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Exercícios Práticos Para a Via Sacra

S. Leonardo de Porto Maurício

Preparação

De joelhos ao pé do altar, o oficiante recita em voz alta as orações seguintes:

 

Oração

Actiones nostras, quaesumus, Domine,aspirando praeveni, et adjuvando prosequere., ut cuncta nostra oratio et operatio a te semper incipiat et per te coepta finiatur. Per Christum Dominum nostrum. Amen1.

 

Ato de Contrição

Ó meu Jesus Cristo afável, porque sois infinitamente bom e misericordioso, eu Vos amo acima de todas as coisas; arrependo-me de todo o coração de Vos haver ofendido, Vós que sois o soberano bem. Por isso Vos ofereço este exercício piedoso, em memória do percurso doloroso a caminho do Calvário, o qual fizestes por amor a mim, pecador indigno.

Eu me proponho a lucrar todas as indulgências anexas a este exercício e, para tanto, tenho a intenção de rezar pelas finalidades em razão das quais foram concedidas tantas benesses.

Humildemente imploro a Vossa assistência, ó meu Divino Salvador, para terminar este santo exercício de modo a que obtenha a misericórdia nesta vida e a glória no século vindouro. Amém.

Ao sair do altar, entoa-se o Stabat ou outro cântico.

 

1ª Estação - Jesus é condenado à morte

 

V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi;

R. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum2.

A primeira estação representa a casa e o pretório de Pilatos, onde Jesus Cristo foi condenado à morte.

Consideremos a submissão admirável com que Jesus, a inocência em pessoa, recebe a injusta sentença. Lembrai-vos de que foram os vossos pecados que ditaram a decisão, que foram as vossas blasfêmias, malícias e licenças as palavras deicidas que convenceram o juiz iníquo a proferir a condenação. Voltemos nosso olhar ao Deus cheio de amor, e com a alma repleta da mais viva dor, digamos a Ele por lágrimas mais do que por palavras:

Jesus amável, a que excessos Vos levou o Vosso amor por nós! É mesmo verdade que quisestes ser encarcerado, acorrentado, vergastado e condenado à morte infame em benefício de criaturas tão indignas? Ah, tamanho sacrifício comove meu coração insensível e me faz detestar os pecados, em particular os pecados da língua! Sim, Jesus amado, eu os detesto! Enquanto durar esta via dolorosa, diante de Vós eu sempre hei de chorar e lamentar por eles, repetindo: Ó meu Jesus, tende piedade de mim! Jesus, misericórdia!

Pater. Ave. Gloria3

 

V. Miserere nostri, Domine;

R. Miserere nostri.

V. Fidelium animae per misericordiam Dei requiescant in pace.

R. Amen4.

 

Quanta maldade sofre o autor da vida,

De Quem eu testemunho a crua sorte!

Mas pior que dos judeus a perfídia

É o meu pecado, que o condena à morte.

 

 

2ª Estação - Jesus toma a cruz aos ombros

 

V. Adoramus te, Christe, etc.

A segunda estação representa o lugar onde o Divino Salvador tomou o pesado fardo da cruz.

Consideremos com que enlevo Jesus abraça a cruz, com que mansidão suporta os cruéis tormentos dos carrascos e os ultrajes do populacho em fúria. Vós, porém, não sabeis suportar a pena mais suave; vós fugis à vista dos menores sofrimentos. Esqueceis que, sem a cruz, não sereis admitidos na morada gloriosa? Ah, lamentai a vossa cegueira e, prostrados aos pés do Divino Redentor, declarai:

Cabe a mim, ó Jesus, e não a Vós, carregar essa cruz tão opressiva e dolorosa, fabricada com as traves dos meus pecados. Meu amável Salvador, dai-me forças para, daqui por diante, abraçar as cruzes que tanto mereci, por causa da minha infidelidade; concedei-me a graça de morrer aninhado na cruz e de repetir, osculando com afeto o Santo Lenho, as palavras de Santa Teresa: “Sofrer ou morrer! Sofrer ou morrer!”

Pater. Ave. Gloria etc.

