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Category: Pe. Juan Carlos Iscara, FSSPXConteúdo sindicalizado

Podemos rezar para que a doença dolorosa de outra pessoa seja transferida para nós?

O amor da Cruz é uma parte integral e essencial da nossa vida Católica, como nosso Divino Salvador mesmo disse, “Se alguém quiser vir após de mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-me” (Lc 9, 23); e, como São Paulo também ensina: “Mas longe de mim o gloriar-me senão da cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim, e eu crucificado para o mundo“ (Gl 6, 14). Também é verdade que o sofrimento físico é uma das cruzes mais difíceis de se suportar sem ressentimento e com amor. Teoricamente, também seria um grande ato de caridade pedir que o sofrimento de outra pessoa seja transferido para si mesmo, visando aliviar a outra pessoa.

Porém, há uma diferença enorme entre aceitar os sofrimentos que Deus, em Sua bondade, digna-se enviar-nos, e realmente e positivamente querer que esses sofrimentos venham sobre nós. É a diferença entre o segundo e o terceiro graus de humildade descritos por Santo Inácio nos seus Exercícios Espirituais. O segundo grau de humildade é o da indiferença, isto é, a aceitação do que Deus quiser enviar-nos, seja doença ou saúde, pobreza ou riquezas, etc. “Eu nem desejo, nem estou inclinado a...” O terceiro grau é inteiramente heroico e consiste em efetivamente escolher ou desejar pobreza, sofrimento ou insultos ao invés do contrário “quando o louvor e a glória da Divina Majestade seriam igualmente servidos, para imitar e estar em realidade mais próximo de Cristo, Nosso Senhor...” (ibid.).

Porém, deve-se tomar nota de que esse desejo e essa oração são a vontade de Deus apenas quando são frutos de uma alma que atingiu a perfeição. Isso é o que o Pe. A. Tanquerey tem a dizer em seu tratado intitulado A Vida Espiritual: “O desejo e o amor do sofrimento… são o grau próprio das almas perfeitas e especialmente das almas apostólicas, dos religiosos, Padres e homens e mulheres devotos. Tal é a disposição que animava Nosso Senhor quando ele ofereceu a Si mesmo como vítima na Sua entrada neste mundo… Por amor a Ele e para se tornarem mais como Ele, as almas perfeitas adentram os mesmos sentimentos” (§1091)

Em qualquer outra alma, porém, essa oração ou desejo poderia ser uma forma de autoengano e mesmo uma tentação do demônio para causar desânimo. O Padre Tanquerey prossegue indagando-se se é apropriado a uma alma pedir, formalmente, sofrimentos extraordinários a Deus, como os Santos têm feito e como, em nossos dias, algumas almas generosas ainda fazem. Porém, geralmente falando, esses pedidos não podem ser prudentemente recomendados. Eles podem, facilmente, levar a ilusões e, normalmente, são resultado de algum impulso de generosidade irrefletido que se originou da presunção… Daí advêm violentas tentações de desânimo e mesmo de reclamar da Divina Providência… Consequentemente, não devemos pedir sofrimentos ou provas extraordinários… Se alguém se sentir inclinado a tal, deve buscar conselho com um criterioso diretor de almas e não fazer nada sem sua aprovação” (ibid., §1092).

Aí está a resposta da pergunta: só se deve fazer esse pedido após ter discernido que tal é a vontade de Deus porque se está sendo chamado à perfeição, e se o diretor espiritual estiver de total acordo.

Por que a FIV (Fertilização In Vitro) é imoral?

Pe. Juan Carlos Iscara - FSSPX

Na FIV, um óvulo é removido cirurgicamente do ovário da mãe, transferido a uma solução especial e misturado ao esperma (normalmente obtido através de um ato pecaminoso). Uma vez que a fertilização haja ocorrido, o embrião é implantado na parede uterina. Apesar de o procedimento ter se tornado mais ou menos comum, ainda é doloroso, caro e nem sempre bem sucedido. Para reduzir a dor, custos e risco de fracasso, as mulheres normalmente recebem drogas para estimular a ovulação, o que permite que vários óvulos sejam retirados de uma só vez, os quais, uma vez fertilizados, produzirão vários embriões prontos para implantação. Normalmente, os embriões extras são congelados e mantidos em nitrogênio líquido para serem usados posteriormente, se houver necessidade, apesar do congelamento reduzir sua capacidade de ser implantados.

 

Por que esse procedimento é imoral?

