relegastes o cativeiro de Jacó. V. Glória ao Pai.
Intróito. Jerem 29,11, 12 e 14. Diz o Senhor: Eu tenho pensamentos de paz e não de aflição; invocar-Me-eis e escutarei a vossa oração: e reconduzirei os vossos cativos de todos os lugares em que andam dispersos. Sl. Abençoastes, Senhor, a Vossa terra e relegastes o cativeiro de Jacó. V. Glória ao Pai.
Intróito. Sl. 129, 3 - 4. Se julgardes, Senhor, os nossos pecados, quem poderá resistir? Mas em Vós está a misericórdia e o perdão, ó Deus de Israel. (Sl Ibid, 1 –2) Do fundo do abismo, clamei por Vós, Senhor. Senhor, escutai a minha voz. V. Glória ao Pai.
Intróito. Est.13, 9 e 10 - 11. Todas as coisas dependem, Senhor, da Vossa vontade e nada há que lhe possa resistir. Porque fizestes o Céu e a Terra e tudo o que está compreendido no âmbito dos Céus; Vós sois o Senhor do universo. Sl. 118,1. Felizes os de caminho irrepreensível, os que andam na lei do Senhor. V. Glória ao Pai.