Vejo Jesus sob o madeiro

Levar golpes do Pai exasperado;

Deus sentencia Nele o meu erro;

Ele sofre mas eu que sou culpado.

 

3ª Estação - Jesus cai pela primeira vez

 

V. Adoramus te, Christe, etc.

A terceira estação representa a primeira queda de Jesus sob o peso da cruz.

Contemplemos Jesus na via dolorosa; o sangue escorria das Suas feridas e enfraquecia-O; por isso, Ele cai no chão pela primeira vez. Com que furor os carrascos Lhe puseram de pé, empurram-n’O e redobraram os golpes! E Jesus amável não abria a boca, mas sofria em silêncio; já vós, diante da mínima contrariedade, vós vos entregais aos murmúrios e aos queixumes amargos, até mesmo às blasfêmias. Detestai, de uma vez por todas, as impaciências e o orgulho, e pedi ao benévolo Salvador que Ele perdoe as vossas quedas:

Ó bom Jesus, amável Redentor, vedes a Vossos pés um grande pecador, o pior dos pecadores que há sobre a terra. Oh, são muitas as quedas culpáveis de que posso me acusar! Quantas vezes não me precipitei no abismo das iniqüidades! Dignai-vos, ó Jesus, estender-me a mão firme para retirar-me deste precipício; ajudai-me, estou implorando, ajudai-me, a fim de que eu, pelo resto da vida, evite a recaída no pecado mortal e mereça, pela graça de uma santa morte, ser feliz convosco pelos séculos dos séculos.

Pater. Ave. Gloria etc.

 

Jesus se inclina e tomba sob o fardo;

levantam-n’O entre gritos de furor.

Esta queda me cura do pecado,

me encoraja e me infunde mais fervor.

 

4ª Estação - Jesus se encontra com Sua mãe santíssima

 

V. Adoramus te, Christe, etc.

A quarta estação representa o lugar onde Jesus encontra Sua Divina Mãe mergulhada em profundíssima aflição.

Ah, quantos acréscimos de penas nos corações de Jesus e de Maria, quando o Filho e a Mãe se entrecruzam no caminho do Calvário! – Alma ingrata! Que fizeram contigo, meu Jesus? Vos diz a mãe aflita. – Que fizeram contigo, Minha pobre mãe? responde o benévolo Filho. Ah, renuncie ao pecado quem seja a causa de Nosso sofrimento! – Qual a vossa resposta? Rendei-vos a estas sentidas reprimendas e confessai:

Ó adorável Filho de Maria! Ó Divina Mãe de Jesus! Eis-me aqui prostrado a Vossos pés, confundido e atormentado pela dor. Confesso a minha perfídia: sou eu o infeliz que forjei com meus pecados a espada cruel que atravessou os Vossos corações. Ah, arrependo-me do fundo do coração e imploro o perdão a um e a outro. Misericórdia, ó Jesus amado, misericórdia, ó Maria, misericórdia! Protegido sob o manto da Vossa misericórdia, não cairei mais em pecado, mas meditarei dia e noite nos Vossos sofrimentos e nas Vossas dores.

Pater. Ave. Gloria etc.

 

Ó Mãe suave e terna e generosa!

Vós O encontrais num hórrido momento!

Sofreríeis u’a dor menos penosa,

Se vós compartilhásseis Seu tormento.

 

5ª Estação - Simão o Cirineu ajuda Jesus a carregar a Cruz

 

V. Adoramus te, Christe, etc.

A quinta estação representa o lugar onde o Cirineu foi obrigado a carregar aos ombros a cruz de Jesus.

Colocai-vos no lugar do Cirineu que, apegado demais às comodidades passageiras desta vida, leva com repugnância e pesar a cruz de Jesus. Espantai de uma vez por todas o torpor indolente e consolai o vosso Salvador do peso a esmagá-l’O; abraçai de boa vontade as provações que vêm das mãos de Deus, e declarai a vossa disposição em sofrê-las com paciência, rendendo graças a Ele. Dirigi ao Salvador esta oração:

Ó Jesus amável! Eu Vos agradeço as inúmeras e proveitosas ocasiões que me destes para sofrer por Vós e para me enriquecer com méritos; ó meu Deus, fazei-me ganhar os bens verdadeiros e eternos do século vindouro, suportando com paciência os aparentes males desta vida, e que chorando convosco nesta terra, seja eu considerado digno de partilhar Convosco a felicidade do Paraíso.

