O quinto discute-se assim. – Parece que Deus não pode ser totalmente amado.
1. – Pois, o amor resulta do conhecimento. Ora, Deus não pode ser totalmente conhecido por nós, porque então o compreendemos. Logo, não pode ser totalmente amado por nós.
2. Demais. – O amor é uma união, como está claro em Dionísio. Ora, o coração do homem não pode unir-se totalmente com Deus, porque Deus é maior que o nosso coração, como diz a Escritura. Logo, Deus não pode ser totalmente amado.
3. Demais. – Deus ama-se totalmente a si mesmo. Logo, se for também totalmente amado por outrem, esse amá-lo-á tanto quanto ele se ama a si mesmo, o que é inadmissível. Logo, Deus não pode ser totalmente amado por nenhuma escritura.
Mas, em contrário, a Escritura: Amarás ao senhor teu Deus de todo o teu coração.
SOLUÇÃO. – Entendendo-se o amor como um meio entre o amante e o amado, a questão se Deus pode ser totalmente amado, pode ser compreendida em tríplice sentido. - Num sentido tal que o modo se refira totalmente ao ser amado. E então Deus deve ser totalmente amado, porque o homem deve amar tudo o concernente a Deus. - Noutro sentido pode a questão ser entendida de modo que a totalidade se refira ao amante. E assim, ainda Deus deve ser totalmente amado, porque o homem deve amá-la com todas as suas forças e deve ordenar ao amor de Deus tudo o que tem, conforme aquilo da Escritura: Amarás ao senhor teu Deus de todo o teu coração. - Num terceiro sentido a questão pode ser entendida quanto à relação entre o amante e a causa amada, de maneira que o modo do amante seja adequado ao da causa amada. O que não pode se dar, no caso vertente. Pois, sendo qualquer ser amável na medida em que é bom, Deus, tendo uma bondade infinita, é infinitamente amável. E nenhuma criatura pode amá-la infinitamente, porque toda virtude da criatura, natural ou infusa, é finita.
Donde se deduzem claramente as RESPOSTAS AS OBJEÇÕES – Pois, as três primeiras, fundadas neste terceiro sentido, são procedentes. - E a ultima é procedente, fundada no segundo sentido.