Nota da Permanência:
Siri Lanka, 21 de abril de 2019. Um grupo de muçulmanos se lançou contra três igrejas deixando um saldo de mais de 200 mortos.
Não se tratou de um caso isolado, no entanto, e sim de apenas um capítulo a mais na longuíssima lista dos crimes do islamismo.
Todos se lembram do massacre do Bataclan ou do assassinato do Padre Hamel, na França; ou ainda, dos atentados do Domingo de Ramos de 2017, no Egito, que deixaram 47 mortos, ou dos ataques em Barcelona no mesmo ano, deixando muitos mortos e mais de cem feridos. Os atentados de 11 de setembro permanecem nas memórias de todos.
No entanto, é pouco conhecida a real extensão da perseguição religiosa atual no mundo islâmico. Afeganistão, Iraque, Egito, Nigéria e Paquistão são alguns dos países em que ela se mostra sistemática, geral e sangrenta. É criminosa a omissão da imprensa em noticiar esses fatos.
O mérito do texto que apresentamos em seguida, tirado do artigo Muslim Persecution of Christians, é precisamente o de revelar a extensão dos horrores que ocorrem nas terras de Alah.
Advertimos o leitor, contudo, contra o uso do termo “cristãos” – adotado pelo autor para designar comumente católicos, protestantes e ortodoxos. Se aos olhos dos algozes islâmicos não há diferença entre eles, tal como a água e o azeite, não se misturam a Verdade e o erro.
Atual perseguição religiosa no mundo islâmico
Robert Spencer
A imagem popular das Cruzadas apresenta os guerreiros ocidentais aterrorizando os infiéis, convertendo-os à força, expulsando-os de suas terras e impondo-lhes governos cristãos. Muitos acreditam que elas ainda existem e não são meras ruínas da História. Para evitar as acusações de estar seguindo seus “passos negros”, o presidente George W. Bush retirou tal palavra do seu vocabulário, logo que os europeus o repreenderam por referir-se a uma “cruzada americana contra o terrorismo”. De fato, as Cruzadas foram uma tentativa de resgatar as terras cristãs que o Islã conquistou, mas hoje o que se vê é a ocultação do poderio islâmico ressurgente – uma realidade temível – pela doutrina do “politicamente correto”. Não existem cruzadas cristãs em curso, mas apenas uma irresoluta e inconsistente campanha contra o terrorismo; a única ofensiva religiosa atual é a perseguição implacável e brutal de cristãos em territórios islâmicos, como não se via desde os tempos do Império Otomano.
A partir da fatwa infame de Osama Bin Laden contra “judeus e cruzados” decretada em 1998, os jihadistas declararam guerra ao Ocidente, justificando seus ataques como campanhas de defesa a uma suposta guerra santa cristã. Em janeiro de 2011, o jornalista de esquerda Seymour Hersh repetiu essa teoria no Qatar, e afirmou que o general aposentado Stanley McChrystal, junto com militares que estavam de serviço nas unidades de operações especiais, integrava uma conspiração cujo objetivo era promover uma cruzada contra os muçulmanos: “Eles sabem muito bem o que estão fazendo, essa não é uma atitude incomum entre os militares; sem dúvida, trata-se de uma cruzada. Eles se consideram os defensores dos cristãos e, como no século XIII, protegem-nos dos muçulmanos. É a tarefa deles” 1.
Eis aí mais uma acusação absurda da imprensa. Se McCrystal e os militares realmente se considerassem “os protetores dos cristãos”, sua missão estaria sendo um completo fiasco. O Iraque, por exemplo, é hoje uma república islâmica que instituiu a sharia em sua constituição. A perseguição muçulmana contra os cristãos irrompeu em todo o mundo nesta última década e agora está pior do que nunca. O porta-voz católico-copta, Pe. Rafic Greische, veiculou um pedido de ajuda, entre os muitos que se ouviram recentemente, pela Rádio do Vaticano em dezembro de 2010: “Os fanáticos islâmicos (...) pretendem evacuar os cristãos do Oriente Médio, e esse plano vem sendo executado dia após dia” 2.
Do Egito à Nigéria, do Iraque ao Paquistão, os cristãos que vivem em países de maioria muçulmana enfrentam um terrível presente e um futuro mais incerto que nunca, à medida que os jihadistas aumentam os esforços para islamizá-los, expulsá-los de suas terras ou matá-los de imediato.
No entanto, o mundo continua a lhes virar o rosto. Com medo de ofender a sensibilidade dos seguidores de Maomé, a comunidade internacional tem ignorado a perseguição e permitido que ela prossiga sob o manto do silêncio. Incontestado, o massacre de cristãos tornou-se um caso sombrio e comum nas áreas citadas. Um dos aspectos perturbadores dessas perseguições é que não há outro exemplo atual de violência em que a intolerância, o ódio e o derramamento de sangue sejam legitimados por escrituras sagradas, neste caso o Corão e outros textos e doutrinas do Islã. Os países de domínio islâmico são os locais onde o fanatismo religioso alcança seus resultados mais sangrentos. Em nenhum outro lugar do mundo a intolerância religiosa é praticada sem os comentários relevantes e, tampouco, sem as denúncias das organizações de direitos humanos.
