O segundo discute-se assim. – Parece que a contenção não é filha da vanglória.
1. – Pois, a contenção tem afinidades com o zelo, donde o dizer o Apóstolo: Porquanto, havendo entre vós zelos e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem? Ora, o zelo é próprio da inveja. Logo, com maior razão, a contenção nasce da inveja.
2. Demais. – A contenção é acompanhada de um certo clamor. Ora, o clamor nasce da ira, como está claro em Gregório. Logo, também a contenção nasce da ira.
3. Demais. – A ciência parece ser sobretudo, matéria da soberba e da vanglória, conforme aquilo da Escritura: A ciência incha. Ora, a contenção provém muitas vezes da falta de ciência, que leva a conhecer e não a impugnar a verdade. Logo, a contenção não é filha da vanglória.
Mas, em contrário, a autoridade de Gregório.
SOLUÇÃO. – Como já dissemos discórdia é filha da vanglória, porque cada um dos que discordam se apega à sua opinião própria e um não cede ao outro. Ora, é próprio da soberba e da vangloria buscar a excelência própria. Mas, assim como são discordantes os que, de coração, se apegam às suas opiniões próprias, assim, contendentes são os que, com palavras, defendem as suas opiniões. Por onde, pela mesma razão, a contenção e a discórdia são consideradas filhas da vanglória.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A contenção, como a discórdia, tem afinidades com a inveja, quanto ao nos afastarmos do que discordamos ou daquele com quem contendemos. Mas, quanto ao que se apega o que contende, tem conveniência com a soberba e a vanglória, isto é, enquanto se apega à sua opinião própria.
RESPOSTA À SEGUNDA. – O clamor é usado, na contenção de que se trata, para o fim de impugnar a verdade. Por onde, não é o elemento principal da contenção. Portanto, não é forçoso que esta derive da mesma origem que o clamor.
RESPOSTA À TERCEIRA. – A soberba e a vanglória tomam ocasião sobretudo dos bens, mesmo dos que lhes são contrários, por exemplo, quando alguém se ensoberbece pela sua humildade. Mas esta derivação é acidental e não essencial; pois, desse modo, nada impede um contrário nascer de outro. Por onde, nada impede que o originado essencial e diretamente, da soberba ou da vanglória, seja causado pelo contrário daquilo de que ocasionalmente nasce a soberba.