O sexto discute-se assim. – Parece que os referidos vícios não nascem da luxúria.
1. – Pois a inconstância nasce da inveja, como se disse. Ora, a inveja é um vício distinto da luxúria. Logo, desta não nascem os referidos vícios.
2. Demais. – A Escritura diz: O homem que tem o espírito repartido é inconstante em todos os caminhos. Ora, a duplicidade parece não pertencer a luxúria, mas antes, à dolosidade, filha da avareza, segundo Gregório. Logo, os referidos vícios não nascem da luxúria.
3. Demais. – Os referidos vícios implicam falta de razão. Ora, os vícios espirituais são mais próximos da razão do que os carnais. Logo, os referidos vícios nascem, antes, dos vícios espirituais, que dos carnais.
Mas, em contrário, Gregório considera os referidos vícios como nascidos da luxúria.
SOLUÇÃO. – Como diz o Filósofo, o prazer é o que corrompe sobremaneira a ponderação da prudência; e sobretudo o prazer venéreo, que absorve toda a alma e a arrasta para a deleitação sensível. Ao contrário, a perfeição da prudência e de qualquer virtude intelectual consiste na abstração do sensível. Por onde, os referidos vícios implicando falta de prudência e da razão prática, como estabelecemos, resulta que nascem sobretudo, da luxúria.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A inveja e a ira causam a inconstância, arrastando a razão para um outro objeto; ao passo que a luxúria causa a inconstância extinguindo totalmente o juízo da razão. Por onde, diz o Filósofo que quem não contém a ira escuta, é certo, a razão, mas não perfeitamente; ao passo que quem não contém a concupiscência deixa totalmente de escutá-la.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Também a duplicidade de alma é um efeito resultante da luxúria, assim como a inconstância; enquanto que essa duplicidade implica na conversão da alma para diversos objetos. Por isso, Terêncio, no Eunuco diz que o amor passa da guerra para a paz e as tréguas.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Os vícios carnais extinguem tanto mais o juízo da razão quanto mais dela desviam.