Um exemplo de como a grande mídia e as organizações internacionais evitam detalhar a dura realidade da perseguição de cristãos pode se ver numa matéria publicada pela agência de notícias Associated Press, em janeiro de 2011. A notícia falava do assassinato de seis cristãos nigerianos por fanáticos islâmicos armados de facões. O título era “Seis mortos em confrontos religiosos na região central da Nigéria”, dando a entender que a causa do problema foi um “confronto entre seitas”, no qual os dois grupos tiveram responsabilidade. Lê-se no primeiro parágrafo da manchete: “Autoridades afirmam que agressores armados de facões mataram seis pessoas em dois ataques a vilarejos cristãos na região central da Nigéria” 3. Reconheceram-se as vítimas logo no início da matéria, porém os agressores muçulmanos só foram identificados no final e, mesmo assim, mencionados num contexto de retaliação a ataques anteriores de cristãos a muçulmanos. A minoria cristã da Nigéria tem, de fato, revidado a alguns ataques, mas a verdade é que os jihadistas são os agressores e deram início ao conflito. No entanto, nunca se saberia a verdade através das informações divulgadas pela Associated Press.
A perseguição muçulmana a cristãos em 2010 e 2011 alcançou níveis sem precedentes. Mesmo assim, as organizações de direitos humanos noticiaram as atrocidades de maneira superficial, e os líderes mundiais deram de ombros. Cristãos, evidentemente, não são vítimas politicamente corretas, e por isso o seu sofrimento continua a ser acobertado.
Iraque
A história do cristianismo no Iraque remonta ao século I, quando os assírios se converteram à fé cristã. No começo da Idade Média, a Igreja Nestoriana, estabelecida naquela região, expandiu-se por toda a Ásia e adentrou a China – até que seu esplendor e influência foram arruinados pelos invasores mongóis, que logo adotaram o islamismo, uma crença que casou bem com o seu espírito guerreiro.
Antes da Guerra do Golfo, algumas estimativas apontavam que o número de cristãos no Iraque orçava em torno de 1 milhão; desde 2003, todavia, mais da metade dos cristãos iraquianos fugiu do país. Isso não significa que o regime brutal de Saddam Hussein, derrubado pelos americanos, fosse hospitaleiro com os cristãos locais. Até durante o governo algo secular de Saddam, que tinha como primeiro ministro o católico caldeu Tariq Azis, a pequena comunidade cristã sofria com a violência aleatória da maioria muçulmana. Além das perseguições – que incluíam assassinatos – as mulheres cristãs eram amiúde pressionadas a renunciar a sua fé e a casar com muçulmanos 4.
Atualmente a situação tem se agravado: Saddam não havia imposto de todo a lei islâmica que determinava a submissão dos cristãos, mas hoje vários grupos armados estão decididos a fazê-lo, punindo os cristãos desobedientes. Jihadistas bombardearam 40 igrejas iraquianas entre 2004 e 2011 – sete num único dia, na véspera do Natal ortodoxo de 2007 5. O ataque mais notório ocorreu em 31 de outubro de 2010, domingo, quando jihadistas invadiram a igreja de Nossa Senhora da Salvação, em Bagdá, e assassinaram fiéis a sangue-frio; 68 pessoas foram mortas 6.
Ainda no ano de 2010 cristãos iraquianos relataram como jihadistas mascarados haviam invadido suas residências no meio da noite e lhes advertido: “Convertam-se ao Islã ou retirem-se, caso contrário vão morrer” 7. Os cristãos do país estão fugindo para Síria ou, quando podem, para fora do Oriente Médio. Um empresário iraquiano que vive na Síria lamenta: “75% de meus amigos cristãos fugiram. Não temos futuro no Iraque” 8. Ao fugir para uma região cristã no Curdistão, no final de 2010, Ban Daub, uma sobrevivente do massacre na igreja de Nossa Senhora da Salvação, explica: “Tememos por nossos filhos e nossas crianças” 9. Outro refugiado em Istambul, perguntado se planejava retornar ao Iraque, respondeu: “Voltar para quê? Para morrer?” 10 Após a Suécia deportar vários refugiados cristãos para o Iraque no final de 2010, oficiais iraquianos se reuniram com os governantes daquele país e lhes pediram que interrompessem a devolução: “Não podemos receber os refugiados iraquianos, deportados à força da Suécia,” explicou um diplomata, “não temos condições de protegê-los; correrão risco de vida no Iraque” 11.
Os cristãos que permanecem no país vivem o perigo diário dos ataques aleatórios da jihad. Em dezembro de 2010, logo após um grupo islâmico ter anunciado planos de assassinar alguns seguidores de Cristo, os jihadistas colocaram bombas ao redor de pelo menos 14 lares cristãos em Bagdá. Duas pessoas morreram e 20 ficaram feridas. Younadim Yousin, um membro cristão do Parlamento, declarou: “O governo possui responsabilidade integral por esses ataques, pois prometeu proteção aos cristãos. Creio que existe uma cumplicidade entre as forças armadas e os rebeldes na execução dos ataques. É inacreditável que os fanáticos tenham conseguido colocar mais de dez bombas caseiras em locais tão distantes entre si” 12.
Ameaças semelhantes levaram cristãos de Kirkuk, Mosul e Basra a cancelar as celebrações de Natal em 2010, preferindo permanecer longe das vistas e das igrejas – alvos dos radicais 13. Recorrer às autoridades também não era uma opção viável: em dezembro de 2010, um cristão iraquiano denunciou que seus correligionários temiam dirigir-se aos oficiais iraquianos, pois “ao contatar as autoridades precisamos nos identificar, e nada nos garante que as pessoas que nos ameaçam não fazem parte do governo, o qual deveria nos proteger” 14.
Em janeiro de 2011, num incidente infelizmente comum, os jihadistas invadiram o hospital Mosul`s Rabi`a e atiraram à queima roupa em Nuyia Youssif Nuyia, uma cardiologista cristã que ali trabalhava 15.
