De Mgr. Lefebvre ao Cardeal Hoyos
3ª Parte
A Fraternidade São Pedro engolida pelo Vaticano
Para preparar esta terceira parte, pus-me a reler o dossiê sobre as Sagrações de 1988. E fui como que revendo "em filme" todos os dolorosos acontecimentos que rasgaram ao meio a milagrosa obra de sobrevivência da Tradição dentro da Igreja. Não é nosso objetivo falar sobre todas as pessoas que me escreveram, todos os testemunhos da dor, da confusão, causada por pessoas como Dom Gérard Calvet, Prior do Monastère Sainte Madeleine, que já citei acima. Quantas famílias dilaceradas, com filhos permanecendo fiéis ao combate de Mgr. Lefebvre e filhos aderindo ao acordo com o Vaticano. Quantas almas boas e simples se sentiram traídas por estes padres que mudaram o seu discurso e traíram a confiança de seus fiéis. Um dia, talvez, eu lhes faça esta homenagem, de publicar alguma coisa desses documentos marcados pelo sangue de um martírio gota a gota.
Digo isso para introduzir esta terceira parte, que pretende apresentar a Fraternidade S. Pedro, sua origem e sua destruição que ora se opera.
Os chamados católicos "Ecclesia Dei", ou seja, aqueles que celebram ou assistem a Santa Missa nas associações regidas pelo Motu Próprio de mesmo nome, de 2 de julho de 1988, têm na Fraternidade São Pedro seu representante de maior peso. Esta Fraternidade foi formada em 30 de junho de 1988, no dia mesmo da Sagração Episcopal de Ecône, e durante as Sagrações, visto que Dom Gérard Calvet teve de deixar a cerimônia de Ecône na metade, para ir se encontrar com os padres traidores, na abadia de Hautrive.
O que marca esta fundação, assim como o acordo firmado com o mosteiro do Barroux, é a ilusão dos signatários de que não havia e não haveria contrapartida doutrinária. Ou seja, eles continuariam a celebrar a Missa de São Pio V, eles não teriam obrigação de celebrar a Missa de Paulo VI, eles poderiam pregar contra os erros de Vaticano II. Enfim, tudo como antes... Quando eu ainda estava no mosteiro do Barroux, Dom Gérard me passou um bilhete onde dizia: "Não se preocupe, Dom Lourenço, com a malícia de nossos adversários, pois a finis operis aniquilará a detestável finis operantis dos prelados conciliares". A finalidade do acordo (finis operis) aniquilaria a má intenção (finis operantis) dos prelados do Vaticano que assinavam o acordo. Uma verdadeira brincadeira com a Fé. Uma experiência em laboratório com o que há de mais precioso para nossa salvação. E foi assim que o Prior do Barroux aconselhou e ajudou aos padres da Fraternidade São Pio X a abandonarem a Mgr. Lefebvre. Não foi preciso muito tempo para Dom Gérard dizer que os prelados de Roma eram paternais e bem intencionados. Pouco depois ele concelebrava com o Papa numa Missa de Paulo VI.
Rapidamente as convicções doutrinárias desses padres mudaram de eixo. Antes de mostrar como isso aconteceu, gostaria de trazer alguns exemplos anteriores, onde seminários e associações oficiais e conservadoras foram pouco a pouco obrigadas a abraçar Vaticano II e a Missa Nova.
- Os Beneditinos de Dom Augustin, em Flavigny, França. Mgr. Lefebvre ordenou sacerdote seus 24 padres. Todos os anos nós os víamos em Ecône. Um dia, creio que em 1985 ou 1986, Dom Augustin fez um acordo com Roma. Prometeram a ele a manutenção de tudo. E ele afastou-se de Mgr. Lefebvre. Em pouco tempo Roma exigiu que a missa conventual (missa assistida por todos os monges) fosse a de Paulo VI. Alguns padres abandonaram, então, o mosteiro.
- Os Beneditinos de Fontgombault, França. Fundação da famosa Abadia de Solesmes, Fontgombault sempre teve uma posição de simpatia pela Tradição. Apesar de seu abade ter afirmado a Dom Gérard que nunca abandonaria a Missa de S. Pio V, não agüentou as pressões de Roma e aderiu à Missa de Paulo VI. Em 1984, João Paulo II concedeu um "indulto". Todos os que aceitavam a Missa Nova, podiam pedir para celebrar a Missa Tradicional (S. Pio V). O abade assim fez. Mas o arcebispo de Bourges não aceitou que a missa conventual fosse de S. Pio V. O abade de Fontgombault tentou reagir, foi a Roma. O Cardeal Mayer não pode fazer nada, enviou-o ao Papa. Este se esquivou, disse que fizesse um esforço... devolveu-o ao Cardeal Mayer, que o devolveu ao bispo de Bourges.... e eles continuaram a celebrar a Missa Nova.
