Nem todos os pensadores compreendem a diferença que existe entre a ciência do ser, natural e racional, e a ciência da fé. Entre a Filosofia e a Teologia. De um modo geral as pessoas que não têm a fé católica não entendem como pode uma ciência baseada no princípio de autoridade ter mais força e valor do que uma ciência que exige todas os recursos da inteligência e da vontade livre.
De fato, a Teologia toma seu objeto do "dado revelado"; ou seja, Deus nos revelou muitas coisas sobre Si e sobre nós mesmos, que não poderíamos alcançar com nossas próprias forças intelectuais. Uma vez ao par da Verdade Revelada, cabe ao Teólogo estudá-la, fazê-la desabrochar, extrair dessa verdade sublime todo o néctar delicioso que nos aproxima daquele que a disse, ou seja, de Deus.
Já a Filosofia baseia-se não na autoridade de Deus se revelando, mas na capacidade da alma humana de chegar ao conhecimento do que é a coisa, do quid, da sua natureza.
Ora, é evidente que Deus, Criador do Céu e da Terra, não poderia revelar coisas sobre Si e sobre o mundo criado que fossem contrárias à razão. O autor da fé é o mesmo autor da natureza. Ao mesmo tempo, a revelação dos mistérios acerca de Deus e de nós mesmos nos abre o horizonte da vida eterna em Deus, ao passo que os conhecimentos puramente naturais que a filosofia nos proporciona não conseguem alçar este vôo de eternidade. Ela pode, sim, mostrar-nos alguma sombra do Criador, mas não o lugar em que Ele mora.
É por isso que os antigos diziam, com toda a razão, que a Filosofia é serva da Teologia. Não que elas disputem entre si. Mas o objeto da segunda é sobrenatural e infinito, enquanto o objeto da primeira é natural e limitado. A ciência natural vai então servir de apoio, de confirmação, de complementação ao estudo das coisas propriamente divinas.
É difícil, repito, para quem não tem fé compreender essas coisas, pois quem não tem fé tende a racionalizar e acaba por querer encerrar o infinito dentro dos parcos limites da mente humana.
Foi com o intuito de tentar explicar essa verdade que trouxemos, para abrir nossa rubrica de Filosofia, o primeiro capítulo do livro de Jacques Maritain Les Dégrés du Savoir. Este capítulo se chama: "Grandeur et Misère de la Métaphysique" [Grandeza e Miséria da Metafísica].
Em seguida, apresentaremos alguns capítulos do Pe. Leonel Franca, sobre o pensamento de alguns filósofos contemporâneos; e tentaremos atualizar sempre esta rubrica com textos filosóficos de filiação católica.