No mesmo mês, jihadistas armados de pistolas e canos de aço invadiram a Associação Cultural Ashurbanipal, uma ONG cristã. Enquanto roubavam computadores, telefones celulares e documentos, acusavam os cristãos presentes: “Vocês são criminosos. Aqui não é o seu lugar. Saiam imediatamente. Este é um Estado islâmico” 16.
O alvo mais visado dos fanáticos é o clero. Em 5 de abril de 2008, Youssef Adel, um padre ortodoxo assírio da igreja de São Pedro e São Paulo, em Bagdá, foi assassinado por tiros provenientes de um carro em movimento, enquanto abria o portão de sua casa 17. Esse ataque ocorreu poucas semanas depois da morte do arcebispo Paulos Faraj Rahho, da Igreja Católica Caldeia, seqüestrado na cidade de Mosul, em 29 de fevereiro, junto com três cristãos que também foram mortos. Em 12 de março, os seqüestradores telefonaram para uma igreja dessa cidade avisando que o arcebispo estava morto e indicando onde poderiam encontrar o cadáver 18.
Ataques como esse ocorrem há anos. Em outubro de 2006, Pe. Boulos Iskander, um padre ortodoxo sírio, saiu para comprar peças de carro na cidade iraquiana de Mosul. Nunca mais foi visto. Um grupo o seqüestrou e inicialmente exigiu 350.000 dólares pelo resgate; por fim diminuíram o valor para 40.000 dólares, mas acrescentaram uma nova exigência: a paróquia do Pe. Boulos teria de condenar os comentários feitos pelo Papa Bento XVI no mês anterior em Regensburn, Alemanha, os quais provocaram muita revolta no mundo islâmico. O resgate foi pago e a igreja, obediente, colou 30 grandes cartazes por toda a cidade denunciando os comentários do Papa. Mas não adiantou: Pe. Boulos foi decapitado.
500 cristãos foram ao funeral. Ao olhar a multidão, outro padre comentou: “Muitos queriam vir aqui hoje, mas tiveram medo. Estamos numa situação terrível” 19.
Os anos de intervenção americana não trouxeram alívio para os cristãos remanescentes no Iraque.
Egito
Antes da conquista islâmica no século VII, o Egito era um dos principais centros do cristianismo. Conta-se que o evangelista Marcos pregou ali, e o patriarcado de Alexandria foi durante muitos séculos uma das principais dioceses da Igreja, um centro de desenvolvimento teológico e litúrgico. Santo Atanásio (295 – 373), principal formulador do Credo de Nicéia, era egípcio, assim como Santo Antão, pioneiro do monaquismo. Na época da conquista islâmica 99% da população egípcia era cristã.
Aonde eles foram? A maioria das pessoas presume que se tornaram muçulmanos ao longo dos séculos, atraídos pela “luz do Islã”. Alguns historiadores dizem que os povos conquistados pelos primeiros muçulmanos alegraram-se por terem se livrado dos governantes bizantinos, homens corruptos, e assim receberam bem os invasores. A história verdadeira, entretanto, não é tão alegre. O livro The Decline of Eastern Christianity Under Islam, da historiadora Bat Ye`or, reconta a história que tanto o Ocidente como o mundo islâmico gostariam de varrer para debaixo do tapete:
Sofrônio de Jerusalém, no seu sermão do dia da Epifania de 636, lamentava a destruição de igrejas e monastérios, o saque de cidades, os campos depredados e as vilas queimadas pelos nômades que invadiam o país. Numa carta do mesmo ano para o Patriarca Sérgio de Constantinopla, ele menciona a devastação causada pelos árabes. Milhares de pessoas pereceram no ano de 639, vítimas da fome e das pragas resultantes da destruição 20.
Eis um relato da mesma época acerca da chegada dos muçulmanos em Nikiou, cidade egípcia, por volta do ano 640:
Então os muçulmanos chegaram a Nikiou. Não havia um soldado sequer para enfrentá-los. Eles tomaram a cidade e mataram todos os que encontraram nas ruas e igrejas – homens, mulheres e crianças, sem poupar ninguém. Seguiram para outros locais, saquearam e mataram os habitantes que ali residiam (...) mas paremos por aqui, pois é difícil descrever os horrores cometidos pelos muçulmanos quando ocuparam a ilha de Nikiou (...)
Tais horrores não envolviam apenas massacres, mas também exílio e escravização. As ações violavam um tratado previamente estabelecido:
O general Amr ibn al-As oprimiu o Egito. Ele enviou os habitantes desse país para lutar com os habitantes de Pentápolis [Tripolitania] e, após conseguir a vitória, não permitiu que lá ficassem. Ele tomou do Egito muitas riquezas e um grande número de prisioneiros (...) Os muçulmanos retornaram ao seu país com tesouros e cativos. As calamidades no Egito causavam imensa tristeza no Patriarca Ciro de Alexandria, pois Amr ibn al-As, que era de origem bárbara, não demonstrava misericórdia pelos egípcios e não cumpriu os acordos combinados.
Após chegarem ao poder, os muçulmanos começaram a arrecadar a jizia, o imposto sobre os infiéis:
(...) A posição de Amr ibn al-As se fortalecia a cada dia. Ele arrecadava os impostos estipulados (...). Tarefa dolorosa é descrever a posição lamentável dos habitantes da cidade, que chegaram ao ponto de oferecer suas crianças no lugar da imensa quantia que precisavam pagar a cada mês, sem encontrar ninguém para ajudá-los, porque Deus os havia abandonado e permitira que os cristãos caíssem nas mãos dos inimigos 21.
