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Art. 5 – Se ao Filho convém ser enviado invisivelmente.

(I Sent., dist. XV, q. 4. a. 1; IV Cont. Gent., cap. XXXIII).
 
O quinto discute-se assim. – Parece que não convém ao Filho ser enviado invisivelmente. 
 
1. – Pois, a missão invisível da Pessoa divina depende dos dons da graça. Ora, todos os dons da graça pertencem ao Espírito Santo, segundo a Escritura (1 Cor 12, 11): Todas estas coisas obra só um e o mesmo Espírito. Logo, o Espírito Santo somente é que é invisivelmente enviado.
 
2. Demais. – A missão da divina Pessoa se faz pela graça santificante. Ora, os dons pertencentes à perfeição do intelecto não são dons da graça santificante, pois podem ser possuídos sem a caridade, conforme a Escritura (1 Cor 13, 2): E se eu tiver o dom de profecia e conhecer todos os mistérios e quanto se pode saber, e se tiver toda a fé, até o ponto de transportar montes, e não tiver caridade, não sou nada. Procedendo, pois, o Filho como Verbo do intelecto, resulta que lhe não convém ser invisivelmente enviado.
 
3. Demais. – A missão da Pessoa divina é uma processão, como já se disse1. Ora, uma é a processão do Filho, outra, a do Espírito Santo. Logo, também são diferentes as missões, se ambos são enviados. E então uma delas será supérflua, por ser suficiente uma para santificar a criatura.
 
Mas, em contrário, diz a Escritura a respeito da Sabedoria divina (Sb 9, 10): Envia-a dos teus santos céus e do trono da tua grandeza.
 
Solução. – Pela graça santificante, toda a Trindade habita em a nossa alma, segundo a Escritura (Jo 14, 23): Nós viremos a ele e faremos nele morada. Ora, o ser a Pessoa divina enviada a alguém, pela graça invisível, significa um novo modo dessa divina Pessoa inabitar; e a sua origem, de outra Pessoa. Por onde, convindo tanto ao Filho como ao Espírito Santo, inabitar em alguém pela graça e o originar-se de outrem, a ambos convém o serem enviados invisivelmente. Porém ao Pai, embora lhe convenha o inabitar em nós pela graça, contudo não lhe convém o originar-se de outrem e, por conseqüência, nem o ser enviado.
 
Donde a resposta à primeira objeção. – Embora todos os dons, como tais, sejam atribuídos ao Espírito Santo, por ser por essência o dom primeiro, como Amor, conforme dissemos2, todavia, alguns dons, nas suas noções próprias, são atribuídos ao Filho por uma certa apropriação, a saber, a que pertence ao intelecto. E quanto a tais dons é que se atribui a missão ao Filho. Por onde, diz Agostinho, que o Filho é enviado a cada um invisivelmente, quando por cada um é conhecido e percebido3.
 
Resposta à segunda. –A alma se conforma com Deus pela graça. Por onde, se alguma Pessoa divina for enviada a alguém, pela graça, necessariamente esta há-se de assimilar com a Pessoa divina enviada, por algum dom da graça. E sendo o Espírito Santo amor, a alma com ele se assimila pelo dom da caridade. Por onde, relativamente ao dom da caridade é que se considera a missão do Espírito Santo. O Filho, porém, é o Verbo, não de qualquer modo, mas como espirador do Amor. Por isso diz Agostinho: O Verbo que pretendemos insinuar é conhecimento com amor4. Logo, o Filho é enviado, não quanto a qualquer perfeição do intelecto, mas quanto a uma instrução do intelecto tal que nos faça prorromper nos afetos do amor, como diz a Escritura (Jo 6, 45): Todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu, e vem a mim. E noutro lugar (Sl 38, 4): Na minha meditação se encenderá fogo. Donde o dizer Agostinho sinaladamente, que o Filho é enviado àquele por quem é conhecido e percebido; pois a percepção significa uma notícia experimental. E essa é a que se chama propriamente sapiência, ou ciência saborosa, segundo a Escritura (Ecle 6, 23): A sapiência que faz o homem inteligente é segundo o nome que tem.
 
Resposta à terceira. –A missão importa a origem da Pessoa enviada e a inabitação em alguém pela graça, como dissemos5. Se, pois, falamos da missão, quanto à origem, então a missão do Filho se distingue da do Espírito Santo, assim como a geração se distingue da processão. Se porém quanto ao efeito da graça, então as duas missões se comunicam radicalmente pela graça. Mas se distinguem pelos efeitos da graça, que são a iluminação do intelecto e a ardência do afeto. Por onde, é manifesto que uma pode existir sem a outra, porque nenhuma existe sem a graça santificante; nem uma pessoa se separa de outra.

  1. 1. Q. 43, a. 1, 4.
  2. 2. Q. 38, a. 2
  3. 3. IV de Trin., c. 20.
  4. 4. IX libro de Trin., c. 10.
  5. 5. Q. 43, a. 1, 3.
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