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Novena de Natal

Dezembro 14, 2019 escrito por admin

Santo Afonso Maria de Ligório

[Nota da Permanência: Apresentamos a seguir uma bela novena para o Natal escrita por Santo Afonso Maria de Ligório. Não confundir com a novena que distribuímos todo ano no período do Advento. A foto ao lado foi tirada na igreja S. Judas Tadeu, Rio de Janeiro, por nosso amigo Alex Duarte]

 

COROINHA PARA RECITAR ANTES DE CADA MEDITAÇÃO 

I. Meu Dulcíssimo Jesus, que nascestes em uma gruta e depois fostes colocado em uma manjedoura sobre a palha, tende piedade de nós.

R). Tende piedade, Senhor, tende piedade de nós.

Pater Noster, Ave Maria, Gloria.

 

II. Meu Dulcíssimo Jesus, que fostes apresentado e oferecido por Maria no Templo, para, um dia, serdes sacrificado por nós na Cruz, tende piedade de nós.

R). Tende piedade, etc.

 

III. Meu Dulcíssimo Jesus, que fostes perseguido por Herodes e obrigado a fugir para o Egito, tende piedade de nós.

R). Tende piedade de nós, etc.

 

IV. Meu Dulcíssimo Jesus, que, pobre, habitastes no Egito, por sete anos, desconhecido e desprezado por aquela gente, tende piedade de nós.

R). Tende piedade, etc.

 

V. Meu Dulcíssimo Jesus, que retornastes à Vossa pátria para lá serdes um dia crucificado em meio a dois ladrões, tende piedade de nós.

R). Tende piedade, etc.

 

VI. Meu Dulcíssimo Jesus, que permanecestes no Templo, quando contáveis doze anos, a discutir com os doutores, e que, depois de três dias, fostes reencontrado por Maria, tende piedade de nós.

R). Tende piedade, etc.

 

VII. Meu Dulcíssimo Jesus, que vivestes escondido por tantos anos na oficina de Nazaré, servindo a Maria e a José, tende piedade de nós.

R). Tende piedade, etc.

 

VIII. Meu Dulcíssimo Jesus, que, três anos antes da Vossa Paixão, saístes a pregar ensinando o caminho da salvação, tende piedade de nós.

R). Tende piedade, etc.

 

IX. Meu Dulcíssimo Jesus, que, finalmente, por amor de nós, terminastes a vida morrendo na Cruz, tende piedade de nós.

R). Tende piedade, etc.

(Continue a ler)

MEDITAÇÕES PARA CADA DIA DA NOVENA

 

MEDITAÇÃO I

Sobre o amor de Deus em se fazer homem 

 

Consideremos o amor imenso que Deus nos demonstrou ao se fazer homem para  nos obter a salvação eterna.

 

Adão, nosso primeiro pai, pecou, e tendo se rebelado contra Deus, foi expulso do Paraíso e condenado à morte eterna com todos nós, os seus descendentes. Mas eis que o Filho de Deus se oferece para tomar a carne humana e, vendo o homem perdido, para o libertar da morte.

 

– Mas Filho, como se então Lhe dissesse o Pai, considera que, na Terra, deverás levar uma vida humilde e penosa. Deverás nascer em uma gruta fria e ser posto numa manjedoura de animais. Deverás, criança, fugir para o Egito para escapar das mãos de Herodes. De volta do Egito, deverás viver em uma carpintaria como um aprendiz humilde, pobre e desprezado. Finalmente, por muitas dores, deverás deixar a vida sobre uma Cruz, vituperado e  abandonado por todos. 

– Pai, não importa, responde o Filho, com tudo me contento, desde que o homem se salve.

O que se diria se um príncipe, tendo compaixão de um verme morto, quisesse Ele virar verme, e banhando-se com seu próprio sangue, morresse para dar a vida ao verme? Mais que isso fez por nós o Verbo Eterno, que, sendo Deus, quis se fazer verme como nós e por nós morrer, para nos adquirir pela graça divina a vida perdida. Vendo Ele que com tantos dons feitos para nós não pudera ganhar para si o nosso amor, que fez? Fez-Se homem e nos deu a Si inteiro. (Cf. Jo 1,14 e Ef 5,2).