Após os muçulmanos conquistarem e submeterem os cristãos egípcios à discriminação institucionalizada – rebaixando-os ao estado de dhimmi – a comunidade cristã iniciou um lento e regular declínio que prossegue até hoje. Há séculos os cristãos coptas sofrem discriminação e abusos. Uma lei de 1856, cuja maior influência vem das antigas restrições islâmicas impostas às submissas comunidades de não muçulmanos (dhimmi), permanece nos livros até hoje e restringe severamente a construção de novas igrejas 22. Essa lei é parte de uma difusa tendência à discriminação. A organização Humans Rights Watch reportou em janeiro de 2011 que “apesar de a constituição egípcia garantir a igualdade de direitos, há muitos relatos de discriminação generalizada de egípcios cristãos” 23.
A situação dos seguidores de Cristo no Egito piorou ainda mais: os ataques de grupos terroristas a igrejas e pessoas tornaram-se comuns.
No final de 2010, os coptas começaram a viver num inaudito reino de terror. Um jihadista suicida se explodiu, matando 22 pessoas e ferindo oito na Igreja dos Santos, em Alexandria, na véspera do Ano Novo 24. Poucos dias depois, perto do Natal de 2011 (celebrado pelos coptas no dia 7 de janeiro), um site islâmico dava este conselho sinistro: “Explodam as igrejas quando eles estiverem celebrando o Natal ou em outra data na qual estejam lotadas. 25”
Em fevereiro de 2007, rumores sobre o relacionamento de um homem copta com uma muçulmana – ato proibido na lei islâmica – gerou uma revolta que culminou na destruição de várias lojas de proprietários cristãos no sul do país 26. Rumor semelhante induziu muçulmanos a queimarem lares cristãos numa região próxima, em novembro de 2010 27. Além dos ataques físicos, há também a proibição de falar livremente. Em agosto de 2007, dois coptas ativistas de direitos humanos foram presos por “publicar artigos e declarações prejudiciais ao Islã e insultar o profeta Maomé no site United Copts (www.unitedcopts.org)” 28.
O maltrato de cristãos no Egito é muitas vezes encarado com indiferença – ou cumplicidade – pelas autoridades egípcias. Em novembro de 2010, tropas locais abriram fogo sobre um grupo de cristãos desarmados que protestava contra a discriminação e violência praticadas na sociedade egípcia; quatro pessoas foram mortas 29. Em junho de 2007, rebeldes vandalizaram lojas, agrediram e feriram sete cristãos e depredaram duas igrejas coptas em Alexandria. A polícia permitiu que o bando circulasse livremente por uma hora e meia no quarteirão cristão da cidade, antes de intervir. O serviço de notícias Compass Direct News (que pesquisa incidentes de perseguição contra cristãos) observa:
Em abril de 2006, as igrejas de Alexandria sofreram três ataques, um cristão morreu esfaqueado e 12 ficaram feridos. O governo se mostrou incapaz ou indisposto a conter o vandalismo subseqüente em lojas de proprietários coptas e igrejas (...) 30
A provação por que Suhir Shihata Gouda passou exemplifica a experiência de muitos cristãos egípcios, e principalmente a das mulheres cristãs, perseguidas por homens muçulmanos 31. De acordo com a organização Jubilee Campaign, que registra incidentes de perseguição cristã:
[Uma mulher cristã chamada Suhir] foi seqüestrada em 25 de fevereiro [1999] por um grupo de islâmicos que a forçaram a se casar com um muçulmano. Após descobrir que sua filha não havia voltado da escola para casa, seu consternado pai Abu-Tisht correu até a delegacia para reportar a ocorrência, mas em vez de ajudá-lo, um policial o agrediu e ameaçou (...). Três dias depois, o pai e o irmão de Suhir retornaram à delegacia para tentar novamente pedir ajuda e foram submetidos aos mesmos abusos. O pai acabou internado num hospital em decorrência das agressões físicas do policial.
Suhir conseguiu fugir sozinha, mas foi recapturada e “apanhou por ter escapado; agora se encontra sob vigilância pesada.” Seu “marido” muçulmano foi até a casa do pai dela acompanhado de um grupo. Lá, ameaçou matar todos os homens cristãos na vila de Suhir e levar todas as mulheres, caso a família recorresse a medidas legais 32.
As autoridades islâmicas não estão dispostas a discutir a situação dos cristãos locais. Quando o Papa Bento XVI condenou a perseguição de cristãos no Egito e em todos os locais do Oriente Médio, a universidade Al-Azhar, no Cairo, a instituição sunita mais prestigiada do mundo islâmico, reagiu furiosamente, rompendo o diálogo com o Vaticano e acusando Bento XVI de interferir em assuntos internos do país. Numa declaração, a universidade denunciou as repetidas referências negativas do pontífice ao Islã e suas acusações aos muçulmanos que perseguem seus conterrâneos 33. Essa não foi a primeira vez que a Al-Azhar reagiu contra os denunciadores da perseguição cristã no Egito, em vez de reagir contra os perseguidores: poucas semanas antes de discordar das declarações do papa, ela exigiu que os coptas negassem uma notícia da imprensa americana sobre a perseguição de cristãos 34. O governo de Mubarak, nesse meio tempo, mandou o embaixador egípcio no Vaticano retornar 35.
A perseguição de cristãos coptas não se restringe ao Egito: os muçulmanos os estão ameaçando no mundo inteiro. O jornal The Canadian Press relatou em dezembro de 2010:
O site Shumukh-al-Islam, considerado muitas vezes o porta-voz da al-Qaeda, listou fotografias, endereços e números de telefones celulares de cristãos coptas, a maioria deles egípcio-canadenses e destacados militantes de oposição ao Islã. Junto a essas informações havia mensagens que pregavam o assassinato dos nomes da lista 36.