“Em comparação com a transmissão de outras formas de vida no universo, a transmissão da vida humana tem um caráter especial próprio, que deriva da natureza especial da pessoa humana. A transmissão da vida humana é encarregada pela natureza a um ato pessoal e consciente, e que, como tal, está sujeito às leis sagradas de Deus, leis imutáveis e invioláveis que devem ser reconhecidas e observadas. Por essa razão, não é possível usar meios e seguir métodos que seriam lícitos na transmissão da vida das plantas e dos animais” (Congregação para a Doutrina da Fé, Donum Vitae).

A Igreja sempre rejeitou a atitude “que separa, na geração, a atividade biológica da relação pessoal do casal em matrimônio. A criança é fruto da união conjugal, quando essa união encontra expressão plena através do uso das funções orgânicas, das emoções sensíveis conjugadas, e do amor espiritual e desinteressado que anima a união. É na unidade desse ato humano que devemos colocar considerações biológicas sobre a geração. Jamais é permitido separarem-se esses vários aspectos de maneira a excluir a intenção procriativa ou a união conjugal” (Pio XII)

Portanto, a imoralidade fundamental da fertilização in vitro reside no fato de que constitui uma perversão da ordem da natureza – desejada por Deus – no uso do casamento. Com efeito, o ato de procriar é substituído por uma intervenção técnica, que ocorre fora da união física dos esposos. Como a procriação é separada do ato conjugal, a finalidade procriativa do casamento é separada do seu fim unitivo, do amor mútuo dos esposos.

Além disso, “na prática comum da fertilização in vitro, nem todos os embriões são transferidos para o corpo da mulher; alguns são destruídos. Assim como a Igreja condena o aborto induzido, ela também proíbe atos contra a vida desses seres humanos. Agindo dessa maneira, o pesquisador usurpa o lugar de Deus; e, ainda que ele não esteja ciente disso, coloca-se como mestre do destino de outros na medida que ele arbitrariamente escolhe quem ele permitirá viver e quem ele vai entregar à morte e mata seres humanos indefesos” (Congregação para a Doutrina da Fé, Donum Vitae).

Somos obrigados, sempre, em todas as circunstâncias, a contar a verdade e nada menos que a verdade completa?

Moralistas costumam começar a resposta a essa pergunta primeiramente fazendo a distinção entre preceitos positivos e negativos.

Preceitos negativos obrigam sempre, em todas as circunstâncias, pois eles proíbem a prática de atos intrinsecamente maus. Por exemplo, o 5º Mandamento indica que, simplesmente, não há um caso possível em que nos seria permitido matar um inocente.

Por outro lado, preceitos positivos sempre obrigam, mas não em todas as circunstâncias de nossas vidas. Eles requerem a prática de atos bons; eles sempre são vinculantes, mas nem sempre efetivos, em razão de uma falta de capacidade, ou de uma ocasião adequada, ou de circunstâncias apropriadas… A sua aplicação é flexível, porque algumas obrigações positivas normalmente entram em conflito com outras obrigações positivas. Portanto, o preceito de amor ao próximo como a nós mesmos indica que – por exemplo – nós devemos dar esmolas a aqueles necessitados, mas não demanda que nós demos todo nosso dinheiro, porque temos o dever de sustentar nossa própria família…

Contar a verdade é um preceito positivo e, como tal, não obriga sempre. Certamente, nunca é permitido mentir. Mas isso não significa que nós temos que contar a verdade completa sempre, em toda ocasião, em toda circunstância… Podemos escolher permanecer em silêncio, porque contar a verdade pode entrar em conflito com outra obrigação positiva – por exemplo, guardar um segredo, proteger uma reputação, preservar o bem comum…

Portanto, às vezes é lícito esconder a verdade. São Tomás (IIa-Iiae, q. 110, a. 3, ad 4) ensina que, embora nunca seja lícito contar uma mentira, “às vezes é lícito esconder, prudentemente, a verdade” -- ou seja, às vezes, a verdade pode ser ocultada para um fim honesto, para proteger bens importantes ao bem da alma ou do corpo.

Mas esconder a verdade é proibido se outro preceito (fé, caridade, justiça, etc) exige que seja contada. Nesses casos, se a verdade for ocultada, dois pecados podem ser cometidos, um contra a veracidade e o outro contra a outra virtude afetada. Portanto, é proibido esconder a verdade quando somos obrigados pelo preceito a confessar a Fé, ou, quando ex officio (em razão de nosso ofício ou função) há uma obrigação de ensinar a verdade ao outro (especialmente se formos pagos para isso), ou quando um juiz, que tem o direito legítimo de saber a verdade, interroga-nos; ou quando um superior religioso interroga seus subordinados sobre as coisas relativas ao governo deles; ou quando um confessor indaga seu penitente sobre coisas necessárias para julgar retamente o estado da alma…

Inversamente, fora desses casos e com razão suficientemente proporcional, é permitido omitir a verdade à pessoa que pergunta.