 

O homem desprezando a Deus – diz São Fulgêncio – afasta-se de Deus, mas Deus amando o homem vem do Céu para o reencontrar. E por que vem? Vem para que o homem conheça quanto Deus o amava e assim, ao menos, por gratidão, O amasse. Até os animais que vem até nós fazem com que os amemos, e nós, por que somos assim tão ingratos com um Deus que desce do Céu à Terra para fazer com que O amemos? Um dia, tendo sido ditas por um sacerdote aquelas palavras da Missa – E o Verbo se fez carne – um homem lá presente não fez nenhum ato de reverência; então o demônio lhe deu um grande bofetão, dizendo-lhe: “Ah ingrato! Se Deus tivesse feito tanto por mim quanto fez por ti, eu estaria sempre com a face ao solo agradecendo a Ele”.

 

Afetos e súplicas

 

Ó Filho de Deus, Vós Vos fizestes homem para ser amado pelos homens, mas onde está o amor que os homens Lhe têm? Vós destes o sangue e a vida para salvar as nossas almas, e por que Convosco somos tão ingratos que, ao invés de Vos amarmos, desprezamo-Vos com tanta ingratidão? E, eis, Senhor, que eu fui um dos que mais que os outros Vos maltratei assim. Mas a Vossa Paixão é a minha esperança. Dignai-Vos por aquele amor que Vos fez tomar a carne humana e morrer por mim sobre a Cruz, perdoar-me todas as ofensas que Vos fiz. Amo-Vos, Ó Verbo Encarnado, amo-Vos, Deus meu, amo-Vos, Bondade infinita; e arrependo-me de tantos desgostos que Vos dei, quero morrer de dor  por eles. Dai-me, meu Jesus, o Vosso amor, não me permitais viver mais ingrato ao afeto que me destes. Eu Vos quero sempre amar. Dai-me a santa perseverança.

Ó Maria, Mãe de Deus e minha Mãe, iobtende de vosso Filho a graça de eu O amar sempre, até a morte.

 

MEDITAÇÃO II

Sobre o amor de Deus em nascer como bebê

 

O Filho de Deus podia ao Se fazer homem por amor nosso aparecer ao mundo em idade de homem perfeito, como apareceu Adão quando foi criado; mas como os bebês são mais afeitos a atrair para si o amor de quem os olha, por isso Ele quis aparecer na Terra como bebê, e como o bebê mais pobre e desprezado que já tivesse nascido entre os homens. Escreveu S. Pedro Crisólogo: Assim quer nascer o nosso Deus, porque assim quer ser amado. O profeta Isaías já havia predito que o Filho de Deus devia nascer bebê e assim se dar inteiro a nós por causa do amor que nos tinha: “um bebê nasceu para nós, foi-nos dado um filho” (Is 9, 5).

 

Meu Jesus, meu sumo e verdadeiro Deus, e o que do Céu Vos atraiu a nascer em uma gruta, senão o amor que tendes pelos homens ? O que, do seio do Pai, induziu-Vos a Vos pôr numa manjedoura? O que,  ao invés de reinar sobre as estrelas, Vos pôs a jazer na palha? O que, do meio dos coros dos anjos, reduziu-Vos a ficar entre dois animais? Vós inflamais os serafins com um santo fogo, e agora treme de frio nesse estábulo? Vós dais o movimento aos céus e ao sol, e agora para Vos mover tendes necessidade de quem Vos tome nos braços? Vós proveis com alimento os homens e os bichos, e agora Vos ouço chorar? Dizei-me, o que Vos reduziu a tal miséria? Quis hoc fecit?... Fecit amor, diz São Bernardo;  foi o amor que tendes pelos homens que operou todas estas maravilhas.

 

Afetos e súplicas

 

Ó meu caro Menino, dizei-me o que viestes fazer nesta terra? Dizei-me o que vem procurando?

Ah, já Vos compreendi: viestes morrer por mim, para me libertar do inferno. Viestes procurar-me, a mim ovelha perdida, para que eu não fuja mais de Vós e Vos ame. Ah, meu Jesus, meu tesouro, minha vida, meu amor, meu tudo, e se não Vos amo, quem quero amar? Onde pode a minha alma achar um pai, um amigo, um esposo mais amável do que Vós e que tenha me amado mais do que Vós? Amo-Vos, meu Deus, amo-Vos como ao meu único bem.