Com a queda do regime de Mubarak, a situação dos cristãos piorou. A grande probabilidade de a Irmandade Muçulmana desempenhar um papel importante no novo governo trouxe maus presságios aos cristãos, já que os regimes relativamente seculares de Nasser, Sadat e Mubarak, mais de uma vez velaram pelo lado mais fraco quando os extremistas muçulmanos aterrorizaram os seguidores de Cristo. Essas intervenções tinham o intuito de apaziguar as tropas da Irmandade e deste modo impedir que a organização derrubasse o governo. Agora que o governo se foi, os cristãos estão mais vulneráveis que nunca, e a Irmandade mais empenhada em tornar a vida deles um inferno, visto que no momento é grande a probabilidade de controlarem os rumos políticos do país.
Foi por isso que 2 mil cristãos protestaram no Cairo, em fevereiro de 2011, pedindo que a constituição egípcia garantisse um Estado laico. Apesar de o Egito não ter implementado plenamente a lei islâmica, o artigo dois da sua constituição estipula que
o Islã é a religião do Estado. O árabe é sua língua oficial e a principal fonte de legislação é a jurisprudência islâmica (sharia).
Os manifestantes gritavam: “Diga ao povo que a revolução se fez com a cruz e a crescente!” Um deles declarou: “Sacrificamos nossas almas pelo bem do Egito, nosso objetivo era um Estado civil e não religioso. Vim aqui pedir igualdade, a constituição precisa ser modificada e o artigo dois removido” 37.
Mas tal desfecho é muito improvável, já que o clérigo mais influente do mundo muçulmano, o líder da Irmandade Muçulmana Xeique Yusuf al-Qaradawi, que chamou a “Solução Final” de Hitler de “uma punição merecida pelos judeus”, pregou ante uma enorme multidão dois dias antes da demonstração do grupo cristão – muito menor.
Paquistão
No Paquistão a situação dos cristãos não é muito diferente. Os ataques e as falsas acusações de blasfêmia são tão freqüentes que há um movimento regular de conversões ao Islã, todas elas estimuladas pelo medo dos assédios legais e da violência dos grupos supremacistas 38. Em 2010, as acusações contra uma mulher cristã, Asia Bibi, ganharam destaque internacional e a lei paquistanesa sobre a blasfêmia foi muito criticada. No entanto, quando o governador de Punjab, Salman Taseer, manifestou-se a favor da revogação dessa lei, foi assassinado por um supremacista islâmico que dizia defendê-la 39.
E assim como a universidade Al-Azhar reagiu irada ante a condenação papal à perseguição de cristãos no Egito, grupos supremacistas do Paquistão se indignaram quando o pontífice pediu a revogação da lei nacional da blasfêmia. Farid Paracha, líder do Jamaat-i-Islami, o maior partido pró-sharia do Paquistão, declarou furioso: “A declaração do papa é um insulto aos muçulmanos de todo o mundo” 40. Grupos supremacistas fizeram comícios condenando a declaração do papa como “parte de uma conspiração que pretende colocar as religiões do mundo umas contra as outras,” – nas palavras do parlamentar paquistanês Sahibzada Fazal Karim 41.
Pe. Emmanuel Asi, presidente do Instituto Teológico de Leigos, em Lahore, e secretário da Comissão Bíblica do Paquistão, disse em agosto de 2007 que os cristãos paquistaneses não gozam dos mesmos direitos dos muçulmanos e são submetidos a diversas formas de discriminação. A agressão jihadista, afirma ele, pode acarretar “a qualquer momento todos os tipos de problemas imagináveis” aos cristãos 42. Assim como no Egito, os cristãos do Paquistão vêm sofrendo com a violência e as ameaças de grupos radicais. Em agosto de 2007, cristãos (e também hindus) em Peshawar, no norte, receberam cartas de um grupo jihadista ordenando que se convertessem ao islamismo em poucos dias, caso contrário, teriam a sua colônia arruinada. Essas ameaças não se concretizaram, mas de acordo com a agência de notícias Compass Direct, os cristãos continuam “a viver com medo, cancelando as atividades religiosas e se ausentando dos ofícios litúrgicos” 43.
No restante do mundo islâmico
A mesma história angustiante se repete em todo o mundo islâmico. O número de cristãos no Afeganistão é desconhecido. Eles geralmente vivem escondidos, não têm igrejas e, com medo de prisão ou algo pior, não ousam declarar abertamente sua religião. Um cristão afegão disse em 2011 que a situação havia piorado desde a queda do severo regime Taliban: “Costumava levar minha Bíblia para onde fosse – não o faço mais, tampouco digo que sou cristão, pois as pessoas pensariam que sou imoral” 44.
No começo de 2011, relatos de Beshno, uma cidade da Etiópia, denunciavam muçulmanos que atacavam cristãos e pregavam avisos nas portas de suas casas advertindo-lhes para se converterem ao Islã ou deixarem a cidade; os cristãos que permanecessem, diziam os avisos, seriam mortos. Muitos cristãos foram seriamente feridos, outros fugiram da cidade e alguns se converteram ao Islã 45.
Em junho de 2007, após jihadistas terem destruído uma igreja e uma escola, cristãos de Gaza apelaram para a comunidade internacional e pediram proteção 46. No Sudão, o regime de Cartum vem há anos promovendo uma sangrenta jihad contra os cristãos na parte sul do país, tendo já matado 2 milhões e desalojado 5 milhões 47. Na primavera de 2003, jihadistas queimaram até a morte um pastor sudanês e sua família enquanto realizavam um massacre despropositado em 59 vilarejos 48.