 

Cometo o pecado de fofoca se falo à minha esposa de pessoas que fizeram algo errado a mim?

A doutrina moral católica nos ensina que uma das coisas mais importantes que uma pessoa tem é sua reputação, pois ela é a base a partir da qual nós nos relacionamos entre nós em nossas interações sociais.

Santo Tomás enumera (IIa-IIae, qq. 72-76) todas as maneiras pelas quais podemos danificar o próximo com nossas palavras, ou seja, como nós podemos, injustamente, macular a reputação ou a honra de uma pessoa, que não está presente normalmente, seja contando mentiras sobre ela ou compartilhando verdades sobre ela de forma inapropriada. O murmúrio consiste em falar pelas costas de uma pessoa, danificando sua imagem. A calúnia consiste em contar mentiras que atingem a reputação de uma pessoa. Detração refere-se a revelar certas verdades sobre alguém que, apesar de verdadeiras, não devem ser compartilhadas e que, na verdade, diminuem ou atingem a imagem daquela pessoa ante os outros. Derrisão refere-se a fazer graça de uma pessoa de tal maneira que diminua sua honra e compostura aos olhos dos outros. Maldição é o desejo falado de que uma pessoa sofra um mal.

Todos esses pecados da fala são reunidos, na nossa linguagem comum, sob o nome de “fofoca”.

A gravidade desses pecados é variável, de acordo com o grau de dano causado pelas nossas palavras, com as circunstâncias em que essas palavras são ditas (onde, quando, na presença de quem, que tipo de linguagem etc) e, mais importante, de acordo com a intenção da pessoa que fala.

Certamente, sempre é proibido contar mentiras, e muito mais se essas mentiras causam dano à reputação de uma pessoa. Também é proibido revelar verdades desnecessariamente sobre alguém, verdades que essa pessoa preferiria que não soubessem. Obviamente, pode haver ocasiões quando é necessário compartilhar certas verdades sobre os outros, como para evitar um dano a um terceiro – mas essa revelação deve ser feita com discrição, ou seja, apenas para aqueles que precisam saber, e deve-se contar apenas o que é certamente verdadeiro e, apenas, a verdade que precisa ser revelada, não tudo o mais sobre aquela pessoa.

Não obstante, há momentos em que precisamos falar sobre defeitos ou idiossincrasias de pessoas que não estão presente – por exemplo, quando buscamos conselhos para lidar com alguma pessoa ou com as consequências do que algo que essa pessoa fez conosco, ou quando precisamos de encorajamento em uma situação difícil na qual alguém nos colocou, ou quando nós simplesmente precisamos colocar algo “para fora do nosso peito” antes que esse sentimento nos leve a ressentimentos ou outros atos não caridosos.

Nesses casos, e mantendo o máximo de discrição possível, nós podemos falar a alguém que julgamos confiável e capaz de fornecer ajuda através de um conselho razoável ou apoio solidário.

Se sou casado, não deveria haver ninguém mais próximo de mim que minha esposa, ninguém mais confiável e solidário em meus momentos de necessidade.

Nessas circunstâncias, minhas palavras sobre alguém – mesmo que sejam danosas à sua reputação – não são fofocas, desde que eu transmita o que é certamente verdade, que não busque atingir a reputação do outro, que não encontre nenhuma alegria em expor suas faltas e não tenha nenhuma intenção de que o que contei se espalhe para mais alguém. Mas, ainda assim, devemos ter muito cuidado com esse tipo de conversa, pois podemos cair em pecado muito facilmente.

O que significa “rezar pelas intenções do Santo Padre”?

Quando, para ganhar indulgências, rezamos pelas intenções do Santo Padre, estamos rezando por quatro intenções específicas e objetivas. A Raccolta (uma coleção de indulgências que costumava ser publicada pela Sagrada Congregação das Indulgências) estabelece que as intenções do Papa sempre incluem as seguintes intenções muito católicas:

- O progresso da Fé e o triunfo da Igreja.

- Paz e união entre Príncipes e Governantes cristãos.

- A conversão dos pecadores.

- A destruição da heresia.