Lamento ter estado tantos anos no mundo e não Vos ter amado; antes, ter-Vos ofendido e desprezado. Perdoai-me, meu amado Redentor, que me arrependo de assim Vos ter tratado, lamento isso com toda minha alma. Perdoai-me e daí-me a graça de que não me separe mais de Vós e Vos ame sempre pelo tempo que me resta na vida.

Meu amor, dou-me todo a Vós, aceitai-me e não me recuseis como mereceria. Maria, vós sois minha Advogada, vós obtendes, com vossas orações, o quanto desejais deste Filho; rogai-lhe que me perdoe e que me dê a santa perseverança até a morte.

 

MEDITAÇÃO III

Sobre a vida pobre que Cristo levou desde o seu nascimento

 

Deus dispôs que no tempo em que o Seu Filho nasceu nesta Terra, viesse à luz a ordem do Imperador de que cada um fosse se recensear no local de sua origem. E assim se deu que, José devendo ir a Belém com sua esposa para serem recenseados, conforme o decreto de César, chegou a hora do parto e Maria tendo sido rejeitada nas outras casas e também na hospedaria comum dos pobres, foi obrigada a passar aquela noite na gruta e lá deu à luz ao Rei dos Céus. Se Jesus tivesse nascido em Nazaré, é verdade que ainda assim teria nascido pobre, mas, pelo menos, teria tido um quarto seco, um pouco de fogo, paninhos quentes e um berço confortável e cômodo. Mas não, Ele quis nascer naquela gruta fria e sem fogo; quis que uma manjedoura lhe servisse de berço, e um pouco de palha espinhosa lhe servisse de leito para mais sofrer.

Entremos, pois, na gruta de Belém, mas com fé. Se entrarmos sem fé, não veremos outra coisa que um pobre Menino que nos leva à compaixão ao fitá-lo assim tão belo, que treme e chora por causa do frio e da palha que o espeta. Mas se entrarmos com fé e pensarmos que esse Menino é o Filho de Deus, que, por amor de nós, veio à terra e sofreu tanto para pagar os nossos pecados, como será possível não agradecer-Lhe e não O amar?

 

 

Afetos e súplicas

 

Meu doce Menino, como eu, sabendo o quanto sofrestes por mim, pude Vos ser tão ingrato dando-Vos tanto desgosto? mas essas lágrimas que asperge, essa pobreza que elegeu por amor de mim, fazem-me esperar o perdão das ofensas que Vos fiz. Arrependo-me, meu Jesus, de tantas vezes em que vos dei as costas e amo-Vos sobre todas as coisas. Meu Deus, de hoje em diante, havereis de ser o meu único tesouro e todo o meu bem. Eu Vos direi com Santo Inácio de Loyola: Daí-me o Vosso amor, daí-me a Vossa graça e sou suficientemente rico. Nada mais quero, nada desejo, apenas Vós me bastais, meu Jesus, minha vida, meu amor.

 

MEDITAÇÃO IV

Sobre a vida humilde que Cristo levou desde menino

 

Todos os sinais que o anjo deu aos pastores para encontrar o Salvador já nascido foram sinais de humildade. Este é o sinal, disse o anjo, para achar o Messias que nasceu: encontrá-lo-eis, menino, envolto em pobres paninhos, dentro de uma estábulo e posto sobre a palha em uma manjedoura de animais (cf. Lc 2,72).

 

Assim quis nascer o Rei do Céu, o Filho de Deus, enquanto vinha destruir a soberba que foi a causa da queda do homem. Já os Profetas predisseram que o nosso Redentor devia ser tratado como o homem mais vil da terra e saciado de opróbrios. Quantos desprezos não teve Jesus que sofrer dos homens! Foi tratado  como bêbado, mago, blasfemador e herege. Quantas ignomínias depois na Sua Paixão! Foi abandonado pelos Seus próprios discípulos, até um o vendeu por trinta dinheiros e outro negou que o conhecia; foi conduzido pelas ruas amarrado como um vilão, flagelado como um escravo, tratado de louco, de rei de comédia, esbofeteado, cuspido em face, e finalmente morto, pregado  a uma Cruz entre dois ladrões, como o pior malfeitor do mundo. Então, diz São Bernardo, o mais nobre de todos foi tratado como o mais vil de todos! Mas, meu Jesus, acrescenta o santo: “Quanto mais Vós me apareceis aviltado e desprezado, tanto mais Vos tornais, para mim, caro e amável”.