Na Nigéria, grupos muçulmanos incendeiam igrejas, impõem a sharia aos cristãos, e chicoteiam universitárias cristãs cujas vestimentas consideram impróprias 49. Na véspera de Natal de 2010, jihadistas assassinaram 86 cristãos em ataques a bomba realizados em várias igrejas 50. Esse padrão de violência remonta a 2001, quando cerca de 2 mil pessoas foram mortas em tumultos causados por muçulmanos na cidade de Jos. Por toda a Nigéria, jihadistas islâmicos continuam a tentar impor a sharia, a despeito da grande população cristã. Um relato advertia que em Jos “o conflito pode repetir-se, já que os militantes muçulmanos ainda estão inclinados a atacar os cristãos” 51. Comunidades de quase 2 mil anos, que remontam à aurora do cristianismo, diminuem num ritmo constante; a fé está prestes a desaparecer de uma vez por todas da região.
A total ausência de manifestações do cristianismo na Arábia Saudita não surpreende ninguém que esteja familiarizado com as origens do Islã. Declarou o profeta Maomé: “Vou expulsar os judeus e cristãos da Península Arábica e não deixarei senão muçulmanos” 52. De acordo com um recente manual legal, os cristãos são “proibidos de residir em Hijaz, região circundante a Meca, Medina e Yamama, por mais de três dias” 53. As estradas que levam até Meca e Medina possuem, a boa distância dos locais sagrados, saídas com a indicação: “Não muçulmanos devem sair por aqui”.
Punição para a liberdade de escolha: a morte
Os muçulmanos convertidos ao cristianismo são muitas vezes caçados no mundo islâmico, onde quase todas as autoridades religiosas concordam que tais indivíduos merecem a morte. O próprio Maomé ordenou tal punição: “Quem abandonar a religião islâmica deve ser morto” 54. Essa ainda é a posição de todas as escolas de jurisprudência islâmica, embora haja certa desavença sobre se a lei deva ser aplicada só para homens ou também para mulheres.
Na universidade Al-Azhar do Cairo, a instituição mais prestigiada e influente do mundo islâmico, um manual certificado como guia confiável de ortodoxia sunita afirma: “Quando uma pessoa chega à puberdade e de maneira racional e voluntária apostata do Islã, merece a morte.” Na lei islâmica, o direito de matar um apóstata é reservado ao líder da comunidade. Teoricamente, quando outros muçulmanos resolvem tomar a iniciativa por si sós, deveriam ser punidos, mas na prática um fiel que mata um apóstata não precisa pagar indenização ou realizar algum ato expiatório (como a lei islâmica exige para outros tipos de assassinato). Essa boa vontade com o assassino decorre da crença generalizada de que matar um apóstata é “matar alguém que merece a morte” 55.
O Islam Online, site controlado por um grupo de acadêmicos islâmicos, encabeçados pelo mundialmente influente Xeique Yusuf al-Qaradawi explica: “Se uma pessoa sã que atingiu a puberdade apostata voluntariamente do Islã, merece ser punida. Nesse caso, é obrigatório que o califa (ou seu representante) peça-lhe que se arrependa e retorne para o Islã. Se ele o fizer, é aceito de volta, mas se se recusar, deve ser morto na hora.” E se alguém não esperar o califa e resolver a questão com as próprias mãos? Embora o assassino precise ser “repreendido” por “arrogar para si o privilégio do califa e desrespeitar os seus direitos,” não há “necessidade de se pagar indenização (ou praticar alguma expiação) por matar um apóstata” – ou seja, não há punição significativa para o assassino 56.
Dois afegãos, Said Musa e Abdul Rahman, conhecem essa lei de perto. Ambos foram presos pelo crime de conversão ao cristianismo 57. A Constituição do Afeganistão estipula que “nenhuma lei pode ser contrária às crenças e prescrições da sagrada religião do Islã” 58. Mesmo após a prisão de Abdul Rahman, ocorrida em 2006, muitos analistas ocidentais demonstraram ter dificuldades para entender o verdadeiro significado dessa prescrição. Um “especialista em direitos humanos” citado pelo jornal Times, de Londres, resumiu a confusão difundida nos países ocidentais: “A constituição diz que o Islã é a religião do Afeganistão, no entanto menciona também a Declaração Universal de Direitos Humanos, cujo artigo 18 proíbe especificamente esse tipo de medida. Isso realça o problema que o poder judiciário enfrenta.” 59 Mas ao mesmo tempo em que a constituição afegã proclama seu “respeito” pela Declaração Universal de Direitos Humanos, ela declara que nenhuma lei pode contradizer a lei islâmica. A definição de liberdade religiosa é explícita: “O Islã é a religião da República do Afeganistão. Seguidores de outras religiões são livres para exercer sua fé e realizar seus ritos dentro dos limites estabelecidos pela lei. (ênfase nossa).”
A pena de morte para a apostasia está profundamente enraizada na cultura islâmica – o que explica por que a própria família de Abdul Rahman foi à polícia registrar uma queixa sobre a sua conversão. Independentemente de qual tenha sido a motivação da sua queixa em 2006, eles poderiam estar confiantes de que a polícia a receberia com máxima seriedade. Após uma série de protestos internacionais, Abdul Rahman por fim deixou o Afeganistão e foi para um local relativamente seguro na Itália. A despeito da publicidade, o seu caso foi exceção, como atesta o caso quase idêntico de Said Musa, ocorrido em Fevereiro de 2011. Não obstante a indignação internacional se manifestasse diante da prisão e do julgamento de Abdul Rahman, a comunidade mundial não demonstrou nenhum interesse por Said Musa. Talvez os anos de intervenção americana tenham acostumado os formadores de opinião às atrocidades islâmicas praticadas contra os cristãos.
