(Supra. Q. 3, a. 3; I Sent., dist. XXXIV, q. 1, a. 1; III dist. VI, q. 2, ad 2).
O primeiro discute-se assim. – Parece que em Deus não é essência o mesmo que pessoa.
1. – Pois, nos seres em que essência é o mesmo que pessoa ou suposto, necessariamente há, para uma natureza, só um suposto, como é claro em todas as substâncias separadas. Porque, de causas idênticas realmente, uma não pode ser multiplicada sem que as outras também o sejam. Ora em Deus, há uma só essência e três Pessoas, como do sobredito resulta. Logo, essência não é o mesmo que pessoa.
2. Demais. – De um mesmo sujeito não se pode fazer uma afirmação e uma negação simultaneamente e da mesma vez. Ora, a afirmação e a negação verificam-se na essência e na pessoa; pois, esta é distinta e aquela não o é. Logo, não se identificam pessoa e essência.
3. Demais. – Nada a si mesmo é sujeito. Ora, a pessoa é sujeita à essência, sendo por isso chamada suposto ou hipóstase. Logo, não se identificam pessoa e essência.
Mas, em contrário, Agostinho: O mesmo é dizer pessoa do Pai e substância do Pai.
Solução – Aos que refletirem na simplicidade divina esta questão não padece dúvidas. Pois já demonstramos que a divina simplicidade exige em Deus a identidade de essência e de suposto; este, nas substâncias intelectuais, não difere da pessoa. Mas a dificuldade surge, de conservar a essência a sua unidade, embora multiplicadas as Pessoas divinas. E por dizer Boécio que a relação multiplica a Trindade das pessoas, afirmaram alguns que, em Deus, a essência e a pessoa diferem, do mesmo modo por que diziam que as relações são assistentes, considerando-as somente como relativas a um termo e não como realidades.
Mas, como antes já demonstramos, se bem que as relações existam acidentalmente nas coisas criadas, em Deus são a própria essência divina. Donde se segue que, em Deus, a essência não difere realmente da pessoa, embora as Pessoas entre si se distingam realmente. Pois pessoa, como dissemos, significa relação enquanto subsistente na natureza divina. Porém a relação, comparada com a essência, não difere realmente, senão só racionalmente; mas comparada com a relação oposta, dela se distingue realmente em virtude da sua oposição. Assim, permanece una a essência e três, as Pessoas.
Donde a resposta à primeira objeção. – Nas criaturas, não podem os supostos distinguir-se pelas relações, mas hão necessariamente de distinguir-se pelos princípios essenciais; porque as relações, nas criaturas, não são subsistentes.Porém em Deus as relações são subsistentes; logo, os supostos podem distinguir-se enquanto mutuamente se opõem. Mas nem por isso se distingue a essência; porque as próprias relações mutuamente se não distinguem, enquanto realmente idênticas à essência.
Resposta à segunda. – Diferindo em Deus a essência e a pessoa, pelo modo de conceber da inteligência, segue-se que um atributo se pode afirmar de uma, que se nega de outra; e por conseguinte suposta uma, não se supõe a outra.
Resposta à terceira. – Impomos nomes a Deus ao modo das coisas criadas, como dissemos. E como as naturezas das coisas criadas se individuam pela matéria, sujeita à natureza específica, resulta que os indivíduos se chamam sujeitos, supostos ou hipóstases. Donde vem que também as Pessoas divinas se chamam supostos ou hipóstases, sem que nelas haja qualquer suposição ou sujeição real.