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Evidência de planejamento inteligente - um resumo de "A caixa preta de Darwin"

[N. da P. o título original deste texto é “Evidence for Intelligent Design from Biochemistry”, e se trata da transcrição de uma palestra dada pelo autor no Discovery Institute, em 1996. O subtítulo é de nossa autoria. Em muitas passagens — mas não em todas — onde o autor reproduzia textualmente passagens de “A Caixa Preta de Darwin”, reproduzimos nós os trechos correspondentes da tradução brasileira, de Ruy Jungmann (A Caixa Preta de Darwin, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1997). Omitimos na tradução a seção dedicada ao problema da coagulação do sangue para não afugentar leitores não habituados com a literatura científica.]
 
Uma série de olhos
 
Como nós vemos? No século XIX, a anatomia do olho era conhecida detalhadamente, e suas características assombravam todos que estivessem familiarizados com ela. Os cientistas da época observaram corretamente que, se uma pessoa fosse tão infortunada a ponto de lhe faltar uma das numerosas partes do olho, tal como a lente, a íris ou os músculos oculares, o resultado inevitável seria uma grave perda da visão ou completa cegueira. Assim, concluía-se que o olho apenas poderia funcionar se estivesse quase intacto.
 
Charles Darwin também estava bem informado sobre o olho. Em A Origem das Espécies, Darwin lidou com muitas objeções à sua teoria da evolução pela seleção natural, e discutiu o problema do olho em uma seção do livro apropriadamente intitulada “órgãos de extrema perfeição e complexidade”. De algum modo, para que a evolução fosse crível, Darwin tinha de convencer o público que órgãos complexos poderiam ser formados gradualmente, em um processo de tipo passo-a-passo.
 
Ele o conseguiu de forma brilhante. Inteligentemente, Darwin não tentou descobrir o caminho real que a evolução pudesse ter tomado para formar o olho. Ao invés, ele apontou animais modernos com diferentes tipos de olhos, abrangendo do simples ao complexo, e sugeriu que a evolução do olho humano poderia ter envolvido órgãos similares como intermediários.
 
Eis aqui uma paráfrase do argumento de Darwin: embora os seres humanos tenham olhos complexos do tipo-câmera, muitos animais sobrevivem com menos. Algumas criaturas minúsculas possuem apenas um grupo simples de células pigmentadas, ou pouco mais que um ponto sensível à luz. Mal se pode dizer, deste simples arranjo, que confere a visão, mas ele serve para perceber luz e escuridão, e assim atende as necessidades das criaturas. O órgão sensível à luz de algumas estrelas-do-mar, por exemplo, é algo mais sofisticado. Seu olho se situa em uma região rebaixada, o que permite ao animal perceber de que direção lhe chega a luz, uma vez que a curvatura do rebaixamento bloqueia a luminosidade em algumas direções. Se a curvatura se tornar mais pronunciada, o senso de direção do olho melhora. Mas a maior curvatura reduz a quantidade de luz que chega ao olho, reduzindo sua sensibilidade. A sensibilidade pode ser aumentada pela colocação de material gelatinoso na cavidade para servir de lente. Alguns animais modernos têm olhos com tais lentes grosseiras. Melhorias gradativas na lente poderiam, então, prover uma imagem de crescente acuidade, conforme o determinado pelas necessidades do ambiente do animal.
 
Utilizando uma argumentação como esta, Darwin convenceu muitos de seus leitores de que existia uma trilha evolucionária do mais simples órgão de sensibilidade à luz ao sofisticado olho-câmera do homem. Mas a questão continua: Como começou a visão? Darwin persuadiu boa parte do mundo de que o olho moderno evoluiu gradualmente de uma estrutura mais simples, mas sequer tentou explicar de onde surgiu esse ponto de partida — o simples ponto sensível à luz. Ao contrário, Darwin dispensou a questão da origem última do olho.
 