Ao mesmo tempo, no Egito, em agosto de 2007, Mohammed Hegazy, um muçulmano convertido ao cristianismo, foi obrigado a se esconder após alguns clérigos islâmicos o terem sentenciado à morte. Ele se recusou a fugir do Egito e declarou: “Sei que há fatwas para derramar meu sangue, mas não irei desistir, não deixarei o país.” 60 No começo de 2008, seu pai disse aos jornais egípcios: “Vou tentar entrar em contato com meu filho e convencê-lo a retornar para o Islã. Se ele recusar, vou matá-lo com minhas próprias mãos.” Hegazy permanece escondido 61.
Perseguição de cristãos: tradição viva
A última expedição militar de Maomé foi contra os cristãos bizantinos da guarnição arábica de Tabuk, ao norte; pouco depois da morte do profeta, jihadistas conquistaram e islamizaram o que até então eram as terras cristãs do Oriente Médio, Norte da África e Espanha. Em seguida, a jihad voltou-se para Europa, seu alvo durante séculos. Em 1453 realizaram um grande feito: a conquista de Constantinopla. Em setembro de 1683, no entanto, o cerco otomano de Viena foi derrotado, e a maré islâmica na Europa começou a retroceder. Entretanto, as doutrinas que alimentavam a jihad contra os cristãos nunca foram reformadas ou rejeitadas por nenhum ramo islâmico.
Com a renovação dos sentimentos jihadistas entre os muçulmanos no século XX seguiu-se uma nova perseguição aos cristãos. Esta triste história contada por uma mulher que viveu durante o Império Otomano do fim do século XIX retrata bem o momento dessa renovação dentro de um lar:
Uma noite, meu marido chegou em casa e me disse que o padisha havia dado ordens para matar todos os cristãos da nossa vila, e teríamos que matar nossos vizinhos. Fiquei com muita raiva, e disse-lhe que eu não me importava com quem havia dado tais ordens, pois eram erradas. Os vizinhos sempre foram bons conosco, e se ele ousasse matá-los Alá iria nos castigar. Tentei tudo que pude para pará-lo, mas ele os matou – com suas próprias mãos 62.
A população cristã da Turquia declinou de 15% em 1920 para 1% nos dias de hoje; na Síria, declinou de 33% para 10% no mesmo curto período de tempo; em Belém, 85% da população era cristã em 1948; hoje, 12% conserva a fé fundada pelo mais ilustre filho da cidade 63. Os fardos do passado ainda pesam no presente dos cristãos no mundo islâmico. O Xeique Omar Bakri Muhammad, um controverso líder islâmico favorável a Osama Bin Laden, que viveu anos na Inglaterra mas hoje é proibido de entrar lá, escreveu em outubro de 2002: “Não podemos simplesmente dizer que, porque não temos nenhum khilafah (califado), podemos matar qualquer não muçulmano; em vez disso, devemos estabelecer a dhimmah 64.” A dhimmah é o contrato islâmico de proteção a judeus, cristãos e outros sob domínio islâmico; os que aceitam essa proteção e a concomitante privação de vários direitos, são conhecidos como os dhimmi.
De acordo com Jonathan Adelman e Agota Kuperman, da Foundation for the Defense of Democracies, no ano de 1999 o Xeique Yussef Salameh, subsecretário da Autoridade Palestina para ensino religioso, “elogiou a ideia de que os cristãos sob domínio islâmico devam retornar à condição de dhimmi”. Desde que a Segunda Intifada começou em outubro de 2000 65, sugestões como essa se tornaram comuns.
Em recente sermão numa mesquita de Mecca, o Xeique Marzouq Salem Al-Ghamadi detalhou os preceitos para os dhimmi:
Se os infiéis vivem entre os muçulmanos, de acordo com as condições estabelecidas pelo Profeta – não há nada de errado em pagarem a jizia para o tesouro islâmico. Outras condições são (...) que não restaurem uma igreja ou mosteiro e não reconstruam as que foram destruídas; alimentem por três dias qualquer muçulmano que passar por sua casa (...); levantem-se quando um muçulmano deseja sentar; não imitem muçulmanos na vestimenta e no falar; não montem cavalos; não possuam espadas ou qualquer tipo de arma; não vendam vinhos; não mostrem a cruz; não toquem sinos; não rezem em voz alta; façam a barba de modo que sejam facilmente reconhecíveis; não incitem ninguém contra um muçulmano, e não agridam um muçulmano (...) se violarem essas condições, não terão proteção alguma 66.
Essas prescrições da sharia não são executadas desde a metade do século XIX, mas hoje os jihadistas pretendem restabelecê-las, juntamente com o restante da lei islâmica. A ideia de que os cristãos devem “sentir-se submissos” (Corão 9:29) em terras islâmicas ainda está muito viva. Quando a primeira igreja católica no Qatar foi inaugurada em março de 2008, não possuía cruz, sino, torre ou símbolos cristãos. “A nossa intenção”, explicou o Pe. Tom Veneracion, “é sermos discretos, pois não queremos atingir a sensibilidade deles.” 67
Nas Filipinas, a igreja da única cidade islâmica da nação, Marawi, também se livrou da cruz. O padre Tereisto Soganub explica: “A fim de evitar discussões e mal-entendidos, nós plantamos a cruz no fundo de nossos corações.” Pe. Soganub, de acordo com a agência Reuteurs, “não usa um crucifixo ou colar clerical e cultiva a barba em respeito aos vizinhos muçulmanos.” Ele celebra poucos casamentos, já que nas Filipinas o prato típico dos casamentos católicos é o porco assado 68.