Essas são as intenções objetivas pelas quais rezamos, aquelas que correspondem ao fiel cumprimento do seu ofício. Quaisquer que sejam as outras intenções pessoais que ele tenha, nós também rezamos por ela, desde que não contradigam as intenções acima – ou seja, não se reza pelas intenções subjetivas do Papa se elas forem contrárias à nossa fé católica ou se forem danosas à Igreja de algum modo.

Por que a Igreja sempre preservou o uso do Latim na Liturgia Romana?

Embora não haja nada na Revelação que prove a absoluta necessidade de uma língua sagrada (ou seja, uma língua diferente do vernáculo e restrita às funções sagradas), a Igreja Romana sempre escolheu preservar o Latim como sua língua litúrgica pelas vantagens que ele apresenta.

O Latim, sendo uma língua “morta”, tem o mérito incomparável de ser, ao mesmo tempo, imutável e misterioso.

Ele é imutável, enquanto as línguas do povo estão sempre evoluíndo e se remodelando. Se os livros litúrgicos estivessem sujeitos à mudança e à perpétua reconstrução, se as fórmulas litúrgicas da oração fossem incessantemente remodeladas e alteradas, os textos originais não apenas perderiam muito da sua força e da sua incomparável beleza, como se veriam frequentemente desfigurado e maculado por incorreções, erros e deturpações. Consequentemente, seria impossível preservar e manter a uniformidade do culto divino em tempos diferentes mesmo dentro de um mesmo povo, e muito menos no mundo inteiro.

Como o Latim não mais pertence ao cotidiano, ele tem um caráter sacro, venerável e místico. Elevado acima do dia-a-dia, ele é um véu místico para os adoráveis mistérios da Missa, que nós aqui embaixo conhecemos apenas pela obscuridade da fé, mas dos quais teremos clara visão no Céu.

O uso do Latim não impede os fiéis de participarem dos frutos do Sacrifício.

A Liturgia do Santo Sacrifício contém muito de instrutivo, mas a instrução não é, de modo algum, seu principal objeto. A Missa não é primariamente um ensinamento doutrinal ou uma instrução do povo. O Sacrifício é, essencialmente, uma ação litúrgica realizada pelo Padre para propiciar e glorificar a Deus, bem como para a salvação das almas.

Nesse sacrifício as pessoas devem, em união espiritual com o celebrante, juntar-se à oração e ao sacrifício. E isso não é possível a elas sem algum entendimento da celebração litúrgica; mas, para adquirir tal entendimento, há vários meios à disposição dos católicos (ensinamento oral, livros de instrução e devocionários). Para satisfazer a esse propósito, a mera recitação das fórmulas de orações no vernáculo pelo celebrante não seria suficiente: a tradução das orações não revelaria seu sentido oculto e, com frequência, seria ocasião de equívocos e mal-entendidos.

Como língua universal de culto, o Latim é um meio admirável de apresentar, preservar e promover a unidade da Igreja no culto, na fé e na conduta.

A unidade da liturgia em todos os tempos e lugares pode ser perfeitamente mantida apenas na medida em que ela seja celebrada, sempre e em todos os lugares, na mesma língua. Com a introdução das várias línguas nacionais, a uniformidade e a harmonia do culto católico está em perigo e, em certa medida, torna-se impossível.

A unidade da língua litúrgica e do culto divino na Igreja é um meio muito eficiente de preservar a integridade da fé. A liturgia é, de fato, um canal através do qual o ensinamento dogmático é transmitido. O culto é desenvolvido baseado na doutrina da fé. Nas orações litúrgicas, nos ritos e ceremônias da Igreja, as verdades da Fé Católica encontram sua expressão e podem ser estabelecidas e provadas daí. Quanto mais fixa, imutável e inviolável for a fórmula litúrgica, mais será apta para preservar e a transmitir intacto o depósito original da Fé.

Deus escuta as orações de um pecador?

A doutrina católica nos ensina que uma das primeiras condições para nossas orações serem eficazes – ou seja, para obterem aquilo que pedem – é que a pessoa que reza deve estar em estado de graça. 

Por outro lado, o Evangelho nos fala de pecadores cujas orações com certeza foram atendidas por Deus – o bom ladrão no Calvário, Maria Madalena, Zaqueu, o publicano da parábola… Na verdade, ao longo da Sagrada Escritura, o pecador é quem é mais insistentemente encorajado a rezar, porque ele é o mais miserável perante Deus e só pode recorrer à misericórdia divina, não a algum mérito dele mesmo.

