O terceiro discute-se assim. – Parece que não é lícito, nas guerras, usar de insídias.
1. – Pois, diz a Escritura: Administrarás a justiça com retidão. Ora, as insídias, sendo espécies de fraude, parece implicarem a injustiça. Logo, não se deve usar de insídias, mesmo nas guerras justas.
2. Demais. – Como a mentira, as insídias e as fraudes se opõem à fidelidade. Ora, por devermos praticar a boa fé para com todos, a ninguém devemos mentir, como está claro em Agostinho. Como, pois, devemos praticar a boa fé para com o inimigo, segundo diz Agostinho, parece que não devemos usar de insídias contra os inimigos.
3. Demais. – A Escritura diz: O que vós quereis que vos façam os homens, fazei-o também vós a eles, e isto devemos observar para com todos os próximos. Ora, os inimigos são próximos. Por onde, como ninguém quer que outrem lhe prepare insídias nem fraudes, parece que ninguém deve fazer guerras com insídias.
Mas, em contrário, Agostinho: Quando alguém empreender uma guerra justa, em nada imporia à justiça se vencer quer em luta aberta, quer por insidias. E isto o prova pela autoridade do Senhor, que mandou Josué fazer insídias aos habitantes da cidade de Hai, como se lê na Escritura.
SOLUÇÃO. – As insídias se ordenam a enganar os inimigos. Ora, de dois modos alguém pode ser enganado por feito ou dito de outrem. De um modo, quando se lhe diz uma falsidade ou não se lhe faz o prometido. Isto sempre é ilícito, e deste modo ninguém deve enganar os inimigos; pois, há certos direitos de guerra e convenções, que devem ser observados mesmo pelos próprios inimigos, como diz Ambrósio. De outro modo, alguém pode ser enganado por um dito ou feito nosso, porque não lhe abrimos o nosso propósito ou a nossa intenção. Ora, nem sempre estamos obrigados a fazê-la; pois, mesmo na doutrina sagrada, muitas causas devem ser ocultadas, sobretudo aos infiéis, para não as ridicularizarem, conforme aquilo da Escritura: Não deis aos cães o que é santo, Por onde, com maior razão, devemos ocultar aos inimigos o que preparamos para a luta. Por isso, entre os outros preceitos da arte militar ocupa o primeiro lugar o de ocultarmos os nossos desígnios, para não serem percebidos pelos inimigos, como se lê claramente em Frontino. E o serem assim ocultadas pertence à natureza das insidias, que podemos licitamente usar nas guerras justas. - Nem propriamente tais insídias se chamam fraudes; nem repugnam à justiça; nem à vontade ordenada; pois, seria desordenada a vontade que pretendesse que ninguém lhe ocultasse nada.
Donde se deduzem claras as RESPOSTAS ÀS OBJEÇÕES.