Essa atitude das autoridades continua em voga no Vaticano, como mostra a resposta do Cardeal Ratzinguer ao Pe. Louis Demornex, que deixou de celebrar a Missa de Paulo VI e voltou à Missa de S. Pio V. (cf. Cartas)
"Tudo o que você diz sobre a secularização dos padres, sobre a anarquia
litúrgica e sobre as muitas profanações da Eucaristia, infelizmente é
verdade. Você confiou ao seu Bispo todo o seu profundo desconforto: ele não
compreendeu e convidou-o a deixar sua paróquia. Do ponto de vista formal e
jurídico é o direito dele. Você sabe bem- conclui o Cardeal- que eu não
posso aconselhar-lhe a se rebelar...Esteja certo de que o Senhor nunca impõe
o peso da cruz sem ajudar-lhe a carregá-la. Eu prometo que me lembrarei de
sua dor em minhas orações diante do Senhor". (Fonte: Il Giornale, 18/01/2001)
Eis em que consiste a moral do Prefeito para a Doutrina da Fé. O erro tem direitos!
- O Seminário Mater Ecclesiae. Mgr. Lefebvre viveu de perto esta experiência realizada pelo Vaticano com nove seminaristas saídos de Ecône. Ele conta numa entrevista coletiva, de 15 de Junho de 1988:
"Ouviram falar, sem dúvida – e publicaram alguns artigos nos jornais, há dois anos – do caso dos saídos de Ecône. Tinham partido daqui, de Ecône, nove seminaristas. Aquele que era, de certo modo, o cabeça dessa pequena rebelião, o P. ..., escondia bem o seu jogo e conseguiu que outros oito seminaristas deixassem Ecône. Entrou em contato com o P. Grégoire Billot, que vive aqui na Suiça, em Baden. Esse P. Billot fez, por sua vez, contato com o Cardeal Ratzinger. Ele fala alemão. Telefonou ao Cardeal: “Há em Ecône nove seminaristas que estão prontos para partir. O que é que lhes ofereceis? O que é que se pode fazer com eles?”
Formidável! Uma oportunidade única! Se lhes prometerem maravilhas, haverá outros que os seguirão... Ele disse-o explicitamente. O Cardeal Ratzinger disse: “Estou feliz por alguns terem deixado Ecône e espero bem que haja outros que sigam os primeiros.”
Como bem sabeis, fizeram o famoso seminário “Mater Ecclesiae”, dirigido por um cardeal, o Cardeal Innocenti, com o Cardeal Garrone e um terceiro cardeal, o Cardeal Ratzinger, aprovado oficialmente pelo Papa no “Osservatore Romano”. Um acontecimento mundial! Todos os jornais do mundo falaram desse seminário tradicional feito com os noves fugidos de Ecône e que também iria reunir outros seminaristas que tivessem a mesma “sensibilidade”.
Eles partiram e, ao todo, lá se encontraram cerca de vinte seminaristas.
Garanto que vale a pena ler a carta que acaba de nos enviar o P. ..., que foi o instigador da saída daqueles seminaristas. Ele escreveu: “LAMENTO”, em letras garrafais na sua carta. “LAMENTO, perdemos tudo, não cumpriram nenhuma das promessas. Somos uns miseráveis; já nem mesmo sabemos onde ir”
Mas a documentação sobre esta enganação não fica nisso. O Cardeal Silvio Oddi, em entrevista à revista Valeurs Actuelles, de agosto de 1988, declara ao jornalista Michel de Jaeghere:
"Segui de perto a primeira tentativa, há cerca de doze anos, pois os estudantes estavam instalados na Via Pompeo Magno, no colégio onde moro.
“Devo dizer que ela fracassou, porque não respeitaram os compromissos que tinham assumido para com os seminaristas. Tinham prometido à dezena de saídos de Ecône, que aí foram acolhidos, que poderiam prosseguir em Roma, no espírito da Tradição, a sua formação sacerdotal.