Pater. Ave. Gloria etc.

 

Gozo maior não há para um mortal

Que mitigar as dores de Jesus;

Nossos pecados são todo Seu mal,

Que se consola ao levarmos a cruz.

 

 

6ª Estação - A mulher piedosa enxuga a face de Jesus.

 

V. Adoramus te, Christe, etc.

A sexta estação representa Sta. Verônica a enxugar o adorável rosto de Jesus com um pano de linho.

Considerai os traços desfigurados do Senhor que se imprimiram no linho; enlevados com tal visão, esforçai-vos em reproduzir bem dentro d’alma a misteriosa imagem. Felizes sereis se levardes Jesus impresso n’alma! E ainda mais felizes, se vós morrerdes carregando este precioso penhor de salvação! Para conseguirdes graça tão excelente, dirigi-vos a Ele requerendo:

Ó meu Salvador! Eu imploro que Vos digneis imprimir em meu coração a Vossa imagem sagrada, para que eu pense em Vós sem parar, e chore sem parar as minhas iniqüidades, tendo sempre diante dos olhos a Vossa paixão dolorosa. Faço votos de alimentar-me com o pão das lágrimas até o último suspiro, e de detestar para sempre e cada vez mais os meus erros passados.

Pater. Ave. Gloria etc.

 

Com meus pecados, manchei-lhe a figura

De escarros vis, de sangue e de suor

Mas a minha alma retrata a pintura

Do Seu semblante que eu lavo com dor.

 

7ª Estação - Jesus cai pela segunda vez

 

V. Adoramus te, Christe, etc.

A sétima estação nos recorda o lugar onde Jesus caiu pela segunda vez sob o peso da cruz.

Contemplai o Divino Salvador estendido sobre a terra, aniquilado de sofrimentos, calcado aos pés dos carrascos, insultado pelo populacho, e tende em conta que foi o vosso orgulho que O derrubou, e que foi a vossa arrogância e altivez que O humilhou até o chão. Ah, baixai a vossa fronte soberba, e com sincera contrição do passado, fazei votos de, daqui por diante, pôr-se abaixo de todas as criaturas; instai pois a Jesus:

Ó meu adorável Redentor! Ainda que Vos veja deitado na poeira, reconheço a Vossa onipotência, e Vos imploro a destruição dos meus pensamentos de orgulho, de ambição e de autoestima; fazei que, a partir de agora, eu aceite de bom grado a abjeção e o desprezo, sem nunca perder de vista a lembrança dos meus pecados, que me deveriam cobrir de confusão. Por meio da humildade sincera e verdadeira, a única agradável a Vós, possa eu Vos consolar das humilhações que por mim suportastes!

Pater. Ave. Gloria etc.

 

Fraco, esgotado, grande fardo O arrasta,

Cai sob a cruz nosso Cristo esmagado;

Pobre de mim, se Sua mão régia e casta

Só removesse uma vez meu pecado.

 

 

8ª Estação - Jesus responde à compaixão que Lhe testemunham as filhas de Jerusalém.

 

V. Adoramus te, Christe, etc.

A oitava estação representa o local onde Jesus testemunhara Sua compaixão às filhas de Jerusalém, que lamentavam aqueles sofrimentos.

Considerai que tendes duas razões para chorar: deveis chorar por Jesus, que tanto sofre por vós; e deveis chorar por vós mesmos, que só sentis prazer quando O ofendeis. Todavia, diante de tanto sofrimento, vós, homens ingratos, permaneceis insensíveis! Pelo menos, ao ver Jesus testemunhar tamanha compaixão com as pobres mulheres de Jerusalém, recuperai a confiança e, impregnado de dor e arrependimento, suplicai a Ele:

Ó meu Salvador amável! Por que não se quebra o meu coração nem se derrete em lágrimas? Ó Jesus, são lágrimas o que Vos peço, lágrimas de arrependimento e de compaixão! Possa eu, com água nos olhos e dor no fundo do coração, merecer a compaixão que testemunhastes às filhas de Israel! Ah, dignai-Vos, como única consolação, lançar sobre mim, durante a minha vida, um olhar benfazejo, a fim de que eu possa Vos contemplar cheio de confiança na hora da morte.

