O quinto discute-se assim. – Parece que a razão não pode ser considerada parte da prudência.
1. – Pois, o sujeito do acidente não é parte dele. Ora, a prudência não tem na razão o seu sujeito, como diz Aristóteles. Logo, a razão deve se considerada parte da prudência.
2. Demais. – O que é comum a muitas coisas não deve ser considerado parte de nenhuma delas em particular; ou, se o for, deve ser atribuído à que principalmente convém. Ora, a razão é necessária a todas as virtudes intelectuais e, principalmente, à sabedoria e à ciência, que se servem da razão demonstrativa. Logo, a razão não deve ser considerada parte da prudência.
3. Demais. – A razão não difere, essencialmente, como potência, do intelecto, como já se estabeleceu. Se, pois, o intelecto é considerado parte da prudência, será supérfluo acrescentar a razão.
Mas, em contrário, Macróbio, seguindo a opinião de Plotino, enumera a razão entre as partes da prudência.
SOLUÇÃO. – A função do prudente é aconselhar com acerto, como diz Aristóteles. Ora, o conselho é uma certa inquirição, que passa de umas para outras cousas. Ora, isto é função da razão. Por onde é necessário à prudência, que o homem raciocine com acerto. E como o que a prudência implica, para a sua perfeição, considera-se como parte integrante dela, daí resulta que a razão deve ser enumerada entre as partes da prudência.
DONDE À RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Razão não é tomada, no caso vertente, pela potência mesma racional, mas pelo bom uso dela.
RESPOSTA À SEGUNDA. – A certeza da razão procede do intelecto; mas a necessidade, que a razão impõe, é por deficiência do intelecto. Pois, os seres, como Deus, e os anjos, dotados da potência intelectiva, em sua plenitude, não precisam da razão, mas compreendem a verdade por uma simples intuição. Ora, os atos particulares dirigidos pela prudência, afastam-se muito da condição dos inteligíveis; e tanto mais quanto menos certos ou determinados são. Pois o que pertence à arte, embora seja particular, é contudo mais determinado e certo; por isso, em muitos casos, a ela pertencentes, não há lugar para o conselho, por causa da certeza, como diz Aristóteles. Por onde, embora em certa, outras virtudes intelectuais, a razão seja mais certa que a prudência, contudo a prudência requer sobretudo que o homem seja capaz de raciocinar com acerto, para poder acertadamente aplicar os princípios universais aos casos particulares, que são vários e incertos.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Embora o intelecto e a razão não sejam potências diversas, contudo recebem a sua denominação de atos diversos. Assim, o nome de intelecto é derivado de penetrar intimamente a verdade; ao passo que o nome de razão provém da inquirição e do discurso. Por isso, tanto este como aquela se consideram partes da prudência, como do sobredito resulta.