“Na realidade propuseram-se apenas “desintoxicá-los”, antes de lhes dizerem que, se quisessem continuar os seus estudos, deviam encontrar eles próprios um bispo que os aceitasse no seu seminário... "
- O Instituto Cristo-Rei. Dirigido pelo Pe. Wach, este instituto possui um seminário em Gricigliano, perto de Florença, sendo considerado refúgio de seminaristas de tendência tradicional. Na verdade, o espírito de Vaticano II é o fundamento desta obra, como aparece nos seus estatutos, que declaram que a formação dos seminaristas segue a doutrina de Lumen Gentium. O Pe. Wach também já concelebrou com o papa no rito novo.
- Instituto do Verbo Encarnado (Argentina). Um padre da Argentina acaba de me informar que este instituto, com mais de cem seminaristas, foi fechado por Roma, mandando os seminaristas de volta para casa.
A Fraternidade São Pedro foi então fundada mediante um acordo enganador. Eles prometem toda a liberdade para se viver na Tradição, mas suas intenções são muito claras: eles não pensam em outra coisa senão trazer os fiéis de "sensibilidade" tradicional, a aceitar o Concílio, seu ecumenismo, sua missa.
"Eu espero dos tradicionalistas recuperados que eles façam um esforço de leitura e compreensão do concílio a fim de que eles possam também assimilá-lo. Que eles trabalhem particularmente a questão da liberdade religiosa ou do diálogo com as outras religiões... Gostaria que os padres da Fraternidade São Pedro tenham a autorização de celebrar nos dois ritos... e que os seminaristas sejam preparados para celebrar no rito de Paulo VI." (Mgr. Decourtray, arcebispo de Lyon, França, para a revista France Catholique, 25 de junho 1993)
"Eu só poderia aceitar que se celebre no rito de Pio V nas condições pedidas no Motu Proprio, a saber, que os que a pedem abracem profundamente o Concílio Vaticano II. (Mgr. de Garnier, bispo de Luçon, conferência em 18 de agosto de 1992)
O próprio Papa João Paulo II fez a mesma colocação, no discurso feito aos membros da Fraternidade São Pedro, vindos a Roma em 26 de outubro de 1998, celebrar o décimo aniversário de sua fundação:
"Sem deixar de confirmar a razão de ser da reforma litúrgica desejada pelo Concílio Vaticano II e posta em execução pelo Papa Paulo VI, a Igreja dá também um sinal de compreensão às pessoas "ligadas a certas formas litúrgicas e disciplinares anteriores". É nessa perspectiva que se deve ler e aplicar o Motu Proprio Ecclesia Dei; eu desejo que tudo seja vivido no espírito do Concílio Vaticano II, na plena harmonia com a Tradição, buscando a unidade na caridade, e a fidelidade à verdade."
Se o espírito do Vaticano II é diferente do espírito do Concílio de Trento, no dizer de tantos bispos atuais, então, para o papa João Paulo II, a Tradição e a verdade são evolutivas. Não é esse o ensinamento da Igreja. Além disso, aparece claramente a afirmação de que a reforma litúrgica foi boa, o que sabemos não ser verdade, pois que introduziu uma liturgia centralizada no homem e para o homem. Os padres da Fraternidade São Pedro deverão seguir este espírito novo e não deixarão de declarar isso com todas as letras.
Abraçaram tão profundamente o novo espírito conciliar que ensinam, contra a razão e contra Paulo VI, que o Concílio declarou novos dogmas. Os superiores da Fraternidade São Pedro passam também a apoiar o escândalo de Assis, quando João Paulo II reuniu representantes de todas as religiões para rezar pela paz, permitindo até mesmo que uma imagem de Buda fosse colocada sobre um sacrário! E o Pe. Baumann declara não ver nada de mais em Assis! Como se as falsas religiões, sem Revelação e sem a vida da graça pudessem fazer oração no sentido sobrenatural do termo. Existe uma encíclica solene, do Papa Pio XI, que condena e proíbe toda reunião de católicos com outras religiões. Esse inconveniente maior, essa desobediência a um papa anterior, é descartada cinicamente pela afirmação de que esta encíclica, Mortalium Animos, não continha princípios intangíveis. Releiam esse texto de Pio XI, carregado de um zelo e de um amor pelas almas e pela Igreja e respondam, leitores, se ela só servia para as pessoas daquela época, como pretende o Pe. Baumann. E para que estes padres sejam honestos, eles deveriam medir o valor das encíclicas de João Paulo II com os mesmos critérios das antigas. Poderíamos então dizer que os documentos do Concílio, ou as encíclicas dos papas mais recentes, também só valiam para a época em que foram escritas. Se em 1962 uma encíclica de 1931 deveria ser descartada, então hoje, em 2001, os documentos de 1962 também já caducaram. Mas aí vem o coro: não toquem no Concílio! O Concílio é intangível!