Pater. Ave. Gloria etc.

 

Força é sofrer, e falta-me valor;

Mas a cruz paga ao crente grão salário:

Um pranto amargo aos passos do Senhor,

Estilado a caminho do Calvário.

 

9ª Estação - Jesus cai pela terceira vez

 

V. Adoramus te, Christe, etc.

A nona estação representa o lugar onde nosso bom Salvador caiu pela terceira vez sob o peso da cruz.

Quão dolorosa deve ter sido a terceira queda do Salvador! Considerai com que ódio os carrascos, semelhantes a tigres furiosos, rasgavam-Lhe as carnes e O arrastavam na poeira do chão; vede como eles vergastam e pisam este Manso Cordeiro, que não abre a boca para reclamar. Ah, pecado maldito, que maltratou assim o Filho de Deus! Não merece as vossas lágrimas, pecador, um Deus esmagado de ultrajes e opróbrios? Dizei a Ele, chorando:

Ó Deus Todo-Poderoso, que com um só dedo sustentais os céus e a terra! Quem vos derrubou de rosto no chão? Ah, eu sei: foram as minhas recaídas e as minhas iniqüidades sem conta; a cada pecado que cometo, acrescento-Lhe um novo tormento. Mas eis que estou aqui prostrado a Vossos pés, decidido em acabar com esta vida desordenada, e com lágrimas e suspiros repetirei cem, mil vezes: Daqui em diante, sem mais pecados, ó meu Deus! Não, pecado nunca mais!

Pater. Ave. Gloria etc.

 

Cheio de dor Jesus inda tropeça;

Parece aniquilá-l’O a exaustão;

Mas esta queda é cheia de promessa,

Ele a oferece em prol do meu perdão.

 

 

10ª Estação - Jesus é despojado dos vestidos e bebe o fel

 

V. Adoramus te, Christe, etc.

A décima estação representa o lugar onde Jesus foi despojado dos vestidos e bebeu o fel amargo.

Considerai todos os tomentos que Jesus suporta de uma só vez: a Sua carne colada às vestes é arrancada aos pedaços, e a Sua boca está infectada com um fel amargo e nojento. Às dores se junta a vergonha de se ver exposto naquele estado, à vista da multidão que O insulta. Eis aí como o Salvador expia a vossa imodéstia e vaidade, o vosso ciúme cheio de fel e a vossa intemperança. Como ainda não vos pungiu a compaixão? Ah, lançai-vos aos pés de Jesus despojado por amor a vós e lamentai:

Ó Jesus, vítima inocente, sofreis um horrível aniquilamento! Vós estais coberto de sangue e feridas, embebido em amargura, e eu mergulhado nos prazeres, na vaidade e nas amenidades. Ah, eu não estou no bom caminho. Forçai-me a mudar de vida: misturai amarguras aos prazeres da vida presente, para que daqui em diante eu beba com avidez as águas amargas da Vossa Paixão dolorosa, e assim mereça um dia desfrutar convosco as delícias do paraíso.

Pater. Ave. Gloria etc.

 

Quem se quer vencer, tome uma atitude:

Suporte mudo todo o sofrimento!

Jesus quis se alcançasse tal virtude

Pelas dores de Seu despojamento.

 

 

11ª Estação - Jesus é pregado à cruz

 

V. Adoramus te, Christe, etc.

A décima-primeira estação representa o lugar onde Jesus foi pregado à cruz, sob o olhar de Sua Mãe Santíssima.

