O quarto discute-se assim. – Parece que a caridade não pode aumentar.
1 – Pois, só aumenta o que tem quantidade que pode ser dimensiva ou virtual. Ora, aquela não convém à caridade, que é uma perfeição espiritual. Por outro lado, a quantidade virtual se funda no objeto: e relativamente a este a caridade não cresce, porque uma caridade mínima ama tudo o que deve ser amado pela caridade. Logo, a caridade não aumenta.
2. Demais. – O que está no termo não pode receber aumento. Ora, a caridade está no termo, pois, é a maior das virtudes e o sumo amor do bem ótimo, Logo, a caridade não pode aumentar .
3 Demais. – Aumento é movimento. Logo, o que aumenta se move; e, portanto, o que aumenta essencialmente se move essencialmente. Mas não se move essencialmente senão o que é susceptível de corrupção ou de geração. Logo, a caridade não pode aumentar essencialmente, salvo se de novo gerar-se e corromper-se, o que é inadmissível.
Mas, em contrário, diz Agostinho: a caridade merece aumentar para que, aumentada, também mereça aperfeiçoar-se.
SOLUÇÃO. – A caridade, na via, pode aumentar. Pois, somos viandantes, por tendermos para Deus, fim último da nossa felicidade. Ora, nesta via, tanto mais progredimos quanto mais nos aproximamos de Deus; e dele não nos aproximamos pelos passos do corpo, mas, pelos afetos da mente. Mas, é a caridade que opera essa aproximação, pois, por ela o nosso espírito se une a Deus. Por onde, a caridade desta via é, por natureza, susceptível de aumento; pois, se não o fosse, cessaria o nosso progredir na via. Por isso, o Apóstolo lhe chama via à caridade, dizendo: Ainda vou a mostrar-vos outra via mais excelente.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A caridade não cabe a quantidade dimensiva, mas só a virtual. E esta depende, não só do número dos objetos, de modo que os amemos em maior ou menor número; mas também da intensidade do ato, de modo a os amarmos mais ou menos. E neste sentido a quantidade virtual da caridade pode aumentar.
RESPOSTA À SEGUNDA. – A caridade é a suma virtude, pelo seu objeto, que é o sumo bem; donde resulta ser a excelentíssima das virtudes. Mas nem toda caridade é virtude suma, quanto à intensidade do ato.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Alguns disseram que a caridade não pode aumentar na sua essência, mas só quanto à sua radicação no sujeito, ou ao fervor. - Mas estes ignoravam a própria opinião. Pois, sendo a caridade um acidente, tem, por essência, o existir noutro ser. Por onde, o seu aumento, em essência, não é mais do que ser mais estreitamente existente no sujeito, o que é nele radicar-se mais fundo. E também, essencialmente, é uma virtude ordenada ao ato. Por onde, o mesmo é aumentar ela em essência, que ter eficácia para produzir atos de amor mais fervoroso. Logo, pode aumentar essencialmente; não por começar ou deixar de existir no sujeito, caso em que a objeção colheria; mas por começar a existir mais estreitamente nele.