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Artigo 2 - Se a prudência só pertence à razão prática, ou se também à especulativa.

O segundo discute-se assim. – Parece que a prudência não pertence só à razão prática, mas também, à especulativa.

1 – Pois, diz a Escritura: A sabedoria é para o homem prudente. Ora, a sabedoria consiste mais principalmente na contemplação. Logo, também a prudência.

2. Demais. – Ambrósio diz: A prudência versa sobre a investigação da verdade, e infunde o desejo de uma ciência mais plena. Ora, isto é próprio da razão especulativa. Logo, a prudência também existe na razão especulativa.

3. Demais. – O Filósofo localiza na mesma parte da alma a arte e a prudência da, a arte não somente é prática, mas também especulativa, como o demonstram as artes liberais. Logo, também a prudência só é própria à razão prática.

Mas, em contrário, o Filósofo diz que a prudência é a razão reta aplicada ao que nós devemos fazer. Ora, isto só pertence à razão prática. Logo, a prudência só é própria á razão prática.

SOLUÇÃO. – Como diz o Filósofo, é próprio do prudente poder ser bem aconselhado, Ora, o conselho diz respeito ao que devemos fazer, em ordem a algum fim. Mas, a razão que se ocupa com o que devemos fazer em vista de algum fim é a razão prática. Por onde, é manifesto que a prudência não pertence senão à razão prática.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Como já dissemos, a sabedoria considera a causa absolutamente altíssima. Por onde, considerar a causa altíssima, em qualquer gênero, é próprio da sabedoria, nesse gênero. Ora, no gênero dos atos humanos, a causa altíssima é o fim comum a toda a vida humana. E este é o fim que visa a prudência. Pois, diz o Filósofo, assim como aquele que raciocina bem relativamente a um fim particular, por exemplo, a vitória, chama-se prudente, não absolutamente, mas nesse gênero, isto é, no da arte bélica; assim, quem raciocina certo relativamente ao bem viver, chama-se prudente, em absoluto. Por onde é manifesto, que a prudência é a sabedoria concernente às coisas humanas. Não porém, a sabedoria, absolutamente falando; porque não versa sobre a causa altíssima absoluta, pois diz respeito ao bem humano; ora, o homem não é o melhor dos seres existentes. Por isso, a Escritura diz, sinaladamente, que a prudência é a sabedoria para o homem; não porém a sabedoria, em sentido absoluto.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Ambrósio e também Túlio tomam a palavra prudência em sentido mais largo, para significar qualquer conhecimento humano, tanto especulativo como prático. - Embora se possa dizer que o ato mesmo da razão especulativa, enquanto voluntário, depende da eleição e do conselho, quanto ao seu exercício; e por conseguinte depende, da ordenação da prudência. Mas quanto à sua espécie, relativamente ao objeto que é a verdade necessária, não depende do conselho nem da prudência.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Toda aplicação da razão reta a algo de factível pertence à arte. Mas, à prudência não pertence senão a aplicação da razão reta às coisas reguladas pelo conselho, e que não oferecem meios determinados para chegar a um fim, como diz Aristóteles. Ora, a razão especulativa produz certas operações, a saber, silogismos, proposições e outras semelhantes, nas quais procede por certos meios fixos e determinados. Por onde, essas operações podem incluir essencialmente a arte, mas não a prudência; e por isso há uma arte especulativa, não porém uma prudência especulativa.

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