Considerai as dores excessivas que o Salvador teve de suportar, quando os cravos Lhe perfuraram os pés e as mãos: rasgaram-se as carnes, deslocaram-se os ossos e contraíram-se os nervos com sofrimentos indizíveis. Como vossas entranhas não se comovem, diante de um suplício tão cruel e da lembrança das vossas iniqüidades, que são a causa destes sofrimentos? Ao menos, exprimi o vosso arrependimento, recitando entre lágrimas:

Ó Jesus, crucificado por mim, abrandai este coração endurecido, e infiltrai nele o amor e o temor. Visto que os meus pecados enterraram os cravos em Vossos sagrados membros, fazei que a penitência e a mortificação, tal como um carrasco, crucifique todas as minhas paixões desregradas, a fim de que um dia, após ter a felicidade de viver e morrer pregado à cruz convosco, o Senhor me admita, para que eu reine junto a Vós na glória celeste.

Pater. Ave. Gloria etc.

 

Cravado no patíbulo que infama,

Jesus sofre um suplício nunca ouvido;

Tu podes Lhe acalmar a angústia d’alma,

Se assentires sofrer com teu Amigo.

 

12ª Estação - Jesus morre na cruz

 

V. Adoramus te, Christe, etc.

A décima-segunda estação representa o Calvário, onde elevado na cruz Jesus expirou.

Levantai os olhos e contemplai o vosso amável Salvador suspenso entre o céu e a terra por três cravos; escutai as palavras que saem da Sua boca moribunda: Ele reza por quem o ofende, dá o paraíso a quem o pede, confia a Sua Divina Mãe a São João e encomenda a Sua alma ao Pai – depois inclina a cabeça e expira. Jesus morreu! E morreu na cruz por amor a mim! E vós, o que estais experimentando? Ah, não queirais sair desta estação sem vos comover e converter. Abraçai a cruz de Jesus e declarai a Ele:

Meu amantíssimo Jesus, eu reconheço e confesso: foram as minhas inúmeras iniquidades que executaram a Vossa pena e retiraram a Vossa vida; sim, o traidor que Vos crucificou fui eu, por isso não mereço perdão. Mas quando Vos escutei rezando por Vossos carrascos, a minha alma ficou num instante cheia de consolação! Que farei eu por Vós, que tanto fazeis por nós? Eis-me aqui disposto a tudo, sobretudo a perdoar a quem me tenha ofendido. Sim, meu Deus, por amor a Vós eu perdoo todos os meus inimigos, acolhendo-os e desejando-lhes todo o bem, para que eu tenha a esperança de escutar de Vós, no meu último momento: Hodie mecum eris in paradiso. “Ainda hoje estarás comigo no Paraíso.”

Pater. Ave. Gloria etc.

 

 

Se Jesus Cristo expira em sacrifício,

Por Ele tenho muito que sofrer;

Se é impossível segui-lo no suplício,

Ao menos no amor Dele hei de morrer.

 

 

13ª Estação - Jesus é descido da cruz

 

V. Adoramus te, Christe, etc.

A décima-terceira estação representa o lugar onde Jesus foi descido da Cruz e deposto entre os braços da Sua aflita Mãe.

Considerai a espada dolorosa que traspassou o coração desta Mãe inconsolável, tão logo Ela recebeu entre os braços o corpo inanimado do Seu Divino Filho. Ela contempla uma a uma as chagas que O cobrem, e a visão das úlceras punge o sangue das feridas do Seu coração maternal. Qual foi o mais mortal e cruel dos punhais para este brando coração? Foi o pecado, que tirou a vida do seu bem amado Filho. Por isso, detestai o maldito pecado, e misturai as vossas lágrimas com as da Virgem desolada, declarando a Ela:

Ó Rainha dos Mártires, quando serei digno de compreender Vossas dores e de compartilhá-las, trazendo-as sempre no meu coração? Ah, ó Mãe das Dores, dai-me lágrimas para chorar dia e noite os desregramentos criminosos que Vos causaram tanto sofrimento; e depois de passar a minha vida a chorar, a amar e esperar, que eu expire de dor para viver convosco por toda a eternidade.

Pater. Ave. Gloria etc.

 

Coração generoso, que na vida

Crucificou-se até o desenlace!

Ó Filho de Maria, tua guarida

Espero, inda que a morte me chamasse.