 

Afetos e súplicas

 

Ó meu doce Salvador, Vós abraçastes tantos desprezos por amor de mim, e eu não pude suportar uma palavra de injúria, e logo pensei em me vingar! Eu, que tantas vezes mereci ser calcado pelos demônios no inferno! Envergonho-me de aparecer diante de Vós, pecador e soberbo! Senhor, não me repilais de Vossa Face, como eu mereceria. Vós dissestes que não sabeis desprezar um coração que se arrepende e se humilha. Arrependo-me de tantos desgostos que Vos dei. Perdoai-me, meu Jesus, que eu não Vos quero mais ofender. Vós sofrestes, por meu amor, tantas injúrias: eu, por amor de Vós, quero sofrer todas as injúrias que me serão feitas. Amo-Vos, meu Jesus desprezado por mim, amo-Vos, meu bem acima de todo bem. Dai-me o auxílio para sempre Vos amar, e para sofrer toda afronta por amor de Vós.

Ó Maria, recomendai-me ao vosso Filho, pede a Jesus por mim.

 

MEDITAÇÃO V

Sobre a vida atribulada que Cristo teve desde o nascimento

 

Jesus Cristo podia salvar o homem sem sofrer e sem morrer; mas não, para nos fazer conhecer o quanto nos amava quis eleger para Si uma vida toda atribulada. Por isso, o profeta Isaías O chamou homem das dores, porque a vida de Jesus Cristo devia ser uma vida cheia de dores. A Sua Paixão não começou no tempo de Sua Morte, mas desde o princípio de Sua vida.

 

Eis que logo que nasceu foi posto num estábulo, onde para Jesus tudo foi tormento. É atormentada a vista com olhar naquela gruta nada além que paredes ásperas e negras. É atormentado o olfato com o cheiro de estrume dos animais que lá estavam. É atormentado o tato com as pontadas da palha que Lhe servia de leito. Logo após ter nascido foi obrigado a fugir para o Egito, onde viveu mais anos em sua infância pobre e desprezado. Pouco diferente foi a vida em Nazaré. Finalmente termina a vida em Jerusalém, morrendo sobre uma Cruz em meio a tormentos.

 

Assim a vida de Jesus foi um contínuo sofrer, antes, um duplo sofrer, tendo sempre diante de Seus olhos todas as penas que deviam afligi-Lo até a morte. Irmã Maria Maddalena Orsini, lamentando-se um dia com o crucifixo, disse-Lhe: “Mas, Senhor, Vós por três horas esteve na Cruz, eu há muitos anos que sofro esta pena”. Mas Jesus lhe respondeu: “Ah ingrata, que dizes? Eu desde o útero de minha Mãe sofri todas as penas da minha vida e da minha morte”. 

Não tanto O afligiram a Jesus todas aquelas penas – porque as quis voluntariamente sofrer – quanto ver os nossos pecados e a nossa ingratidão a tanto amor Seu. Santa Margarida di Cortona não se saciava de chorar as ofensas feitas a Deus, quando um dia lhe disse o confessor: “Margarida, chega, não chores mais, porque Deus já te perdoou”. Mas ela respondeu: “Ah, padre, como posso parar de chorar, sabendo que os meus pecados afligiram a Jesus Cristo durante toda a Sua vida?”.

 

Afetos e súplicas

Então, doce amor meu, eu com meus pecados Vos mantive aflito em toda a Vossa vida? Mas, meu Jesus, dizei-me o que devo fazer, para que Vós me possais perdoar, que eu tudo quero fazer.

