(Supra, q. 8, a. 2, ad 2; infra, q. 112, a. 1; I Sent., dist. XXXVII, q. 3, a. 2; IV dist. X, q. 1, a. 3, qa. 2; Qu. De Anima, a. 10, ad 18).
O segundo discute-se assim. — Parece que o anjo pode estar em vários lugares simultaneamente.
1. — Pois, não é menor a virtude do anjo que a da alma. Ora, a alma está simultaneamente em vários lugares, por estar toda em qualquer parte do corpo, como diz Agostinho. Logo, o anjo pode estar em vários lugares simultaneamente.
2. Demais. — O anjo está no corpo assumido; e, como tal corpo é contínuo, resulta que o anjo está em qualquer parte dele. Ora, as diversas partes deste lhe determinam os diversos lugares. Logo, o anjo está simultaneamente em vários lugares.
3. Demais. — Damasceno diz que o anjo opera onde está. Ora, Às vezes ele opera simultaneamente em vários lugares, como se vê do anjo que subverteu Sodoma. Logo, o anjo pode estar em vários lugares simultaneamente.
Mas em contrario diz Damasceno, que os anjos, estando no céu, não estão na terra.
SOLUÇÃO. — O anjo tem virtude e essência finitas. Pelo contrario, a essência e a virtude divina é infinita e é a causa universal de tudo; por isso, tal virtude atinge todos os seres em toda parte e não só em alguns lugares. Porém, a virtude do anjo, sendo finita, não atinge todos os seres, senão um ser determinado. Ora, é necessário que o ser relativo a uma virtude, o seja como ser uno. Assim, pois, como o universo dos seres se refere, como dotados de unidade, à universal virtude de Deus, assim qualquer ser particular se refere, como um ser uno, à virtude angélica. Por onde, o anjo, estando em um lugar pela aplicação de sua virtude a esse lugar, segue-se que não está em toda parte, nem em muitos lugares, mas em um somente.
Mas, neste ponto, alguns se enganaram. Assim, certos, não podendo furtar-se à imaginação, conceberam a indivisibilidade angélica como a do ponto; e por isso acreditaram que o anjo não pode estar senão num lugar como o do ponto. — Porém manifestamente se enganaram. Pois o ponto é um indivisível que tem uma situação, ao passo que o anjo é um indivisível existente fora do gênero da quantidade e da situação. Por onde, não é necessário se lhe determine um lugar indivisível pela situação, mas sim divisível ou indivisível, maior ou menor segundo aplique voluntariamente e mais ou menos a sua virtude a um corpo. E assim a todo corpo ao qual ele se aplicar, pela sua virtude, corresponder-lhe-á um lugar.
Nem contudo é necessário, se algum anjo move o céu, que esteja em toda parte. — Primeiro, porque a sua virtude não se aplica senão ao que primariamente move. Ora, é uma a parte do céu na qual primariamente está o movimento, a saber, a do oriente. Por isso, o Filósofo atribui à parte do oriente a virtude de motor dos céus. — Segundo, porque não ensinam os filósofos que uma substância separada mova todos os orbes imediatamente. E, por isso, não é necessário esteja ela em toda parte.
Por onde é claro que estar em um lugar convém diversamente ao corpo, ao anjo e a Deus. Pois, o corpo está em um lugar circunscritivamente, porque é medido pelo lugar. O anjo, porém, não circunscritivamente, por não ser medido pelo lugar, mas definitivamente, pois se está em um lugar é que não está noutro. Deus, enfim, nem circunscritiva nem definitivamente, pois está em toda parte.
E daqui se deduz facilmente a resposta às objeções; pois, tudo aquilo ao que se aplica a ação do anjo, imediatamente, se lhe reputa por lugar, embora seja este contínuo.