O quarto discute-se assim. – Parece que a contumélia não nasce da ira.
1. – Pois, diz a Escritura. Onde houver soberba, aí haverá também contumélia. Ora, a ira é um vício da soberba. Logo, a contumélia não nasce da ira.
2. Demais. – Diz a Escritura. Todos os estultos se envolvem em contumélias. Ora, a estultícia é um vício oposto à sabedoria, como se disse; ao passo que a ira se opõe à mansidão. Logo, a contumélia não nasce da ira.
3. Demais. – Nenhum pecado fica diminuído pela sua causa. Ora, o pecado da contumélia fica diminuído quando é proferido com ira; pois, peca mais gravemente quem profere uma contumélia com ódio do que com ira. Logo, a contumélia não nasce da ira.
Mas, em contrário, Gregório diz que as contumélias nascem da ira.
SOLUÇÃO. – Podendo um pecado ter várias origens, considera-se como originado donde mais frequentemente costuma proceder, por proximidade com o seu fim. Ora, a contumélia tem grande proximidade com o fim da ira, que é a vindicta; pois, nenhuma vingança se apresenta mais prontamente ao irado, do que a de proferir contumélias. Por onde, a contumélia nasce sobretudo da ira.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A contumélia não se ordena ao fim da soberba, que é a exaltação. Por isso não nasce a contumélia diretamente da soberba. Mas, esta predispõe para aquela, porquanto os que se julgam superiores mais facilmente desprezam os outros e lhes irrogam injúrias; pois, tornam-se mais facilmente irados, por considerarem indigno tudo o que lhes fazem contra a vontade.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Segundo o Filósofo, a ira não obedece perfeitamente à razão; e assim, o irado, padece falta de razão; por onde, a ira se assemelha à estultice. E por isso da estultice nasce a contumélia, pela afinidade que tem com a ira.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Segundo o Filósofo, o irado visa a ofensa manifesta, o que não visa quem odeia. Por isso a contumélia, que implica uma injúria manifesta, pertence mais à ira do que ao ódio.