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Art. 1. – Se o nome de Espírito Santo é nome próprio de alguma das pessoas divinas

(I Sent., dist. X, a. 4; I Cont. Gent., cap. XIX; Compend. Theol., cap. XLVI, XLVII).
 
O primeiro discute-se assim. – Parece que o nome de Espírito Santo não é nome próprio de nenhuma das Pessoas divinas.
 
1. – Pois, nenhum nome comum às três Pessoas é próprio de qualquer delas. Ora, o nome Espírito Santo é comum às três Pessoas. Assim, Hilário1 mostra que o Espírito Santo de Deus, umas vezes, significa o Pai, como quando diz a Escritura (Is 61, 1): O Espírito do Senhor repousou sobre mim, outras, o Filho, como quando diz (Mt 12, 28): Lanço fora os demônios pela virtude do Espírito de Deus, mostrando que expulsa os demônios pelo poder da sua natureza; outras ainda, o Espírito Santo, como neste lugar (Jl 2, 28): Eu derramarei o meu espírito sobre toda a carne. Logo, o nome de Espírito Santo não é próprio de nenhuma das Pessoas divinas.
 
2. Demais. – Os nomes das Pessoas divinas predicam-se relativamente, como afirma Boécio2. Ora, o nome de Espírito Santo não se predica relativamente. Logo, não é próprio de Pessoa divina.
 
3. Demais. – Por ser nome de uma das Pessoas divinas, o Filho não se pode predicar de qualquer. Ora, diz-se espírito deste ou daquele homem, como se vê pela Escritura (Nm 11, 17): Disse o Senhor a Moisés: Tirarei do teu espírito e lho darei a eles; e noutro lugar (IV Rg 2, 15): O espírito d’Elias repousou sobre Eliseu. Logo, Espírito Santo não parece ser nome próprio de nenhuma das Pessoas divinas.
 
Mas, em contrário, a Escritura (1 Jo 5, 7): São três os que dão testemunho no céu: O Pai, o Verbo e o Espírito Santo. Pois, como diz Agostinho, quando se pergunta – Que três? – a resposta é – As três Pessoas3. Logo, Espírito Santo é nome de Pessoa divina.
 
Solução. – Havendo em Deus duas processões, a que é ao modo do amor não tem nome próprio, como dissemos4. Por onde, as relações fundadas nessa processão são inominadas, como também dissemos5. E por isso, o nome da Pessoa procedente desse modo não tem nome próprio, pela mesma razão. Mas, isso como o falar usual aplicou certos nomes para significar as referidas relações, quando lhes chamamos processão e espiração, que, na sua significação própria, mais exprimem atos nocionais, que relações; assim também, para exprimir a Pessoa divina procedente por amor, o uso da Escritura aplicou o nome de Espírito Santo.
 
E da razão desse modo de falar podemos dar dupla explicação. – A primeira é a própria comunidade da pessoa chamada Espírito Santo; pois, como diz Agostinho, sendo o Espírito Santo comum às duas outras Pessoas, o que destas duas se diz comumente, dele se diz propriamente. Pois, o Pai, é espírito, e também o Filho; o Pai é santo e também o Filho6. – A segunda é a sua significação própria. Pois, o nome de espírito, nas coisas corpóreas, significa certo impulso e certa moção; assim chamamos espírito ao sopro e ao vento. Ora, é próprio do amor mover e impelir a vontade do amante para o amado. E quanto à santidade, ela se atribui à coisas ordenadas para Deus. E como a Pessoa divina procede pelo amor por que Deus é amado, convenientemente ela se chama Espírito Santo.
 
Donde a resposta à primeira objeção. – O que chamamos Espírito Santo, levando em conta a força das duas expressões, é comum a toda a Trindade. Pois, o nome de espírito significa a imaterialidade da substância divina, porque o espírito corpóreo é invisível e pouco material; por isso, a todas as substâncias imateriais e invisíveis damos o nome de espírito. E quando dizemos santo, queremos significar a pureza da divina bondade. Se porém tomarmos as duas palavras – Espírito Santo – como uma só expressão, nesse caso, pelo uso da Igreja, Espírito Santo é empregado para significar uma das três Pessoas, i. é, a procedente por amor, pela razão já dada.
 
Resposta à segunda. – Embora o ao que chamo Espírito Santo não se predique relativamente, todavia é tomado como nome relativo, quando usado para significar a Pessoa distinta das outras só pela relação. Contudo, pode-se também compreender nesse nome alguma relação, significando então Espírito o que é por assim dizer espirado.
 

Resposta à terceira. – Pelo nome de Filho se entende só a relação do que vem de um princípio, com esse princípio; mas pelo nome de Pai se entende a relação do princípio e, semelhantemente, pelo de Espírito, enquanto importa uma certa força motora. Ora, a nenhuma criatura convém ser princípio em relação a qualquer das Pessoas divinas: mas, ao inverso. Por onde, podemos dizer Pai nosso e Espírito nosso, não porém, Filho nosso.

  1. 1. VIII de Trin., num 23, 25.
  2. 2. De Trin., c. 5.
  3. 3. VII de Trin., c. 4.
  4. 4. Q. 27, a. 4 ad 3.
  5. 5. Q. 28, a. 4.
  6. 6. XV de Trin., c. 19.
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