Como um nervo vem a ser sensível à luz é uma questão que pouco mais nos interessa do que a de como se originou a própria vida. Darwin tinha uma excelente razão para recusar a questão: ela ultrapassava completamente a ciência do século dezenove. O funcionamento do olho; ou seja, o que acontece quando um fóton de luz atinge a retina, simplesmente não se podia responder na época. Com efeito, nenhuma questão sobre os mecanismos fundamentais da vida poderia ser respondida. Como os músculos dos animais causam o movimento? Como funciona a fotossíntese? Como se extrai energia dos alimentos? Como o corpo combate as infecções? Ninguém sabia.
 
Para Darwin, a visão era uma caixa preta, mas hoje, após o árduo trabalho cumulativo de muitos bioquímicos, nós estamos nos aproximando das respostas à questão da visão. Eis aqui um breve panorama da bioquímica da visão:
 
[N. da P. a explicação seguinte, profusa em termos técnicos, é aqui oferecida como ilustração. O leitor que assim preferir poderá saltar os três parágrafos seguintes sem prejuízo para a compreensão do argumento do autor. O mesmo vale para o exemplo do cílio, dado mais adiante]
 
Quando a luz atinge a retina, um fóton interage com uma molécula chamada 11-cis-retinal, que se rearranja em picosegundos e se transforma em transretinal. A mudança na forma da molécula retinal força uma mudança na forma da proteína rodopsina, à qual a retinal está fortemente ligada. A metamorfose da proteína altera seu comportamento, fazendo-a aderir a uma outra proteína chamada transducina. Antes de se deparar com a metarrodopsina II, a transducina liga-se fortemente com uma pequena molécula chamada GDP. Mas, quando a transducina interage com a metarrodopsina II, o GDP se despreende e uma molécula chamada GTP cola-se à transducina. (A GTP mantém uma estreita ligação com a GDP, mas é criticamente diferente dela).
 
A GTP-transducina-metarrodopsina II liga-se agora a uma proteína chamada fosfodiesterase, localizada na membrana interna da célula. Quando ligada à metarrodopsina II e a seu grupo, a fosfodiesterase adquire a capacidade química de “cortar” uma molécula chamada cGMP (um elemento químico aparentado a ambas GDP e GTP). Inicialmente, há grande número de moléculas cGMP na célula, mas a fosfodiesterase reduz sua concentração, como a tampa puxada de um ralo diminui o nível de água em uma banheira.
 
Outra membrana da proteína que se liga à cGMP é denominada de canal iônico. Ela funciona como um portão que regula o número de íons de sódio na célula. Normalmente, o canal permite que íons de sódio entrem na célula, enquanto uma proteína separada os bombeia ativamente para fora. A ação dupla do canal iônico e da bomba mantém o nível de íons de sódio  na célula dentro de uma faixa estreita. Quando o volume de cGMP é reduzido devido à divisão efetuada pela fosfodiesterase, o canal iônico se fecha, fazendo com que seja reduzida a concentração celular de íons de sódio positivamente carregados. Esse fato ocasiona um desequilíbrio de carga de um lado a outro da membrana da célula que, enfim, faz com que uma corrente seja transmitida pelo nervo óptico até o cérebro. O resultado, quando interpretado pelo cérebro, é a visão.
 
A explicação acima é apenas uma visão muito superficial da bioquímica da visão. Em última análise, no entanto, é isto o que significa “explicar” a visão. Este é o nível de explicação que a ciência biológica tem de ambicionar. Para compreender verdadeiramente uma função, deve-se entender em detalhe cada passo relevante no processo. Os passos relevantes no processo biológico ocorrem, em última análise, no nível molecular. Assim, uma explicação satisfatória de um fenômeno biológico, tal como a visão, a digestão ou a imunidade, tem de incluir sua explicação molecular.
 
Agora que a caixa preta da visão foi aberta, não é mais suficiente para uma “explicação evolucionista” de tal magnitude considerar apenas as estruturas anatômicas de olhos inteiros, como o fez Darwin no século XIX, e como os divulgadores da evolução continuam a fazer hoje em dia1. Cada um dos passos e estruturas anatômicas que Darwin julgava tão simples, envolvem, na verdade, processos bioquímicos de espantosa complexidade, que não podem ser ocultados com retórica. Os simples passos de Darwin se revelaram saltos enormes entre máquinas cuidadosamente construídas. A bioquímica, assim, lança um desafio liliputiano a Darwin. A caixa preta das células se abriu, e o mundo liliputiano que se revela com assombrosa complexidade, precisa ser explicado.
 
