O quarto discute-se assim. – Parece que é o objeto da fé algo de visível.
1. – Pois, o Senhor disse a Tomé: Tu crestes, porque me viste: Logo, a visão e a fé tem o mesmo objeto.
2. Demais. – O Apóstolo diz: Nós agora vemos como por um espelho, em enigmas; e refere-se ao conhecimento pela fé. Logo, vemos aquilo mesmo em que cremos.
3. Demais. – É a fé um certo lume espiritual. Ora, qualquer luz nos faz ver. Logo, tem a fé por objeto as coisas visíveis.
4. Demais. – Todo sentido se chama visão, como diz Agostinho. Ora, a fé diz respeito ao que é ouvido, conforme aquilo da Escritura. A fé é pelo ouvido. Logo, a fé refere-se às coisas visíveis.
Mas, em contrário, diz a Escritura: é a fé um argumento das causas que não aparecem.
SOLUÇÃO. – A fé implica o assentimento do intelecto aquilo em que cremos. Ora, a inteligência pode assentir a alguma coisa, de dois modos. - De um modo, quando movido pelo objeto mesmo, ou conhecido, em si, como é claro no caso dos primeiros princípios, objeto do intelecto; ou mediatamente, como é claro no caso das conclusões, objeto da ciência. – De outro modo, o assentimento da inteligência não se funda em ser ela suficientemente movida pelo seu objeto próprio, mas por uma certa eleição, inclinada voluntariamente mais para um lado do que para outro. E então, se isso se der com dúvida e temor não vá a outra parte ser verdadeira, haverá opinião. Se porém, houver certeza, sem qualquer temor, existirá a fé. Ora, vistas são as coisas que, por si mesmas, movem o nosso intelecto, ou os sentidos, ao conhecimento delas. Por onde, é manifesto que nem a fé nem a opinião podem ter por objeto o visível, seja este sensível ou intelectual.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Tomé viu uma causa e acreditou em outra: viu um homem e, confessou crer em Deus, quando disse - meu Senhor e meu Deus.
RESPOSTA À SEGUNDA. – As verdades da fé podem ser consideradas à dupla luz. - Primeiro em especial. E, não podem então ser simultaneamente vistas e cridas, como já se disse. - De outro modo, em geral, isto é, sob uma noção geral de credibilidade. E nesse caso, são vistas pelo crente. Pois, não acreditaria nelas, se não visse que devem ser acreditadas, quer pela evidência dos sinais, quer por meio semelhante.
RESPOSTA À TERCEIRA. – O lume da fé faz-nos ver a credibilidade das verdades em que acreditamos. Pois, assim como peles outros hábitos virtuosos vemos o que nos convém, de conformidade com eles, assim também pelo hábito da fé, a nossa mente se inclina a assentir ao que convém à fé reta e não, a outras coisas.
RESPOSTA À QUARTA. – O ouvido se refere às palavras significativas das verdades da fé; e não, às verdades mesmas constitutivas do objeto da fé. E assim, não é necessário sejam elas vistas.