Para mim isso se chama desonestidade.
Apesar desse abandono do combate contra os erros de Vaticano II, a Fraternidade São Pedro ficará à mercê dos bispos diocesanos, como afirma o papa João Paulo II e como vimos acima na reação dos bispos e até do Cardeal Ratzinguer. Essa dependência da aprovação do bispo diocesano vai deixar o apostolado desses padres "conservadores" amarrado e amordaçado. O Monastère Sainte Madeleine, por exemplo, tentou duas vezes fazer uma fundação, sendo rechaçados pelos bispos locais.
Apesar de tudo, durante os dez primeiros anos de existência, a Fraternidade São Pedro manteve mais ou menos as intenções iniciais, de celebração da missa de São Pio V, e de exclusão da missa de Paulo VI. O Pe. Bisig, superior Geral escolhido na fundação, conseguia manter as aparências de apego à Tradição, apesar dos ensinamentos a favor de Vaticano II que citamos acima. Mas o Vaticano considerou que a coisa estava demorando demais. E resolveu atacar.
A Fraternidade São Pedro fez este acordo com o Vaticano, como nós vimos, achando que teria para sempre o direito de celebrar a Missa de S. Pio V e de nunca precisar celebrar a nova Missa. Evidentemente o Vaticano ficou quieto, na época, sem afirmar que as intenções eram de trazer estes padres a celebração da missa nova. Com o passar dos anos, alguns padres da Fraternidade São Pedro, começaram a pretender celebrar a missa de Paulo VI. Os superiores não queriam permitir. Houve, então, em fevereiro de 2000, uma reunião dos padres da Fraternidade, onde ficou decidido que os estatutos da Fraternidade davam aos padres o direito de recusar a celebração no rito de Paulo VI, apesar de reconhecer que este rito é o rito oficial vigente na Igreja latina. Essa decisão foi mal recebida por vários padres mais liberais que queriam poder celebrar a nova missa. Dessa situação controversa nascerá a morte da Fraternidade S. Pedro.
A destruição da Fraternidade São Pedro iniciou-se antes do Capítulo Geral, quando um dos padres dessa Fraternidade escreveu a um bispo, em Roma, reclamando do espírito conservador demais da Fraternidade (segundo sua opinião) e propondo ao Vaticano intervir e decapitar o superior geral. Essa atitude de revolta contra os seus superiores, evidentemente, é vista como ato heróico de virtude, e nessa hora a tal "obediência" fica de lado. Esse escândalo e essa traição foram recebidas em Roma com toda atenção, a tal ponto que o Vaticano seguirá todos os conselhos desse padre, como veremos adiante.
Eis os conselhos que o Pe. Le Pivain escreve em sua carta:
- "Explicar ao Pe. Bisig (o superior), que seria bom que ele se retirasse voluntariamente, após dois mandatos de seis anos... um outro governo daria à nossa Fraternidade um novo começo.
- Prevenir as decisões do próximo Capítulo, que não terá a serenidade necessária para tomar as decisões justas. (ele propõe uma intervenção)
- Reformar o seminário.
- Entre os superiores, o Pe. Devillers me parece a pessoa mais apropriada. Europeu, ele desenvolveu a Fraternidade S. Pedro nos EUA, tendo, por isso, conhecimento completo da nossa sociedade. (...)
Assim vos pedimos humildemente de agir com urgência junto à Comissão Ecclesia Dei. Estamos todos precisando, inclusive os fiéis, de que decisões sejam tomadas."
Essa carta foi acompanhada de uma carta do bispo de Versalhes, Mgr. Jean Charles Thomas, ao núncio de Paris, Mgr. Baldelli, datada de 27 de junho de 2000. Nesta carta Mgr. Thomas dá seu total apoio às declarações do Pe. Le Pivain e afirma que, se as decisões não forem tomadas, ele não aceitará mais os padres da Fraternidade S. Pedro em sua diocese.
