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Artigo 10 - Se devemos, amar mais à mãe que ao pai.

O décimo discute-se assim. – Parece que devemos amar mais à mãe que ao pai.

1. – Pois como diz o Filósofo, a fêmea é a que dá o corpo, na geração. Ora a alma não a recebemos do pai, mas de Deus, por criação, conforme já se estabeleceu, na primeira parte. Logo, recebemos mais da mãe, que do pai e portanto, devemos amar mais aquela que a este.

2. Demais. – Devemos amar mais a quem é mais amante. Ora, a mãe ama ao filho, mais que o pai; pois, como diz o Filósofo as mães são mais amantes dos filhos, por ser a geração mais laboriosa para as mães e elas saberem, mais que os pais, que os filhos são delas, Logo, devemos amar mais à mãe que ao pai.

3. Demais. – Devemos devotar maior afeto de amor a quem trabalhou mais por nós, conforme aquilo da Escritura: Saudai a Maria, a qual trabalhou muito entre vós. Ora, a mãe trabalha, na geração e na educação, mais que o pai; donde o dizer a Escritura: Não te esqueças dos gemidos de tua mãe. Logo, devemos amar mais à mãe que ao pai.

Mas, em contrário, Jerónimo diz: Depois de Deus, Pai de todos, devemos amar o pai; e a seguir, refere-se à mãe.

SOLUÇÃO. – O sentido implicado nessas comparações deve ser interpretado, em si mesmo, de modo a entendermos ser pergunta: se o pai, como tal deve ser mais amado do que a mãe, como tal. Pois, em todos os casos como esses, pode haver tanta diferença de virtude e de malícia, a ponto de a amizade desaparecer ou diminuir, no dizer do Filósofo. E portanto, como diz Ambrósio, os bons criados devem ser preferidas aos maus filhos, Mas, considerada a questão em si mesma, devemos amar mais ao pai que à mãe. Pois, a esta e aquele amamos como os princípios da nossa origem natural. Pois o pai realiza a noção de princípio de maneira mais excelente que a mãe, por ser principio ao modo de agente ao passo que a mãe o é, a modo de paciente e matéria. Logo, absolutamente falando, devemos amar mais ao pai.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. –­ Na geração humana a mãe ministra a matéria informe do corpo, que se forma pela virtude formativa existente no sémen paterno. E embora esta virtude não possa criar a alma racional, contudo, dispõe a matéria corpórea para receber essa forma.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O amor pelo qual se ama ao amante tem fundamento diverso; pois, a amizade com que o amamos é diversa da com que amamos os progenitores. Ora, agora tratamos da amizade devida ao pai e à mãe, como progenitores.

Donde se deduz claramente a RESPOSTA À TERCEIRA OBJEÇÃO.

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