 

Arrependo-me, ó Sumo Bem, de quantas ofensas que Vos fiz. Arrependo-me e amo-Vos mais que a mim mesmo. Sinto em mim um grande desejo de Vos amar; esse desejo dai-me: dai-me, pois, força para Vos amar tanto. É justo que Vos ame tanto quem tanto Vos ofendeu. Recordai-me sempre o amor que tivestes por mim, para que minha alma arda de amor sempre por Vós, em Vós sempre pense, só a Vós deseje e só a Vós deseje agradar. Ó Deus de amor, eu que um tempo fui escravo do inferno, agora dou-me inteiro a Vós. Aceitai-me por piedade e amarrai-me com Vosso amor. Meu Jesus, de hoje em diante, quero viver sempre Vos amando e amando-Vos quero morrer.

Ó Maria, Mãe e Esperança minha, ajudai-me a amar o vosso e meu caro Deus; esta graça por vós busco e de vós espero.

 

MEDITAÇÃO VI

Sobre a Misericórdia de Deus em ter vindo do Céu para nos salvar com a Sua Morte

 

São Paulo diz: Benignitas, et humanitas apparuit Salvatoris nostri Dei (Tt 3, 4). Quando apareceu na Terra o Filho de Deus feito homem, então se viu quanto era grande a bondade de Deus para nós. São Bernardo escreveu que antes manifestara Deus o seu poder ao criar o mundo, a sua Sabedoria em o conservar; mas a Sua Misericórdia manifestou-se mais quando tomou a carne humana para salvar com suas penas e com sua Morte os homens perdidos. E qual maior misericórdia podia usar conosco o Filho de Deus do que assumir sobre Si as penas merecidas por nós?

Ei-Lo nascido Menino débil e enfaixado dentro de uma manjedoura, que não podia mover-Se nem Se alimentar por Si mesmo: tem necessidade que Maria Lhe dê um pouco de leite para sustentar a Sua vida. Ei-Lo, depois, no pretório de Pilatos, amarrado a uma coluna com cordas das quais não Se pode desvencilhar e lá é flagelado da cabeça aos pés. Ei-Lo na via ao Calvário que pela fraqueza e pelo peso da Cruz que carrega vai caindo pelo caminho. Ei-Lo finalmente pregado àquele madeiro infame, onde termina sua vida em meio às dores.

Jesus Cristo com o Seu amor quis ganhar para Si todo o amor dos nossos corações, e por isso não quis mandar um anjo para nos redimir, mas quis vir Ele mesmo para no salvar com a Sua Paixão. Se um anjo fosse o nosso redentor, o homem teria que dividir o seu coração, amando a Deus como o seu Criador e o anjo como seu redentor; mas Deus que queria todo o coração do homem, assim como já era seu Criador, quis ser ainda o seu Redentor.

 

Afetos e súplicas

Ah, meu caro Redentor, e onde estaria eu nesta hora se Vós não me tivestes suportado com tanta paciência, mas me tivestes feito morrer quando eu estava em pecado? Uma vez que me esperou até agora, meu Jesus, perdoai-me logo, antes que a morte me encontre réu de tantas ofensas que Vos fiz. Arrependo-me, ó Sumo Bem, de Vos ter assim desprezado, gostaria de morrer de dor por isso. Vós não sabeis abandonar uma alma que Vos busca; se no passado Vos deixei, agora Vos busco e Vos amo. Sim, meu Deus amo-Vos sobre todas as coisas, amo-Vos mais do que a mim mesmo. Ajudai-me, Senhor, a Vos amar para sempre no que de vida me resta; outra coisa não Vos peço; Vo-lo peço e o espero.

Maria, minha Esperança, rogai por mim: se vós rogais, estou seguro da graça.

 

MEDITAÇÃO VII

Sobre a viagem do Menino Jesus ao Egito

 

Vem do Céu o Filho de Deus para salvar os homens, mas logo que nasceu esses homens o perseguiram com a morte. Herodes, temendo que esse Menino lhe tomasse o reino, buscou mata-Lo e, por isso, São José foi avisado pelo anjo em sonho, para tomar Jesus com Sua Mãe e fugir para o Egito.

