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Artigo 2 - Se o embotamento do sentido difere da cegueira da mente.

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O segundo discute-se assim. – Parece que o embotamento do sentido não difere da cegueira da mente.

1. –Pois, a cada contrário se opõe um só contrário. Ora, ao dom do intelecto se opõe o embotamento, como claramente o diz Gregório. Mas também se lhe opõe a cegueira da mente, porque o intelecto designa um princípio compreensivo. Logo, o embotamento do sentido é o mesmo que a cegueira da mente.

2. Demais. – Gregório, falando do embotamento, chama-lhe embotamento do sentido intelectual. Ora, ter esse sentido embotado não é senão ter deficiente a inteligência, o que é próprio da cegueira da mente. Logo, o embotamento do sentido é o mesmo que esta cegueira.

3. Demais. – Se a cegueira da mente e o embotamento do sentido diferem, hão de diferir sobretudo por ser aquela voluntária como já se disse e este, um defeito natural. Ora, defeito natural não é pecado. Logo, sendo assim, o embotamento da mente não constituiria pecado; o que vai contra Gregório que o enumera entre os vícios nascidos da gula.

Mas, em contrário, causas diversas produzem efeitos diversos. Ora, Gregório, no mesmo lugar, diz, que o embotamento do sentido nasce da gula; e a cegueira da mente, da luxúria. Ora, são vícios diferentes a luxúria e a gula. Logo, também o embotamento do sentido e a cegueira da mente.

SOLUÇÃO. – O embotamento se opõe à agudeza. Ora, chama-se agudo ao que é penetrante; por isso denomina-se boto o que é obtuso e não pode penetrar. Mas, se diz, por uma certa semelhança, que os sentidos corpóreos penetram o meio, por perceberem, à distância, o objeto, ou por poderem, como penetrando, perceber o que há de mínimo e mais íntimo no objeto. Por isso diz-se que tem sentidos corpóreos agudos quem pode perceber de longe o sensível, vendo, ouvindo ou cheirando. E ao contrário, de sentidos embotados é quem só percebe, de perto, objetos sensíveis grandes.

Ora, por semelhança com os sentidos do corpo, também se diz que há um sentido intelectual, cujo objeto são certos extremos primeiros, no dizer de Aristóteles; como também os sentidos conhecem os sensíveis, que são uns como princípios do conhecimento. O sentido intelectual porém não percebe o seu objeto por meio da distância corpórea mas, por certos outros meios. Assim, pelas propriedades de um ser, percebe-lhe a essência e, pelo efeito, a causa. Donde o dizer­se que é agudo de sentido intelectual quem, apreendendo as propriedades de um ser, ou ainda os efeitos, compreende-lhe a natureza e pode atingir até às mínimas condições a serem nele consideradas. Boto, de inteligência, ao contrário, se chama a quem não pode alcançar o conhecimento da verdade de um objeto senão por abundante exposição que dele se lhe faça; e portanto não pode também atingir a compreensão perfeita de tudo o que constitui a essência do objeto.

Por onde, o embotamento do sentido intelectual implica uma certa debilidade da mente no considerar os bens espirituais; e a cegueira da mente importa na omnímoda privação do conhecimento deles. E uma e outra coisa se opõem ao dom do intelecto, pelo qual o homem conhece os bens espirituais, apreendendo-os, e penetra-lhes subtilmente o íntimo. O embotamento, porém, tem natureza de pecado, assim como a cegueira da mente, por serem voluntários; isso bem o mostra quem, preso pelo afeto às coisas carnais, enfada-se ou descura-se de penetrar com agudeza os bens espirituais.

Donde se deduzem claras as RESPOSTAS ÀS OBJEÇÕES.

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