A Complexidade Irredutível
 
Como poderemos decidir se a teoria de Darwin pode explicar a complexidade da vida molecular? O próprio Darwin estabeleceu o critério. Segundo ele:
 
“Se pudesse ser demonstrada a existência de qualquer órgão complexo que não pudesse em absoluto ter sido formado por modificações numerosas, sucessivas e ligeiras, minha teoria cairia por completo. Mas que tipo de sistema biológico poderia não ter sido formado por modificações numerosas, sucessivas e ligeiras?“ [Darwin, C. (1872), Origin of Species, 6a. ed. (1988), New York University Press, Nova York, pag. 154.]
 
Ora, para começar, um sistema que seja irredutivelmente complexo. Complexidade irredutível é apenas uma frase pomposa que uso para me referir a um determinado sistema composto de diversas partes que interagem entre si, e no qual a retirada de qualquer uma das partes faria com que o sistema deixasse de funcionar.
 
Vejamos um exemplo de complexidade irredutível tirado de nossa experiência do dia-a-dia: a simples ratoeira. As ratoeiras que minha família utiliza consiste de algumas partes: 1.) uma tabula lisa de madeira para servir de base; 2.) um martelo (precursor) de metal, que serve para esmagar o pequeno rato; 3.) uma mola com as extremidades tencionadas para fazer pressão contra a tábua e o martelo quando a armadilha está armada; 4.) uma trava sensível, que dispara quando nela é aplicada leve pressão; e 5.) uma barra de metal ligada à trava e que prende o martelo quando a ratoeira é armada. Contudo, não é possível capturar uns poucos ratos com apenas uma tábua; e ir capturando mais ao lhe acrescentar uma mola; e mais ainda ao lhe acrescentar, enfim, uma trava. Todas as peças da ratoeira têm de estar em seu devido lugar antes de você capturar qualquer rato. A ratoeira, portanto, é irredutivelmente complexa.  
 
 
 
Um sistema de complexidade irredutível não pode ser produzido diretamente por numerosas, sucessivas e ligeiras modificações de um sistema precursor, pois qualquer precursor de um sistema de complexidade irredutível em que falte uma parte, por definição, não funciona. Um sistema biológico de complexidade irredutível, se há tal coisa, será um poderoso desafio à evolução darwiniana. Uma vez que a seleção natural somente pode escolher sistemas que já estejam em funcionamento, então, se um sistema biológico não pode ser produzido gradualmente, ele terá de surgir como uma unidade integrada, de uma só vez, para que a seleção natural tenha algo para afetar.
 
A demonstração de que um sistema seja irredutivelmente complexo não é prova absoluta da impossibilidade de existir alguma rota gradual para sua produção. Embora um sistema de complexidade irredutível não possa ser produzido diretamente, não se pode excluir totalmente a possibilidade de uma rota indireta e tortuosa. Porém, na medida em que cresce a complexidade de um sistema interativo, a probabilidade de uma tal rota indireta despenca enormemente. E, na medida em que cresce o número de sistemas biológicos com complexidade irredutível não-explicados, nossa confiança de que o critério de fracasso de Darwin foi preenchido cresce ao máximo permitido pela ciência2.
 