Em 29 de junho de 2000, o Cardeal Hoyos, presidente da Comissão Ecclesia Dei, intervém dentro da Fraternidade São Pedro, por uma carta enviada à reunião do Capítulo Geral, que votara a reeleição do Pe. Bisig como superior geral. Cito alguns extratos dessa carta decisiva:
"Esta reunião (de fevereiro), os senhores sabem, elaborou um compromisso que tentava conciliar as exigências do direito comum da Igreja com o caráter particular do vosso Instituto, evitando assim as divisões. [trata-se do compromisso dos padres de não aceitar celebrar a missa nova]. Esse compromisso, infelizmente, foi objeto de novas controvérsias, entre os que o aceitam e os que o rejeitam. Apesar disso, os superiores pediram à Comissão papal que aprovasse este compromisso, fazendo dele uma regra excepcional. Após amadurecida reflexão e consulta aos peritos, declaro que isto não é possível. A causa é a clara posição do aspecto jurídico, nessas circunstâncias: um padre que goza do privilégio de celebrar a Missa segundo o antigo missal de 1962 não perde o direito de utilizar o missal de 1970, que é oficialmente em vigor na Igreja latina."
Mais uma vez eles desviam o debate do aspecto doutrinário para o aspecto jurídico, como vimos fazer, acima, o Cardeal Ratzinguer, contra o Pe. Louis Demornex. É curioso que uma bula de valor tão forte, juridicamente falando, Quo Primo Tempore, assinada por São Pio V e nunca revogada, não tenha recebido das autoridades, o mesmo tratamento. Ao impor a Missa Nova e tentar fazer crer que a Missa de São Pio V estava proibida, as autoridades passaram por cima das determinações solenes e jurídicas do Concílio de Trento. Dois pesos e duas medidas.
A carta do Cardeal Hoyos continua determinando que, doravante, os superiores da Fraternidade só poderão exercer esta função em dois mandatos de seis anos. Agradece ao Pe. Bisig e se despede dele.
Em seguida determina, sem voto do Capítulo, ou seja, enquanto interventor, que o novo superior geral será o Pe......Devillers, como propusera na sua carta, o Pe. Le Pivain. Do mesmo modo destitui os superiores dos dois seminários e pede que o novo superior geral escolha outros.
Em seguida o Cardeal Presidente da Comissão Ecclesia Dei lembra a todos que o rito oficial da Igreja é o rito de Paulo VI, que o rito de S. Pio V é uma concessão, um privilégio desse instituto, mas que todos os padres podem celebrar quando quiserem a Nova Missa. Hora nenhuma este Cardeal ou qualquer outro bispo da hierarquia aceita analisar teologicamente o rito da Missa. É sempre o aspecto jurídico que eles levantam. É assim que sua carta termina clamando os membros da Fraternidade São Pedro a não se prenderem a uma questão de rito, pois, diz ele, o que importa "é a unidade na verdadeira fé e a disciplina comum sob a hierarquia apostólica". Ora, a quem o Cardeal quer enganar? Falar de unidade na fé e obediência à disciplina só caberia se ele provasse que o rito de Paulo VI exprime essa fé verdadeira. Isso ele não aceita fazer. Ele foge do mérito da questão, ele tem medo da verdade e quer nos fazer engolir Vaticano II e sua nova Igreja evolutiva, na base da ameaça jurídica.
E conclui: "Vosso papel não é de modificar esta situação, ou de falar desse rito como se fosse de menor valor, mas de ajudar aos fiéis que têm um apego ao antigo rito a melhor se encontrar dentro da Igreja... Os senhores não devem dar prioridade à forma litúrgica na qual têm o privilégio de celebrar.
Eis, então, que Mgr. Lefebvre tinha toda razão, quando retirou sua assinatura do protocolo de 5 de maio de 1988. Ele viu, ele sentiu, que as autoridades estavam muito longe de querer compreender a situação e favorecer a Tradição. O que eles queriam era isso, que hoje eles exigem desses padres. Estes queriam preservar a Tradição na obediência, queriam só celebrar a Missa de S. Pio V, na obediência, queriam criticar Vaticano II, na obediência. As autoridades foram fechando o cerco e deram o bote. E foram engolidos pelo Vaticano dessa nova igreja conciliar, protestantizada. Devorados pela fera, sem piedade nem dó. O exemplo da Fraternidade São Pedro está aí. O cadáver ainda quente nos deixa perplexos diante de tanta maldade, de tanta malícia. A cada um de nós de aprender com estes fatos. Não são invenções, não são interpretações malévolas e radicais. São os fatos, na sua mais clara e límpida objetividade.
Ut inimicos Sanctae Ecclesiae humiliare digneris, Te rogamus audi nos
Que vos digneis humilhar os inimigos da Santa Igreja - Vos rogamos, ouvi-nos.