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Artigo 1 - Se podemos odiar a Deus.

O primeiro discute-se assim. – Parece que ninguém pode odiar a Deus.

1. – Pois, como diz Dionísio, a bondade e a beleza, em si mesma, é amada e querida de todos, Ora, Deus é a bondade e a beleza mesma. Logo, não pode ser odiado de ninguém.

2. Demais. – Nos Apócrifos de Esdras se diz, que todos os seres invocam a verdade e se comprarem nas obras dela. Ora, Deus é a verdade mesma, como diz a Escritura. Logo, todos amam a Deus e ninguém pode odiá-lo.

3. Demais. – O ódio é uma aversão. Ora, como diz Dionísio Deus atrai tudo para si. Logo, ninguém pode odiá-lo.

Mas, em contrário, a Escritura: A soberba daqueles que te aborrecem sobe continuamente; e, noutro lugar: Mas agora eles viram e me aborreceram tanto a mim como a meu Pai.

SOLUÇÃO. – Como do sobredito se colhe o ódio é um movimento da potência apetitiva, que só se move por um objeto apreendido. Ora, Deus pode ser apreendido pelo homem de dois modos: em si mesmo, quando visto na sua essência; ou pelos seus efeitos, a saber, quando as coisas invisíveis de Deus se vêm consideradas pelas obras que foram feitas. Ora, Deus pela sua essência é a mesma bondade, que não pode ser odiada de ninguém, por pertencer à essência do bem o ser amado. Portanto, é impossível que quem vir a essência de Deus o odeie. Quanto aos seus efeitos, uns não podem de nenhum modo ser contrários à vontade humana; pois, viver e inteligir, que são efeitos de Deus, todos os desejam e amam. Por onde, também enquanto apreendido como autor desses efeitos, Deus não pode ser odiado. Ha porém outros efeitos de Deus que repugnam à vontade desordenada, como, a inflicção de penas e também a coibição dos pecados, pela lei divina, o que tudo repugna à vontade depravada pelo pecado. E se levarmos em consideração esses efeitos, Deus pode ser odiado por aqueles que o tem como o proibidor dos pecados e o infligidor das penas.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. –­ A objeção colhe relativamente aos que vêm a essência divina, que é a essência mesma da bondade.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A objeção procede se Deus é apreendido como causa daqueles efeitos que são naturalmente amados de todos; entre os quais estão as obras da verdade facultando o seu conhecimento aos homens.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Deus atrai tudo para si enquanto princípio da existência; porque todos os seres, enquanto existentes, tendem à semelhança com Deus, que é o ser em si mesmo.

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