O Cílio
 
Existem, contudo, sistemas bioquímicos de complexidade irredutível? Sim, ocorre de muitos existirem. Um bom exemplo é o cílio. Os cílios são estruturas que parecem cabelos na superfície de muitas células de animais e de plantas rasteiras, que são capazes de mover fluido sobre a superfície da célula ou “remar” células isoladas através de um fluido. Em seres humanos, por exemplo, as células revestindo a região respiratória têm, cada qual, cerca de 200 cílios que batem em sincronia para empurrar muco para a garganta a fim de ser eliminado. Qual é a estrutura de um cílio? Um cílio se compõe de um feixe de fibras denominado axonema. Um axonema contém um anel de nove microtúbulos duplos ao redor de um par central de microtúbulos. Cada dupla externa consiste, por sua vez, de um anel de 13 filamentos (subfibra A) fundidos a um conjunto de 10 filamentos (subfibra A). Os filamentos dos microtúbulos se compõe de duas proteínas chamadas de tubulina alfa e beta. Os 11 microtúbulos que formam um axonema se mantém unidos por três tipos de conectores: as subfibras A se unem aos microtúbulos centrais por meio de raios radiais; as duplas externas de microtúbulos adjacentes se unem por meio dos enlaces de uma proteína sumamente elástica chamada nexina; e os microtúbulos centrais estão unidos por uma ponte de enlace. Finalmente, cada subfibra A leva dois braços, um interior, outro exterior, ambos contendo uma proteína chamada dineína.
 
Mas como trabalha um cílio? Os experimentos têm indicado que o movimento ciliar é resultado da andadura quimicamente induzida dos braços de dineína sobre um microtúbulo da subfibra B de um segundo microtúbulo, de modo que os dois microtúbulos se deslizem respectivamente. Os enlaces cruzados de proteína entre os microtúbulos em um cílio intacto impedem que os microtúbulos colidantes se deslizem um sobre o outro, mas com uma certa distância. Assim, estes enlaces cruzados convertem o movimento de deslizamento induzido pela dineína em um movimento de todo axonema.
 
 
Consideremos agora as implicações disso. Que componentes são necessários para que um Cílio funcione? O movimento ciliar certamente precisa de microtúbulos; caso contrário, não haveria filamentos para deslizar. Além disso, precisa haver um motor, senão os microtúbulos de um cílio permaneceriam rijos e inertes.  Além disso, é necessário que haja enlaces para puxar filamentos adjacentes, convertendo o movimento de deslizamento em movimento de curvatura e impedindo que a estrutura desmorone. Todas estas partes são necessárias para executar uma função: o movimento ciliar. Assim como a ratoeira não funciona a não ser que todas as suas partes constituintes estejam presentes, o movimento ciliar simplesmente não existe na ausência de microtúbulos, conectores e motores. Portanto, podemos concluir que o cílio é um sistema de complexidade irredutível; uma enorme chave-inglesa jogada na presumida máquina da evolução gradual darwiniana.
 
A Literatura Profissional
 
Outros exemplos de complexidade irredutível abundam nas células, incluindo aspectos do transporte de proteína, flagelo bacteriano, transporte de elétron, telômeros, fotossíntese, regulação de transcrição e muito mais. Exemplos de complexidade irredutível podem ser encontrados em praticamente qualquer página de um livro de bioquímica. Mas se estas coisas não podem ser explicadas pela evolução darwiniana, como tem a comunidade científica considerado estes fenômenos dos últimos quarenta anos? Um bom lugar para procurar uma resposta a esta questão é o Journal of Molecular Evolution (JME), revista com alto padrão científico, editada por figuras exponenciais no campo, criada especificamente para lidar com o tópico de como ocorre a evolução em nível molecular. Em um número recente da JME, foram publicados onze artigos; destes, todos onze tratavam apenas da comparação de proteínas ou seqüências de ADN. Uma comparação de seqüências é uma comparação de aminoácido por aminoácido de duas proteínas diferentes, ou uma comparação de nucleóide por nucleóide de duas partes distintas de ADN, anotando as posições nas quais elas são idênticas ou similares, e as posições onde não o são.
 
Embora seja útil para determinar possíveis linhas de descendência, o que é uma questão interessante por si só, a comparação de seqüências não pode demonstrar como um complexo sistema bioquímico veio a funcionar, o que é a questão que aqui mais nos interessa. Por modo de analogia, os manuais de instrução para dois modelos diferentes de computadores produzidos pela mesma firma, podem conter palavras, frases e até parágrafos idênticos, sugerindo um ancestral comum (tal um mesmo autor escreveu ambos manuais), mas a comparação das seqüências de letras nos manuais de instrução jamais nos dirão se um computador pode ser produzido passo-a-passo desde de uma máquina de escrever.
 
