O segundo discute-se assim. – Parece que a política não deve ser considerada parte da prudência.
1. – Pois, a arte de reinar é considerada parte da prudência política, como se disse Ora, a parte não deve entrar numa mesma divisão, em oposição com o todo. Logo, a política não deve ser considerada uma nova espécie de prudência.
2. Demais. – As espécies de hábitos distinguem-se pelos seus diversos objetos. Ora, as mesmas ações que o chefe ordena, o súdito deve executar. Logo, a política relativa aos súditos não deve ser considerada uma espécie de prudência, distinta da arte de reinar.
3. Demais. – Cada súdito é uma pessoa singular. Ora, toda pessoa singular pode dirigir-se suficientemente a si mesma, pela prudência geral. Logo, não há necessidade de uma espécie de prudência chamada política.
Mas, em contrário, o Filósofo: Quanto à prudência, que tem por objeto a ordem da cidade, há uma que é a arquitetônica, e se chama a prudência legislativa; outra tem o nome comum de política e versa sobre a obediência às leis.
SOLUÇÃO. – O escravo é dirigido pela ordem do senhor e o súdito, pela do príncipe; de modo diferente, porém, do pelo qual os seres irracionais e os inanimados são movidos pelos seus motores. Pois, os inanimados e os irracionais só agem dirigidos por outros seres; e não agem por si mesmos, por não terem o domínio sobre seus atos, pelo livre arbítrio. Por onde, a boa direção do governo deles depende, não deles, mas somente dos seus motores. Ao passo que os escravos ou quaisquer súditos são dirigidos por ordem de outros, mas de modo agirem por si mesmos, pelo livre arbítrio. Por isso é necessário tenham uma certa retidão de direção pela qual se dirijam a si mesmos a obedecer aos que mandam. E para isso é que serve a espécie de prudência chamada política.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Como já dissemos, arte de reinar é a espécie mais perfeita de prudência. Por onde, a prudência dos súditos, por natureza inferior à prudência governativa, conserva a denominação geral, sendo chamada política. Assim como, em lógica, a um convertível, que não significa a essência, nós lhe atribuímos a denominação comum de próprio.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Objetos de natureza diversa diversificam especificamente os hábitos, como do sobredito resulta. Ora, os mesmos atos a serem praticados o rei os considera, segundo uma razão mais universal do que aquela pela qual os considera o súdito, que deve obedecer; pois, a um só rei obedecem muitos, nos seus diversos empregos. Por isso, a arte de reinar está para a prudência política, de que agora tratamos, como arte arquitetônica para a que obra manualmente.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Pela prudência chamada geral, o homem se dirige a si mesmo em ordem ao seu próprio bem; pela política, porém, de que agora tratamos, em ordem ao bem comum.