José logo obedece e avisa a Maria; toma aquelas poucas ferramentas do seu comércio, que serviam para ter meios de vida no Egito junto com a sua pobre família. Maria, por outra parte, junta uma trouxa de panos que deviam depois servir para o Santo Menino; e, depois, se apóia na borda do berço e chorando diz ao Filho que dorme: Ó meu Filho e Deus, Vós viestes do Céu para salvar os homens, e estes, logo que nascestes, buscam Vos tirar a vida? Toma-O, entretanto, e continuando a chorar, na mesma noite, junto com José, põe-se a viajar.

Consideremos quanto deviam sofrer estes santos peregrinos fazendo uma viagem tão longa e sem nenhuma comodidade. O Menino não estava apto ainda para caminhar, assim cada um devia levá-Lo em seus braços, ora Maria, ora José. Ao passar pelo deserto do Egito naquelas noites, a terra nua lhes serve de leito, dormem ao ar livre. Chora o Menino pelo frio, e choram juntos José e Maria por compaixão. E quem não choraria ao ver o Filho de Deus, que pobre e perseguido vai fugindo errante pela Terra, para não ser morto pelos seus inimigos.

 

Afetos e súplicas

Ó caro Menino meu, Vós chorais e bem tendes razão de chorar em ver-Vos assim perseguido pelos homens que tanto amais. Ó Deus, que também eu um tempo persegui com os meus pecados; mas sabei que agora Vos amo mais do que a mim mesmo e não tenho pena de que mais me aflija do que me recordar de ter assim Vos desprezado, meu Sumo Bem. Perdoai-me, meu Jesus, e permiti-me que Vos leve comigo, no meu coração em toda a viagem da vida que me falta fazer, para entrar junto convosco na eternidade. Tantas vezes Vos  bani da minha alma ofendendo-Vos, mas agora Vos amo sobre todas as coisas e arrependo-me, acima de  todos os males, de Vos ter ofendido.

Meu amado Senhor, não quero deixar-Vos mais, mas dai-me força para resistir às tentações; não permitais que me separe mais de Vós, fazei-me antes morrer do que perder outra vez a Vossa graça.

Ó Maria, Esperança minha, fazei-me sempre viver e morrer amando a Deus.

 

MEDITAÇÃO VIII

Sobre a vida do Menino Jesus no Egito e em Nazaré

 

O nosso Redentor passou a sua primeira infância no Egito, levando uma vida, por sete anos, pobre e desprezada. Lá José e Maria eram forasteiros e desconhecidos, não tinham nem parentes nem amigos; por isso com dificuldade se sustentavam durante o dia com as fadigas de suas mãos. Pobre era sua casa, pobre, o leito, e pobre o alimento. Nessa casinha Maria desmamou a Jesus. Primeiro, amamentava-o, depois alimentava-o com a mão: tomava da tigela um pouco de pão desfeito em água e o colocava na sacra boca do Filho. Naquela casa, ela Lhe fez a primeira roupa, tirou-o das bandas de pano e começou a vesti-Lo. Naquela casa Jesus Menino começou a dar os primeiros passos, mas tremendo e caindo muitas vezes, como acontece às outras crianças. Ali começou a proferir as primeiras palavras, mas balbuciando, ó maravilha! A quê se reduziu um Deus por amor de nós! Um Deus tremer e cair caminhando! Um Deus balbuciar, falando!

 

Não diferente foi depois a vida pobre e abjeta que teve Jesus na casa de Nazaré depois de voltar do Egito. Ali até a idade de trinta anos não teve outro ofício que de simples aprendiz de carpinteiro, obedecendo a José e a Maria. Et erat subditus illis (Lc 2,51).

Jesus ia tomar água, Jesus abria e fechava a carpintaria, Jesus varria a casa, recolhia os fragmentos de madeira para o fogo, e fadigava o dia inteiro a ajudar José nos seus trabalhos. Ó estupor! Um Deus que serve de aprendiz! Um Deus que varre a casa! Um Deus que se fadiga e sua para desbastar a madeira! Quem? Um Deus onipotente que com um aceno criou o mundo e pode destruí-lo quando quiser! Ah como um pensamento desses nos deveria enternecer de amor!