Nenhum dos artigos discutia modelos detalhados de intermediários no desenvolvimento de complexas estruturas biomoleculares. Nos últimos dez anos, a JME publicou mais de mil artigos. Destes, cerca de cem discutiam a síntese química das moléculas, julgada necessária para a origem da vida; cerca de cinqüenta propunham modelos matemáticos para melhorar a análise das seqüências; e cerca de 800 eram análises de seqüências. Não havia um único artigo discutindo modelos detalhados para intermediários no desenvolvimento de complexas estruturas biomoleculares. Isto não é uma peculiaridade da JME. Não se pode encontrar nenhum artigo que discuta modelos detalhados para intermediários no desenvolvimento de complexas estruturas biomoleculares em publicações tais como Proceedings of the National Academy of Science, Nature, ScienceJournal of Molecular Biology e, até onde sei, em nenhuma outra revista.
 
“Publique ou pereça” é um provérbio que os membros da comunidade científica levam a sério. Se você não publicar seu trabalho para que o restante da comunidade o avalie, então você não tem nada a fazer nessa comunidade, e, se já não tiver o tempo de serviço que garante a estabilidade, dela será banido. Ora, o provérbio também pode ser aplicado a teorias. Se uma teoria é dita como explicação de algum fenômeno, mas não proporciona nem mesmo uma tentativa de demonstração, ela deve ser banida. A despeito das comparações de seqüências e da construção de modelos matemáticos, a evolução molecular nunca tratou da questão de como estruturas complexas surgiram. Na verdade, a teoria da evolução molecular darwiniana não foi publicada, e portanto deve perecer.
 
O Reconhecimento do Planejamento
 
O que está ocorrendo? Imagine uma sala em que um corpo jaz esmagado, plano como uma panqueca. Uma dúzia de detetives engatinham-se ao redor, procurando com lupas alguma pista que leva a identidade do criminoso. No meio da sala, próximo ao corpo, está um imenso elefante cinza. Enquanto engatinham, os detetives cuidadosamente evitam esbarrar nas perdas no paquiderme, e jamais erguem o olhar para ele. Após algum tempo, os detetives se frustram com sua falta de progresso, mas insistem, e ainda mais atentamente examinam o chão. Ora, os livros dizem que os detetives têm de “encontrar o seu homem”, e por isso eles nunca pensam em elefantes.
 
Há um elefante numa sala cheia de cientistas que procuram explicar o surgimento da vida. O elefante se chama “Planejamento Inteligente”. Para alguém que não se sente obrigado a restringir sua pesquisa a causas não-inteligentes, a conclusão óbvia é a de que muitos sistemas bioquímicos foram planejados. Eles não foram formados pelas leis da natureza, pelo acaso ou pela necessidade. Ao contrário, eles foram planejados. O planejador sabia como os sistemas seriam quando tivessem sido concluídos, e tomou medidas para torna-los realidade logo em seguida. A vida na terra, em seu nível mais fundamental, em seus componentes mais importantes, é o resultado de uma atividade inteligente.
 
A conclusão da existência de um planejamento inteligente segue-se de modo natural dos próprios dados, não de livros sagrados ou crenças sectárias.  A dedução de que os sistemas foram planejados por um agente inteligente é um processo trivial que não requer novos princípios de lógica ou ciência. Ao contrário, decorre simplesmente do trabalho árduo realizado pela bioquímica nos últimos quarenta anos, combinado com o exame da maneira na qual chegamos todos os dias a conclusões sobre a existência de planejamento.
 
O que é um “planejamento”? O planejamento é tão somente o arranjo intencional das partes. A questão científica é: Como podemos verificar a existência de planejamento? Isto se pode fazer de várias maneiras, mas o planejamento pode mais facilmente ser deduzido em objetos mecânicos. Enquanto se caminha em um depósito de sucata, se pode observar porcas e parafusos, pedaços de plástico e vidro, em sua maioria espalhados, alguns empilhados, os demais apoiados uns sobre os outros. Suponhamos que se observe uma pilha que parecia especialmente compacta e, ao se levantar uma barra que se projetava dela, toda a pilha avançou com ela. Ao ser puxada, a barra deslizou suavemente para um lado da pilha e puxou uma corrente presa a ela. A corrente, por sua vez, acionou uma engrenagem que acionou três outras engrenagens que viraram uma barra, girando-a suavemente. Conclui-se de imediato que a pilha não era um acúmulo aleatório de sucata, mas que foi planejada (isto é, foi reunida naquela ordem por um agente inteligente), pois observa que os componentes do sistema interagem com grande especificidade para fazer alguma coisa.
 
