O oitavo discute-se assim. – Parece que a caridade não é a forma das virtudes.
1. – Pois, a forma de um ser ou é exemplar ou essencial. Ora, a caridade não é forma exemplar das outras virtudes, porque então estas seriam necessariamente da mesma espécie que ela. E também não é a forma essencial delas, porque não poderia delas se distinguir. Logo, de nenhum modo é forma das virtudes.
2. Demais. – A caridade está para as outras virtudes como raiz e fundamento, conforme aquilo da Escritura: Arraigados e fundados em caridade. Ora, a raiz e o fundamento não têm natureza de forma, mas antes, de matéria, por constituir a parte primeira, na geração. Logo, a caridade não é a forma das virtudes.
3. Demais. – À forma, o fim e a eficiência não coincidem numericamente, como diz Aristóteles. Ora, a caridade é considerada fim e mãe das virtudes. Logo, não pode ser considerada forma delas.
Mas, em contrário, Ambrósio diz, que a caridade é a forma das virtudes.
SOLUÇÃO. – Na ordem moral, a forma do ato depende principalmente do fim. E a razão disso é que a vontade é o princípio dos atos morais, cujo objeto e como que forma é o fim. Ora, a forma de um ato resulta da forma do agente. Por onde e necessariamente, na ordem moral, o que ordena o ato para o fim dá-lhe também a forma. Ora, é manifesto, pelo já dito, que a caridade ordena os atos de todas as outras virtudes para o fim. E assim sendo, também dá forma aos atos de todas as outras virtudes. E por isso é considerada a forma delas; pois, as virtudes são mesmo assim chamadas por se ordenarem a atos informados.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A caridade é considerada forma das outras virtudes, não exemplar, nem essencialmente, mas antes, efetivamente, isto é, por impor-lhes a forma, do modo referido.
RESPOSTA À SEGUNDA. – A caridade é comparada ao fundamento e à raiz, por dela se sustentarem e nutrirem todas as outras virtudes; e não por se levar em conta a natureza de causa material, do fundamento e da raiz.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Diz-se que a caridade é fim das outras virtudes pelas ordenar todas para os seus fins próprios. E sendo a mãe a que concebe, de outrem, chama-se ela por isso mãe das outras virtudes, porque, pelo desejo do fim último concebe, ordenando-os, os atos das outras.