(IV Sent., dist, X, a. 4, qa. 4; Ephes., cap. III, lect. III).
O quinto discute-se assim. — Parece que os anjos conhecem os mistérios da graça.
1. — Pois, dentre todos os mistérios, o mais excelente é o da Incarnação de Cristo. Ora, os anjos o conhecem desde o princípio; pois Agostinho diz, que este mistério estava escondido em Deus, desde os séculos, de modo que fosse conhecido dos principies e potestades celestes. E a Escritura diz (1 Tm 3, 16), que foi visto pelos anjos aquele grande sacramento de piedade. Logo, os anjos conhecem os mistérios da graça
2. Demais. — As razões de todos os mistérios da graça estão contidas na divina sabedoria. Ora, os anjos vêm a sabedoria mesma de Deus, que lhe é a essência. Logo, os anjos conhecem os mistérios da graça.
3. Demais. — Os profetas são instruídos pelos anjos, como se vê em Dionísio. Ora, os profetas conheceram os mistérios da graça, conforme diz a Escritura (Am 3, 7): Porque o Senhor Deus não faz nada sem ter revelado antes o seu segredo aos profetas, seus servos. Logo, os anjos conhecem os mistérios da graça.
Mas, em contrário, ninguém aprende o que conhece. Ora, os anjos, mesmo os mais elevados, interrogam sobre os mistérios divinos da graça e aprendem; pois, como se disse, a Sagrada Escritura introduz certas essências celestes fazendo perguntas ao próprio Jesus e aprendendo a ciência da sua divina operação por nós, e Jesus ensinando-as sem intermediário. E isto mesmo se vê na Escritura (Is 63, 1), onde aos anjos que perguntam: Quem é este que vem de Edom? Jesus responde: Eu, que falo a justiça.
SOLUÇÂO. — Os anjos têm duplo modo de conhecer. – Um, natural, pelo qual conhecem as coisas, quer pela essência deles, quer por espécies inatas. E, por este modo, não podem conhecer is mistérios da graça, que dependem da pura vontade de Deus. Pois, se um anjo não pode conhecer os pensamentos de outro, dependentes da vontade deste, muito menos poderá conhecer o que só da vontade de Deus depende: e assim argumenta a Escritura (1 Cor 2, 11): Ninguém conhece as coisas que são do homem, senão o espírito do homem, que nele mesmo reside; assim também as coisas que são de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus.
Há, porém, outro modo de conhecimento angélico, que os torna felizes, pelo qual vêm o Verbo e neste as coisas. E, por este modo, conhecem os mistérios da graça, não todos, por certo, nem todos os anjos igualmente, mas na medida em que Deus quiser lhes revelar, segundo a Escritura (1 Cor 2, 10): A nós, porém, Deus revelou-o por meio de seu Espírito. E isto de maneira que os anjos superiores, contemplando mais profundamente a divina sabedoria, conhecem, na visão de Deus, mais e mais altos mistérios e os manifestam aos inferiores, iluminando-os. E, desses mistérios, alguns eles os conheceram desde o princípio da sua criação; outros, porém, mais tarde lhes foram revelados, segundo lhes convinham aos deveres.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — De duplo modo podemos nos referir ao mistério da Incarnação de Cristo. Em geral, e assim a todos os anjos foi revelado desde o princípio da beatitude deles. E a razão é que todos os ofícios deles dependem deste princípio geral, como diz a Escritura (Heb 1,14): Em verdade todos os espíritos são uns administradores, enviados para exercer o seu ministério a favor daqueles que hão de receber a herança da salvação; o que se realiza pelo mistério da Incarnação. Por isso é necessário que esse mistério tenha sido revelado a todos comumente, desde o princípio. De outro modo, podemos considerar o mistério da Incarnação quanto à condições especiais. E, assim, nem a todos os anjos foram todas reveladas, desde o princípio; antes, certas só mais tarde foram conhecidas dos anjos, mesmos superiores, como se vê pela citada autoridade de Dionísio.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Embora os anjos bem-aventurados contemplem a divina sabedoria, todavia, não a compreendendo, não conhecem necessariamente tudo o que ela encerra.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Tudo o que os profetas conheceram sobre o mistério da graça, pela divina revelação, mais excelentemente foi revelado aos anjos. E embora Deus tivesse revelado, em geral, aos profetas, o que haveria de fazer para a salvação do gênero humano, contudo, nesta matéria, os Apóstolos conheceram os profetas, conforme está na Escritura (Ef 3, 4): Por onde podeis, lendo-as, conhecer a inteligência que tenho do mistério de Cristo, o qual em outras gerações não foi conhecido dos filhos dos homens, assim como agora tem sido revelado aos seus santos Apóstolos. Mas ainda, dentre os próprios profetas, os posteriores conheceram o que não conheceram os anteriores, segundo a Escritura (118, 100): Mais que os anciãos entendi; e Gregório diz que na sucessão dos tempos acentuou-se o aumento do conhecimento divino.