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Art. 7 — Se o conhecimento vespertino é o mesmo que o matutino.

(De Verit., q. 8, a. 16; De Pot., q. 4, a. 2, ad 10, 19, 22)
 
O sétimo discute-se assim. — Parece que o conhecimento vespertino é o mesmo que o matutino.
 
1. — Pois, diz a Escritura (Gn 1, 5): Da tarde e da manhã se fez o dia primeiro. Ora, por dia se entende o conhecimento angélico, como diz Agostinho1. Logo, o mesmo é o conhecimento matutino que o vespertino dos anjos.
 
2. Demais. — É impossível uma potência ter simultaneamente duas operações. Ora, os anjos sempre estão em ato de conhecimento matutino, porque sempre vêem a Deus e as coisas em Deus, conforme a Escritura (Mt 18, 10): Os seus anjos sempre vêem a face de meu Pai, etc. Logo, se o conhecimento vespertino fosse diverso do matutino, de nenhum modo o anjo poderia ter aquele em ato.
 
3. Demais. — Diz a Escritura (1 Cor 13, 10): Mas quando vier o que é perfeito, abolido será o que é em parte. Ora, se o conhecimento vespertino é diferente do matutino, aquele está para este como o imperfeito para o perfeito. Logo, não poderá o conhecimento vespertino existir simultaneamente com o matutino.
 
Mas, em contrário, diz Agostinho que muito difere o conhecimento de qualquer coisa no Verbo de Deus e na sua própria natureza; de modo que o primeiro conhecimento merecidamente pertence ao dia e o segundo, à tarde2.
 
SOLUÇÃO. — Como se disse3, pelo conhecimento vespertino os anjos conhecem as coisas em a natureza própria delas. O que se não deve entender no sentido que eles tirem o seu conhecimento quase da natureza própria das coisas, como se a preposição em indicasse relação com um princípio; pois, segundo vimos, os anjos não tiram das coisas o seu conhecimento. Resta, portanto, que a expressão natureza própria deve ser compreendida relativamente à natureza do objeto conhecido, enquanto este cai sob o conhecimento; e assim chama-se conhecimento vespertino ao pelo qual os anjos conhecem a existência que as coisas têm em a natureza própria delas. E esta eles a conhecem por duplo modo: pelas espécies inatas e pelas razões das coisas existentes no Verbo. Pois, contemplando o Verbo, não somente conhecem a existência que elas têm nele, mas também a que têm a natureza própria; assim como Deus, contemplando-se a si mesmo, conhece o ser que as coisas têm na própria natureza delas. Se, portanto, se considerar como vespertino o conhecimento que têm, contemplando o Verbo, da existência das coisas em a natureza própria, então esse conhecimento é um e essencialmente o mesmo que o matutino, deste diferindo só quanto aos objetos conhecidos. Se, porém, se considerar como vespertino o conhecimento que os anjos têm, por formas inatas, da existência das coisas em a natureza próprias delas, então este difere do matutino. E é este o sentido de Agostinho dizendo que é um conhecimento imperfeito por comparação com o outro.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Assim como, no sentir de Agostinho, o número de seis dias é considerado em relação aos seis gêneros de coisas conhecidas dos anjos; assim, a unidade do dia é considerada em relação à do objeto conhecido, que, todavia, pode ser conhecido por diversos conhecimentos.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — Podem pertencer simultaneamente à mesma potência duas operações, das quais uma se refira à outra; assim, é claro que a vontade quer simultaneamente o fim e os meios; e o intelecto intelige simultaneamente os princípios e, por estes, as conclusões, uma vez a ciência adquirida. Ora, o conhecimento vespertino, nos anjos, referindo-se ao matutino, como diz Agostinho4, nada impede que ambos neles existam simultaneamente.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — A presença do perfeito exclui o imperfeito, que lhe é oposto; assim a fé, referindo-se ao que se não vê, será excluída pela visão presente. Mas a imperfeição do conhecimento vespertino não se opõe à perfeição do matutino; pois, o ser uma coisa conhecida em si mesma não se opõe a ser conhecida na sua causa. E, do mesmo modo, em nada repugna seja uma coisa conhecida por dois meios, dos quais um é mais perfeito e outro mais imperfeito; assim como, para a mesma conclusão, podemos empregar um meio demonstrativo e um dialético. E semelhantemente, o anjo pode conhecer uma mesma coisa pelo Verbo incarnado e pela espécie inata.

  1. 1. Loco cit. Art. Praec. In arg. Sed. Contra.
  2. 2. IV Super Gen. ad litt. (c. XXIII).
  3. 3. Q. 58, a. 6.
  4. 4. Super Gen. ad litt., lib. IV (cap. XXIV).
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