Sistemas constituídos inteiramente por componentes naturais também podem manifestar planejamento. Suponhamos, por exemplo, que você está passeando em um bosque em companhia de um amigo. De repente, seu amigo é puxado alto no ar e fica pendurado pelo pé de uma gavinha, que desde de um ramo de árvore. Depois de liberta-lo, você reconstrói a armadilha. Nota que a gavinha estava enrolada em torno do galho, sendo que a extremidade era esticada e presa firmemente ao chão por uma forquilha. A forquilha estava ligada a outra gavinha — escondida pelas folhas — de modo que, quando alguma coisa atingisse a gavinha-gatilho, ela puxasse a forquilha, libertando a gavinha-mola. A extremidade da gavinha formava um laço com um nó corrediço para agarrar alguma coisa e ergue-la bem alto no ar. Embora a armadilha fosse feita apenas de materiais naturais, você concluiria imediatamente quer era produto de planejamento inteligente.
 
Um mundo complicado
 
Uma palavra de precaução. A teoria do planejamento inteligente tem de ser vista em seu contexto: ela não tenta explicar tudo. Vivemos em um mundo complexo onde muitas coisas diferentes podem ocorrer. Ao tentar explicar como várias rochas vieram a ser modeladas da forma em que foram, um geólogo poderá considerar uma diversidade de fatores: chuvas, ventos,  movimento de geleiras, atividades de musgos e liquens, ação vulcânica, explosões nucleares, impacto de asteróides, ou a mão de um escultor. A forma de uma rocha pode ser primariamente determinada por um mecanismo, a forma de outra rocha, por outro mecanismo. A possibilidade de um impacto de meteoro não significa que os vulcões devam ser ignorados , e a existência de escultores tampouco quer dizer que muitas rochas não sejam modeladas pelo intemperismo. Da mesma forma, biólogos evolucionistas reconheceram que certo número de fatores pode ter afetado o desenvolvimento da vida: ascendência comum, seleção natural, migrações, tamanho de populações, efeitos de fundador (efeitos que talvez se devam ao número limitado de organismos que iniciam uma nova espécie), deriva gênica (a disseminação de mutações “neutras”, não-seletivas), fluxo gênico (a incorporação em uma população de genes de uma população separada), ligação (ocorrência de dois genes no mesmo cromossomo), impulso meiótico (seleção preferencial durante a produção de células sexuais de uma das duas cópias de um gene herdado de um mecanismo parental), transposição (transferência de um gene entre espécies separadas por meios não-sexuais) e muito mais. O fato de que alguns sistemas bioquímicos possam ter sido planejados por um agente inteligente não implica que qualquer um dos outros fatores não seja atuante, comum ou importante.
 
De forma cada vez mais curiosa
 
Assim, ao final desta palestra, chegamos ao que parece a muita gente ser uma estranha conclusão: a vida foi projetada por um agente inteligente. De certa maneira, porém, todo o progresso da ciência nos últimos séculos tem sido uma marcha contínua rumo ao estranho. As pessoas, até a Idade Média, viviam em um mundo natural. A estável terra era o centro de tudo; o sol, a lua, as estrelas giravam interminavelmente para dar luz de dia e de noite; os mesmos animais e plantas eram conhecidos desde a antiguidade. Eram poucas as surpresas.
 
Então, foi proposto, absurdamente, que a terra ela própria movia, girando, enquanto descrevia círculos em torno do sol. Ninguém podia sentir a terra girar; ninguém o podia ver; mas ela girava. Desde nosso moderno ponto de observação, é difícil fazer idéia do assalto desferido contra os sentidos por Copérnico e Galileu. Eles disseram, com efeito, que o homem não mais podia confiar nem mesmo nas evidências que seus olhos percebiam.
 