Portanto, sim, podemos estar certos de que Deus ouve essas orações – mas, também como lemos nos Evangelhos, apenas se essa oração for acompanhada pelo desejo e a intenção de arrependimento.

Deus não ouve o pecador quando ele pede algo enquanto pecador, p. ex., algo de acordo com um desejo pecaminoso, ou permanece obstinado no seu estado pecaminoso, sem disposição de abandonar o pecado e suas ocasiões (cf. Summa, IIae IIa, q. 83, a. 16). O pecador que, após ofender Deus, persiste no estado de inimizade com Ele, não pedirá aqueles bens que levam ao perdão e ao estado de amizade com Deus. Ainda assim, ele, às vezes, pode obter o que pede [a Deus], mas essa resposta favorável não é um ato de misericórdia ou de recompensa, mas de punição. Santo Agostinho nos diz que há coisas que Deus, em sua misericórdia, nos recusa, mas que, em sua ira, nos concede... (Trat. João 73).

A oração do pecador, para ser ouvida, deve partir do reconhecimento da sua própria miséria, que o leva a pedir a liberação do seu estado de pecado, ou seja, ser afastado do pecado.

O pecador será ouvido se requerer para si, piedosa e perseverantemente, aquelas coisas que são necessárias para sua salvação. Ele será ouvido se pedir a força e a coragem de amar o verdadeiro bem. Ele será ouvido se aceitar os sacrifícios que tornarão o seu arrependimento eficaz. Ele pode até mesmo pedir bens temporais, desde que eles não sejam obstáculo ou sejam conducentes à sua conversão e salvação final.

E Deus atenderá o que essas orações pedem, não por justiça, pois o pecador não merece ser ouvido, mas por pura misericórdia.

Há batismo de desejo para os nascituros?

Em várias publicações e sites pró-vida, a prática do “batismo” da criança ainda não nascida é defendida. Outros, também motivados por pensamentos piedosos, defendem que bebês abortados podem receber a graça do batismo de desejo, um desejo suprido por terceiros bem-intencionados. Infelizmente, essas teses não correspondem à doutrina católica. 

Em primeiro lugar, os sacramentos são apenas para seres humanos vivos, não para anjos ou almas separadas [do corpo]. Apenas aqueles que estão in statu viae, ou seja, vivos neste mundo, capazes de receber a graça por intermédio do sinal sensível da matéria e da forma do sacramento. Como consequência, uma criança morta, um bebê abortado, não pode receber esse sacramento.

Na Igreja primitiva, havia hereges e mesmo católicos mal orientados que tentavam “batizar” catecúmenos mortos, fazendo a profissão de fé no lugar deles e, após, aspergindo os corpos com água batismal. Essa prática foi condenada pelo terceiro Concílio de Cartago em 397.

Em segundo lugar, devemos compreender bem o que é o batismo de desejo. Santo Agostinho diz que a recepção do batismo de água pode ser suprida apenas de duas maneiras: pelo martírio e pela fé e conversão do coração (De Baptismo contra donatistas, IV, 22, 25). Isso significa que uma pessoa não-batizada que, sem culpa sua, não tem como receber o batismo sacramental, ainda pode receber a graça santificante através de um ato de perfeita caridade ou de uma contrição perfeita pelo pecado, atos que, em si mesmos, ao menos implicitamente, incluem o desejo de receber o sacramento, na medida em que eles incluírem o desejo de obedecer a todos os mandamentos de Cristo.

Pio XII, dirigindo-se às parteiras italianas em Outubro de 1951, claramente diz que tal ato de amor é suficiente para o adulto obter a graça santificante e para suprir a falta do batismo. Mas quanto ao nascituro e ao recém-nascido, esta via não está aberta. Na atual economia da salvação, além do batismo sacramental [de água], não há nenhuma outra maneira de comunicar essa vida à criança que ainda não atingiu a idade da razão. Isso é exatamente o que ensinava São Tomás de Aquino: antes de receber o batismo sacramental, as crianças não têm o batismo de desejo; apenas os adultos podem tê-lo (Summa Theologica, III, q. 73, a.3). Portanto, não, não existe batismo de desejo para o nascituro.

O que fazer quando precisarmos usar o computador?

Não apenas os jovens, mas também adultos de todas as idades são confrontados com o uso necessário desses aparelhos, seja para o trabalho ou para o estudo, e, portanto, devem ter bom senso e ser sinceros com eles mesmos em uma série de aspectos.