 

 

14ª Estação - Jesus é depositado na tumba

 

V. Adoramus te, Christe, etc.

A última estação representa o santo sepulcro onde foi depositado o adorável corpo de Jesus.

Considerai os gemidos inexprimíveis de São João, de Maria Madalena, das outras santas mulheres e de todos os discípulos do Salvador, logo que O encerraram na tumba; considerai sobretudo a desolação extremada do Coração de Maria, quando se viu privada do Seu Filho bem amado. Diante de tantas lágrimas e suspiros, vós experimentais pouquíssimos sentimentos de piedade e compaixão. Reanimai o vosso fervor, beijai com humildade a pedra que fecha a tumba sagrada, esforçai-vos em deixar ali depositado o vosso coração e, soltando profundos gemidos, rogai ao Salvador para que o guarde junto ao Dele:

Ó Jesus misericordioso! Que só por amor a mim quisestes percorrer o doloroso caminho do Calvário, eu Vos adoro dentro deste sepulcro em que vos encerraram, mas antes quisera eu vos amortalhar bem dentro do meu coração, a fim de ressuscitar convosco para uma vida nova e de perseverar até o final na Vossa graça. Concedei-me, rogo-Vos pelos méritos da Vossa paixão que acabei de meditar, concedei-me seja o meu último alimento, antes de expirar, a Divina Eucaristia, e sejam as minhas últimas palavras “Jesus e Maria”; confunda-se o meu último suspiro com aquele que exalastes por mim na cruz para que, animado de uma fé viva, esperança firme e caridade ardente, morra eu convosco, a fim de ser convosco admitido a reinar por séculos de séculos. Assim seja.

 

Morta pra si, enterrada pro mundo,

No corpo uma alma em vil, triste estadia;

Com Jesus goza um silêncio profundo,

E humilde espera ver a glória um dia.

 

*

*   *

 

Se se fizer a Via Sacra fora da Igreja, ao retornar a ela os fieis podem cantar algumas estrofes do Stabat Mater. Assim que a procissão chegar ao pé do altar, termina-se com a seguinte oração:

 

V. Ora pro nobis, Virgo dolorosissima,

R. Ut digni efficiamur promissionibus Christi5.

Oremus: Interveniat pro nobis, quaesumus, Domine Jesu Christe, nunc et in hora mortis nostrae apud tuam clementiam beata Virgo Maria, cujus sacratissima animam, in hora tuae passionis, doloris gladius pertransivit. Qui vivis et regnas Deus in saecula saeculorum. Amen6.

Apesar de constar em alguns livrinhos, não é necessário recitar ao final os cinco Pai-Nossos e as cinco Ave-Marias. Depois da oração precedente, o padre voltando-se aos fieis adverte que todos os que fizeram a Via Sacra com devoção lucraram as indulgências anexas a ele, exorta-os a retornar no dia em que acontecerá de novo o exercício e os despede abençoando-os com o sinal da cruz.

  1. 1. [N. da P.] “Senhor, começai pela vossa inspiração e continuai pelo vosso auxílio as nossas ações; para que todas as nossa orações e operações sempre em Vós comecem e em Vós terminem. Amém.” Venerável oração que se encontra incluída na Ladainha de Todos os Santos.
  2. 2. [N. da P.] “V. Nós vos adoramos e bendizemos, ó Cristo / R. Porque por vossa santa Cruz redimistes o mundo.”
  3. 3. [N. da P.] Indicação para rezar 1 Pai Nosso. 1 Ave-Maria. 1 Glória ao Pai.
  4. 4. [N. da P.] V. Tende misericórdia de nós, Senhor / R. Tende misericórdia de nós. / V. Que as almas dos fiéis, pela misericódia de Deus, descansem em pás. / R. Amém.
  5. 5. [N. da P.] V. Rogai por nós, Virgem dolorosíssima; R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
  6. 6. [N. da P.] “Ó Senhor Jesus Cristo, que perante vossa clemência possa rogar por nós, agora e na hora de nossa morte, a beatíssima Virgem Maria, cuja alma santíssima fora transpassada por uma espada de dor, na hora da vossa paixão. Vos que, sendo Deus, viveis e reinais nos séculos dos séculos. Amém.”
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