Que coisa doce era observar a devoção com que Jesus fazia oração, a paciência com que trabalhava, a prontidão com que obedecia, a modéstia com que se alimentava e a doçura e afabilidade com que falava e conversava! Ah que cada palavra, cada ação de Jesus era tão santa que admirava a todos, mas especialmente Maria e José que sempre o estavam observando.

 

Afetos e súplicas

 

Ó Jesus meu Salvador, quando penso que Vós, meu Deus, Vos guardastes tantos anos por amor de mim, escondido e desprezado em uma pobre casinha, como posso desejar afeições, honras e riquezas mundanas? Renuncio a todos esses bens e quero ser Vosso companheiro nesta Terra, pobre como Vós, mortificado como Vós e como Vós desprezado; assim espero poder gozar um dia então a Vossa companhia no Paraíso. Que reinos, que tesouros o quê! Vós, Jesus, haveis de ser o meu único tesouro, o meu único bem. Lamento sumamente que no passado tenha tantas vezes desprezado a Vossa amizade para satisfazer aos meus caprichos; disso arrependo-me com todo o coração. Para o futuro quero antes perder mil vezes a vida do que perder a Vossa graça. Meu Deus, não Vos quero mais ofender, e quero sempre amar-Vos. Dai-me o auxílio para Vos ser fiel até a morte.

Maria, sois o refúgio dos pecadores, sois a minha esperança.

 

MEDITAÇÃO IX

Sobre o Nascimento do Menino Jesus na gruta de Belém

 

Tendo já sido publicado o édito do Imperador de Roma para que fosse cada um a se recensear na sua pátria, parte José com sua esposa Maria para se irem recensear em Belém.

Ó Deus, quanto devia sofrer a Virgem Santa nessa viagem, que foi de quatro dias, por caminhos de montanha e em tempo de inverno, com frio, ventos e chuvas! Chegando lá, veio o tempo do parto; e José se pôs a buscar naquela cidade um lugar onde pudesse Maria dar à luz. Mas porque são pobres, são rejeitados por todos: são rejeitados até na hospedaria, onde os outros pobres tinham sido acolhidos. E naquela noite saíram da cidade e acharam uma gruta, onde entrou Maria.

Mas José lhe disse: – Minha Esposa, como queres estar esta noite neste lugar tão úmido e frio e aqui dar à luz? Não vês que é estábulo de animais? Mas Maria respondeu: – Meu José, é também verdade que esta gruta é o palácio real em que quer nascer o Filho de Deus. E eis que chegada a hora do parto, estando a Santíssima Virgem ajoelhada em oração, vê toda iluminada aquela gruta por grande luz, abaixa os olhos e eis que vê já nascido em terra o Filho de Deus, tenro Menino que treme de frio e chora; quando primeiro O adora como seu Deus, depois O coloca no colo e o enfaixa com aqueles pobres paninhos que levara e finalmente, assim enfaixado, O coloca a jazer dentro de uma manjedoura sobre a palha.

Eis como quis nascer o Filho do Eterno Pai por nosso amor. Dizia Santa Maria Maddalena di Pazzi que as almas apaixonadas por Jesus Cristo estando aos pés do Santo Menino devem fazer a função dos animais do estábulo de Belém, que com sua respiração aqueciam a Jesus; e assim essas almas devem também aquecê-Lo com os suspiros de amor.

 

Afetos e súplicas

Meu adorado Menino, não me atreveria a estar aos Vossos pés, se não soubesse que Vós mesmo me convidais a me aproximar de Vós. Eu sou o que com os meus pecados Vos fiz derramar tantas lágrimas no estábulo de Belém. Mas já que Vós viestes à Terra para perdoar os pecadores arrependidos, perdoai-me ainda, enquanto me arrependo sumamente de Vos ter desprezado, meu Salvador e Deus, que sois tão bom e que tanto me amastes. Vós, que nesta noite, dispensais grandes graças a muitas almas, consolai ainda a minha alma. A graça que quero é a graça de Vos amar, de hoje em diante, com todo o meu coração; inflamai-me todo com Vosso Santo Amor. Amo-Vos, meu Deus feito Menino por mim. Não permitais nunca que deixe de Vos amar.

Ó Maria, minha Mãe, vós tudo podeis com vossas orações, outra coisa não vos peço: rogai por mim a Jesus.

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