O primeiro discute-se assim. – Parece que a prudência não reside na potência cognoscitiva, mas na apetitiva.
1. – Pois, diz Agostinho. A prudência é um amor, que sagazmente, seleciona o que nos ajuda, do que nos prejudica. Ora, o amor não tem a sua sede na potência cognoscitiva, mas na apetitiva. Logo, a prudência reside na potência apetitiva.
2. Demais. – Como resulta da definição anterior, à prudência pertence escolher sagazmente. Ora, a escolha é um ato da virtude apetitiva, como se estabeleceu Logo, a prudência não tem sua sede na potência cognoscitiva, mas na apetitiva.
3. Demais. – O Filósofo diz, quem peca voluntariamente, no domínio da arte, é melhor que quem o faz involuntariamente; mas em relação à prudência ou às outras virtudes, é o contrário. Ora, as virtudes morais de que aqui se trata, residem na parte apetitiva, ao passo que a arte tem sua sede na razão. Logo, a prudência reside antes na parte apetitiva, que na razão.
Mas, em contrário, Agostinho: A prudência é o conhecimento das coisas que devemos buscar e evitar.
SOLUÇÃO. – Como diz Isidoro, ser prudente significa, por assim dizer, ver ao longe; pois o prudente é perspicaz e prevê os acontecimentos incertos. Ora, a visão não pertence à potência apetitiva, mas à cognoscitiva. Por onde é manifesto, que a prudência diretamente pertence à potência cognoscitiva. Não à sensitiva; pois por esta conhecemos só o que se realiza no presente e é objeto dos sentidos. Ora, conhecer o futuro pelo presente ou pelo passado - o que pertence à prudência propriamente compete à razão; pois, isso se dá por uma certa comparação. Donde se conclui que a prudência tem propriamente sua sede na razão.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Como se disse antes, a vontade move todas as potências para os seus atos. Ora, o primeiro ato da virtude apetitiva é o amor, como dissemos. Por isso chama-se amor à prudência, não essencialmente, mas enquanto move ao ato dela. De aí o acrescentar Agostinho, em seguida, que a prudência é o amor, enquanto discerne com acerto que nos ajuda a tender para Deus, daquilo que nô-lo pode impedir. E diz-se que o amor discerne, por mover a razão ao discernimento.
RESPOSTA À SEGUNDA. – O prudente considera as coisas afastadas enquanto próprias a ajudar ou impedir o que deve fazer o presente. Por onde é claro que o objeto considerado pela prudência se ordena, como meio, para um fim. Ora, os meios são: o conselho na razão, e a eleição, no apetite. E desses dois meios, o conselho pertence mais propriamente à prudência; por isso diz o Filósofo, que o prudente é de bom conselho. Mas, pressupondo a eleição o conselho - pois ela é o apetite do que foi de ante-mão aconselhado, como diz Aristóteles - podemos também atribuí-la à prudência, consequentemente, isto é, enquanto dirige a eleição, pelo conselho.
RESPOSTA À TERCEIRA. – O mérito da prudência não consiste só em considerar; mas em aplicar-se à ação, que é o fim da razão prática. Por onde, qualquer falha que haja relativamente a ele, tal será soberanamente contrária à prudência; pois, como o fim é, em cada ordem de coisas, o que há de mais importante, assim é péssima a falha relativamente ao fim. Por isso, no mesmo lugar, o Filósofo acrescenta, que a prudência não é acompanhada só da razão, como a arte; pois, importa, como dissemos, na aplicação à obra, o que se dá pela vontade.