 

Primeiramente, é necessário estabelecer algumas medidas práticas que nos ajudam a permanecer no curto e apertado caminho do uso legítimo dessas tecnologias: 

Defina limites de tempo para esse uso. Siga uma rotina diária.

Defina limites para o uso – negócios, trabalho, estudos, e-mail, buscar informações necessárias, algumas compras. Não use para fins de “diversão”. Fique longe das “redes sociais”.

Se buscar informação, uma vez que a tenha encontrado, imprima-a, para que você não fique dependente da tela do computador e, ao mesmo tempo, evite perder tempo com assuntos paralelos, outras páginas, que só servirão para o distrair de seu propósito original.

Peça à sua família e a amigos que o ajudem a manter-se nos limites que você fixou, até puxando-o para fora do computador se for necessário. Para maior segurança moral, dê suas senhas para um membro da família ou um amigo.

Mas também precisamos disciplinar-nos em um nível mais profundo, indagando-nos acerca da vigilância necessária à nossa vida moral e espiritual.

Como eu deveria usar esse aparelho de uma maneira que mantenha meu intelecto aberto ao verdadeiro conhecimento e aos esforços para obtê-lo?

Como manter minha cabeça no lugar através de meios naturais para reter minha liberdade de julgamento?

O que eu devo fazer para evitar cair na preguiça intelectual e acabar sendo negligente com os livros e com a cultura?

Quais regras devo definir para mim mesmo para me manter no plano do estritamente útil e promover relações equilibradas e genuínas com minha família e meus amigos?

Há mudanças que devo fazer para me manter longe de certas ocasiões de pecado?

Refletir sobre um dever de estado omitido, ou praticado em intervalos; enorme quantidade de tempo desperdiçado; tempo demais dedicado à diversão.

Refletir sobre relacionamentos que podem ser perigosos para mim;

Refletir sobre o dano que eu poderia causar (ou que aceito ver sendo causado) à reputação de outros;

Refletir sobre a vida familiar, que pode ser enfraquecida ou comprometida;

Refletir sobre a virtude da pureza;

Refletir sobre a negligência com a vida espiritual.

Apenas se tivermos essa disciplina de vida podemos tirar vantagem do enorme progresso na tecnologia, seja para nosso trabalho, seja para promover a contrarrevolução; Esse uso saudável da tecnologia só é possível se nossa alma estiver treinada no combate espiritual. Se não, ela corre o risco de se perder na torrente de distração e de paixões desordenadas. Sem um verdadeiro aprofundamento da vida interior, desvios vão continuar a invadir nossas vidas. Imponhamo-nos silêncio a nós mesmos, momentos de solidão, de leitura, de reflexão; voltemos à realidade! Entreguemos nosso tempo a Deus

Como controlar o uso de aparelhos eletrônicos e internet?

O computador deve estar em uma área compartilhada da casa – jamais em um cômodo isolado. Dessa maneira, é fácil saber quem o está usando, para que e por quanto tempo. Essa falta de “privacidade” é um bom obstáculo para qualquer uso impróprio.

Nada mais apto a barrar a virtude que distribuir acesso à Internet sem fio para toda a casa, pois isso tornaria fácil que nossas crianças acessassem a Internet em seus celulares, tomassem o nosso emprestado ou o de um amigo que esteja na casa… E, uma hora ou outra, esse uso vai desbordar para o mal.

Limitar o tempo e o propósito do uso. Não podemos nos deixar absorver por esses aparelhos, e precisamos aprender a ligá-los apenas para uma quantidade de tempo especificamente. Quando usamos esses aparelhos, devemos nos perguntar se isso é necessário ou não no momento presente. Como em qualquer comportamento humano onde a paixão poderia dominar, devemos ter um verdadeiro espírito de penitência, e, portanto, devemos restringir-nos em certas coisas.

Na infância, até os 12 anos de idade, não há razão legítima para permitir que uma criança gaste tempo em frente a um computador. Um jogo – um jogo na realidade, se possível fora de casa – é o processo normal de [a criança] despertar para o mundo ao redor dela. Quando ela fica mais velha, acesso ao computador deve servir como iniciação para o que é útil, como trabalhar com editores de texto ou com fotografias. Mas mesmo essas experiências não devem ser prolongadas, nem fora da presença eficiente e atenciosa dos pais.

Restringir o tipo de aparelho ao qual seus filhos têm acesso. Se uma criança tem seu próprio smartphone ou tablet, não deveria ser surpreendente que eles veem filmes ou jogam jogos duvidosos escondidos dos pais!

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