O quarto discute– se assim. – Parece que todo o perfeito está no estado de perfeição.
1. – Pois, o crescimento do corpo leva à perfeição do mesmo; assim, o crescimento espiritual leva à perfeição espiritual, como se disse. Ora, com o crescimento do corpo o homem chega ao estado da idade perfeita. Logo, parece também que quem cresceu espiritualmente já alcançou a perfeição e vive nesse estado.
2. Demais. – Pela mesma razão pela qual um ser se move de um ponto para o ponto contrário, move–se também do menor para o maior, como diz Aristóteles. Ora, de quem passa do estado do pecado para o da graça se diz que muda, enquanto que o estado da culpa se distingue do da graça. Logo, parece, pela mesma razão, que quem sobe de uma graça menor para outra maior, até chegar à perfeição, alcança o estado da perfeição.
3. Demais. – Obtém um estado quem se liberta da servitude. Ora, pela caridade nós nos livramos da servitude do pecado, pois, a caridade cobre todos os delitos, no dizer da Escritura. Ora, pela caridade é que somos perfeitos, como se disse. Logo, parece que todo o que tem a perfeição por isso mesmo vive no estado de perfeição.
Mas, em contrário, há certos que, apesar de estarem no estado de perfeição, carecem de todo da caridade e da graça, como são os maus bispos e os maus religiosos. Logo parece que, ao contrário, podem ter a perfeição da vida certos que não estão no estado de perfeição.
SOLUÇÃO. – Como dissemos o estado propriamente diz respeito à condição de liberdade ou de servitude. Ora, a liberdade ou a servitude espiritual do homem pode ser considerada a dupla luz: quanto à ação interna e quanto a externa. E como, no dizer da Escritura – o homem vê o que está patente, mas o Senhor olha para o coração – é da disposição interior do homem que resulta a condição espiritual do seu estado relativamente ao juízo divino. Dos seus atos externos, por outro lado, resulta o seu estado espiritual relativamente à Igreja. Ora, tratamos do estado, presentemente, enquanto que da diversidade deles resulta para uma igreja um certo ornato.
Mas devemos considerar que, para o homem alcançar o estado de liberdade ou de servitude, duas condições são necessárias. – Primeiro uma obrigação ou uma libertação. Pois, quem serve a outrem, nem por isso deste se torna escravo, porquanto também os livres podem servir, como ensina o Apóstolo: Servi–vos uns aos outros pela caridade do espírito. Nem pela fato de deixar de servir, como no casa dos escravos fugidos, torna–se alguém livre. Mas, servo propriamente é o que está obrigado a servir; e livre é quem ficou desligado da servitude. – Em segundo lugar é necessário, que a referida obrigação seja contraída mediante uma certa solenidade, como os homens procedem sempre quando se trata do que deve ter para eles uma duração perpétua.
Assim, pois, dizemos propriamente, que alguém está no estado de perfeição, não por exercer em ato de amor perfeito, mas por obrigar–se perpetuamente, mediante certa solenidade às causas pertencentes à perfeição. Mas acontece que uns se obrigam ao que não observam e outros observam o a que não se obrigaram. Assim, no caso do Evangelho, um dos dois filhos, ao pai que dizia – Trabalha na minha vinha, respondeu: não quero, mas depois foi ao passo que o outro, respondendo, disse: eu vou, e não foi. Por onde, nada impede certos de serem perfeitos, sem estarem no estado de perfeição; e outros de estarem no estado de perfeição sem contudo serem perfeitos.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Pelo crescimento do corpo o homem progride no atinente à natureza e assim alcança o estado da natureza. Sobretudo que o natural é de certo modo imutável, por ser a natureza determinada na sua ação. Semelhantemente, pelo crescimento espiritual interior alcançamos o estado de perfeição, relativamente ao juízo divino. Mas, quanto às distinções dos estados eclesiásticos, ninguém alcança o estado de perfeição senão intensificando a sua atividade exterior.
RESPOSTA À SEGUNDA. – A objeção colhe quanto ao estado interior. E contudo quem passa do estado de pecado para o de graça passa da servitude para a liberdade. E isso não se dá pelo simples aumento da graça, senão quando nos obrigamos às causas da graça.
RESPOSTA À TERCEIRA. – A objeção colhe quanto ao estado interior. E contudo, embora a caridade faça variar a condição da servitude e da liberdade espirituais, isso todavia não acarreta um aumento de caridade.