É fácil entender a necessidade de discrição. Ao pregar numa mesquita em Al-Daman, Arábia Saudita, o famoso xeique saudita Muhammad Saleh Al-Munajjid aconselhava a aversão a judeus e cristãos como uma causa justa: “Os muçulmanos,” declarou, “precisam educar seus filhos para a jihad. Este é o maior beneficio que podemos obter da situação atual: a educação das crianças para a jihad e o ódio a judeus, cristãos e infiéis; a educação das crianças para a jihad e para o renascimento do espírito da jihad em suas almas. É disso que precisamos agora (...)” 69
O silêncio criminoso das organizações de direitos humanos
Uma declaração feita em 2007 pelo advogado internacional de direitos humanos Justus Reid Weiner, sobre a situação dos cristãos residentes em território palestino, aplica-se aos cristãos no mundo islâmico em geral: “A perseguição sistemática de cristãos árabes em território palestino vem sendo encarada com o silêncio absoluto da comunidade internacional, dos ativistas de direitos humanos, da mídia e das ONGs.” Ele disse que se nenhuma medida for tomada, em 15 anos não haverá mais cristãos na área, pois “os líderes cristãos estão sendo forçados a deixar seus seguidores à mercê dos radicais islâmicos.” 70
O silêncio total se manifesta no modo eufemístico com que os grupos de direitos humanos noticiam a situação dos cristãos, isso quando o fazem. Por exemplo, uma notícia de 2007, da ONG Amnesty International acerca da situação dos direitos humanos no Egito deixa de lado o sofrimento dos cristãos coptas, numa frase tão dissimulada e isenta de contexto que quase encobre o crime que se propõe a descrever:
Ocorreram episódios esporádicos de violência sectária entre muçulmanos e cristãos. Em abril [2006], três dias de violência religiosa em Alexandria resultaram em pelo menos três mortes e dezenas de feridos 71.
Na verdade, o conflito se iniciou quando um muçulmano esfaqueou e matou um cristão dentro de uma igreja. E isso ocorreu algumas semanas após outras três igrejas terem sido atacadas por jihadistas armados em Alexandria 72.
O tom compassivo parece ser a regra ao se tratar da violência da jihad contra os cristãos. Uma notícia de 2007 da mesma ONG, sobre a Indonésia, trazia esta frase: “Minorias religiosas e igrejas continuam a ser atacadas.” Por quem? A Amnesty International não conta. “Em Sulawesi, houve violência esporádica ao longo do ano.” 73 Quem é o responsável pela violência? A Amnesty International não nos diz. Essa ONG parece estar mais preocupada em não mencionar o Islã e a violação de direitos humanos por grupos islâmicos do que proteger os cristãos desses abusos.
Parece que o cristianismo – até mesmo o pouco conhecido cristianismo egípcio, o qual precede o advento do Islã naquele país – está identificado demais com os Estados Unidos e o Ocidente para o gosto da elite dos ativistas de direitos humanos, amantes do multiculturalismo. A situação é terrível. O patriarca Gregório III, da Igreja Grego-Católica Melquita, que mora em Damasco, declarou em abril de 2006 que
Após os ataques de 11 de setembro, urdiu-se um plano para eliminar toda a minoria cristã do mundo árabe (...) nossa humilde existência prejudica a equação segundo a qual os árabes não podem ser senão muçulmanos, e os cristãos senão ocidentais (...). Se os caldeus, os assírios, os ortodoxos, os católicos latinos se retirarem, se o Oriente Médio for esvaziado de todos cristãos árabes, o mundo árabe muçulmano e o tão apregoado Ocidente Cristão ficarão face a face. Será mais fácil provocar um conflito e atribuí-lo à religião 74.
Alguns anos depois, o próprio Gregório III acabou cedendo à pressão de agradar aos muçulmanos ou talvez a alguém mais, quando publicamente culpou os sionistas pela perseguição dos cristãos, e não os supremacistas islâmicos 75.
Ainda assim, muitos cristãos americanos se surpreendem ao descobrir que existem antigas comunidades cristãs em terras muçulmanas, e nem sequer imaginam que elas estão sendo perseguidas. Outros são indiferentes por causa da crescente moda ateísta, que considera todas as religiões igualmente repugnantes e inclinadas à violência, sem importar as diferenças em seus ensinamentos. Há também aqueles, em particular a elite dos grupos de direitos humanos, que estão ligados a uma visão de mundo na qual somente não ocidentais e não cristãos podem encaixar-se no seu modelo ideal de vítimas: os cristãos são identificados com os opressores brancos do Ocidente, e não podem ser vítimas. Alguns ocidentais sentem até mesmo certo schadenfraude 76 ao saber da perseguição de cristãos ao redor do mundo, pois a vêem como uma merecida reprimenda na Igreja, bem como em todo o sistema de crenças que eles há muito recusaram e sob o qual põem a culpa por todos os problemas do mundo – os grandes e os pequenos, os comunitários e os individuais. O fato de os cristãos residentes em terras muçulmanas serem geralmente pobres, privados de direitos civis e estarem muito distante dos opressores retratados no mito esquerdista não é o bastante para uma mudança de posição.
Cada vez mais confiantes e brutais, e sem enfrentar protestos significativos do Ocidente, os jihadistas e supremacistas da sharia continuam a oprimir seus conterrâneos cristãos. Essas comunidades atacadas estão agora à beira da extinção, sem ninguém para defendê-las. Só um milagre poderá lhes trazer segurança e salvá-las do extermínio.
(Muslim Persecution of Christians, 2011 - Revista Permanência 265 / Tradução: Gabriel Galeffi)