As coisas pioraram cada vez mais com o passar dos anos. Com a descoberta dos fósseis, tornou-se patente que os animais familiares do campo e da floresta nem sempre estiveram na terra; o mundo fora alguma vez habitado por imensas e estranhas criaturas, que agora se foram. Um pouco depois, Darwin chocou o mundo ao argumentar que a familiar biota descendia de bizarras formas de vida desaparecidas nos confins de um tempo incompreensível para mentes humanas. Einstein nos disse que o espaço é curvo, e o tempo relativo. Físicos modernos dizem que os objetos sólidos são, na maior parte, espaço vazio, que as partículas subatômicas não têm posição definida, que o universo teve um começo.
 
Agora chegou a vez de a ciência fundamental da vida, a bioquímica, bagunçar um pouco as coisas. A simplicidade que antes se considerava ser o alicerce da vida se revelou uma ilusão; em vez disso, sistemas de complexidade irredutível, espantosa, residem na célula. A compreensão resultante de que a vida foi planejada por uma inteligência é um choque para nós no século XX, que nos acostumamos a pensar nela como resultado de leis naturais simples. Outros séculos, porém, também tiveram seus choques, e não há razão para pensar que deveríamos escapar deles. A humanidade continuou, enquanto o centro dos céus passava da Terra para além do Sol, à medida que a vida se expandia para abranger répteis a longo tempo extintos, na proporção em que o universo eterno mostrou que era mortal. Nós sobreviveremos à abertura da Caixa Preta de Darwin.
 
["Evidence for Intelligent Design from Biochemistry", Michael Behe]
 
  1. 1. N. da P.: Noutro texto, ao comentar este exato ponto, o autor foi ainda mais claro: “A anatomia [nesta questão] é simplesmente irrelevante, como também o é o registro de fósseis. Não importa se o registro dos fósseis coincide com a teoria evolucionista, assim como não importava se, na física, a teoria de Newton coincidia com a experiência quotidiana. O registro dos fósseis não tem nada a dizer sobre, por exemplo, se as interações da 11-cis-retinal com a rodopsina, transducina, e fosfodiesterase  poderiam ter se desenvolvido passo-a-passo.” [cf. Molecular Machines: Experimental Support for the Design Inference, Michael Behe]
  2. 2. N. da P.: “Um pesquisador igualmente eminente, L. von Berthalanffy, dizia que o jogo de forças naturais inorgânicas não poderia ter realizado a formação de uma célula, e que o nascimento fortuito de um carro em uma mina de ferro seria coisa pequena se comparado com a formação espontânea de uma célula.” (Oscar Kuhn, Biologie Allemande Contemporaine, La Pensée Catholique no. 31, os grifos são nossos). O leitor aqui certamente tirará grande proveito da leitura das lúcidas páginas de Gustavo Corção sobre “Probabilidades Excessivamente Pequenas”, in As Descontinuidades da Criação, publicado pela Editora Permanência, “Antes de abordarmos, com o material científico até aqui apresentado, a interpretação filosófica e teológica, que é o objeto principal deste trabalho, demoremo-nos a remover um obstáculo que freqüentemente se atravessa em nosso caminho: a idéia de que o improvável, por mais improvável que seja, acontecerá desde que dêem tempo ao tempo. Em regra geral, as pessoas que se inclinam entusiasticamente sobre as formas mais cômicas do evolucionismo contam com o tempo, um pouco como os reformadores apressados contam com o tesouro nacional, ambas as coisas parecem-lhes infinitas. Ora, tanto no espaço como no tempo o universo é muito menor do que parece aos que contam com a amplidão para a espera de probabilidades da ordem de P=10-500 ou 10-1000”. Mais adiante, citando E. Borel: “Um matemático furiosamente abstrato poderia pretender que bastasse recomeçar a experiência um número suficiente de vezes, um número representado por vinte milhões de algarismos, por exemplo, para ter, ao contrário, a certeza de que o milagre se produziria muitas vezes no decurso dessas inumeráveis experiências (...). Mas é humanamente impossível imaginar que a experiência seja renovada tantas vezes”.
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