“À sua passagem pela América, como pela Europa, África, Índia, Indonésia e Austrália, chovem bênçãos e maravilhas da graça de tal modo que mal podemos crer naquilo que nossos olhos vêem.” (PioXII)
“Não hesito em qualificar de milagrosa a peregrinação de Nossa Senhora de Fátima, através do mundo, porque, está acompanhada desde o começo e em todo o país, de circunstancias que não tem explicação natural. E não sei se há na história acontecimento comparável.” (Cardeal Cerejeira) .
Um Precedente:
O Grande retorno de Nossa Senhora de Boulogne (1943 - 1948)
Em 1938, para comemorar o terceiro centenário da consagração da França à Virgem Maria pelo rei Luis XIII, na cidade de Boulogne, várias reproduções da imagem de Nossa Senhora de Boulogne, foram enviadas em visita a algumas centenas de paróquias do norte da França. Uma delas foi levada a Lourdes, cidade da Imaculada, e aí ficara.
Alguns anos mais tarde, em 28 de março de 1943, os bispos da França consagraram todas as dioceses da França ao Imaculado Coração de Maria, para fazer eco à consagração do mundo, por Pio XII, em 31 de outubro de 1942. Foi então que o padre Ranson S.J. organizou o grande retorno de Nossa Senhora de Boulogne, de Lourdes até o santuário no norte da França. O sucesso foi extraordinário, a tal ponto que rapidamente se decidiu fazer peregrinar quatro imagens idênticas, por caminhos diferentes. As imagens eram recebidas nas cidades e aldeias por multidões de fiéis. Era uma gigantesca missão mariana centrada na conversão pessoal e na consagração ao Imaculado Coração de Maria. O prodigioso percurso durou sessenta meses.
Devemos assinalar a surpresa dos meios da ação católica: “O grande retorno a Reims, dizia o diretor, atingia ambientes que nunca jamais a ação católica tinha atingido. Apresenta-se para nós muitos problemas” - “Há anos, afirmava outro responsável, tentamos apresentar o problema religioso nos meios mais descristianizados. Nossos esforços foram vãos. Nossa Senhora do grande retorno passa e, de modo inacreditável, em alguns dias torna-se o único assunto das conversas, não somente de católicos, mas também entre homens e mulheres que pensávamos estar bem afastados de nossa fé. Todo mundo trabalha, faz guirlandas, arcos de triunfos.”
Manifestamente a Virgem Maria preparava os corações para um projeto ainda mais glorioso.
Um projeto iniciado em Berlim, Alemanha
Em maio de 1945, quando a guerra terrível enviada por Deus para castigar o mundo acabava, os vigários das paróquias católicas de Berlim tiveram a idéia de conduzir uma imagem da Virgem de região em região, para consolidar a paz recentemente conseguida. Naturalmente pensaram em fazer peregrinar uma imagem daquela que tinha prometido: “Se escutarem meus pedidos, a Rússia se converterá e haverá paz.”(Fátima, 13 de julho de 1917).
Durante dois anos o projeto dos párocos de Berlim passou de repartição em repartição. Finalmente, foi o plano de um jovem religioso belga, padre Demontiez O.M.I., que tomou corpo: em 13 de maio de 1947, uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, partiu da Cova da Iria, para ir presidir o Congresso Marial de Maastricht, dos Países Baixos e começou a viagem através das fronteiras da Europa e do mundo inteiro.
Ninguém poderia ter imaginado o formidável movimento de oração, de penitência, de conversões e maravilhas de toda espécie que a Virgem Maria provocaria à sua passagem.
As Marés Humanas
No começo foram multidões imensas que ficavam à espera de Nossa Senhora. Nada era mais desproporcional aos resultados que os meios de publicidade empregados. Bastava uma palavra do clero e todo o povo de uma cidade, às vezes de uma região inteira, se deslocava para trazer suas homenagens à Rainha da paz.
Desde sua partida da Cova da Iria, os fiéis se apressavam em cercá-la, e as primeiras conversões começavam a acontecer.
Na Espanha contava-se em certas cidades até 100 ou 200 mil fiéis para aclamar a Virgem. Os bispos vinham recebê-la, os chefes políticos das aldeias saldavam-na, o exército apresentava armas. Onde ela passava cinemas e teatros se fechavam e o dia era feriado para que todo mundo pudesse aclamar a Senhora.
A acolhida da França foi mais reservada, o governo chamado da “liberdade” se mostrava irritado por aquela manifestação pouco adequada ao laicismo que tinha vindo ao poder. Contudo, os organizadores conseguiram fazer passar a imagem em certas cidades e ela recebeu uma acolhida calorosa: Hendaye, Bayonne, Lourdes, e daí rapidamente para a fronteira belga.
A Bélgica foi mais entusiástica, de novo foram centenas de milhares de peregrinos que aclamaram a Virgem de cidade em cidade, para chegar finalmente ao Congresso de Maastricht, onde os cardeais e bispos da Bélgica, Holanda e Luxemburgo beijaram a branca imagem.
Daí a Senhora passou para a Holanda e depois para Luxemburgo. Nesse pequeno país que não contava mais de 250.000 habitantes, houve 100.000 comunhões em honra da Virgem peregrina.
Paris, e novamente a Bélgica, foram as novas etapas, antes do retorno a Portugal.
O mesmo entusiasmo das multidões se deram nos outros “caminhos”. Estados Unidos, Canadá, América do sul, África, Ásia e Oceania.
É preciso notar ainda uma nova peregrinação espanhola em 1948, onde a Virgem reuniu 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) fiéis em Madri. Houve quinze curas milagrosas, durante uma missa celebrada para 13.000 doentes.
Um ponto capital deve ser destacado: essas manifestações não eram a expressão de um simples entusiasmo exterior e superficial. Em toda parte houve confissões, comunhões, Rosários, horas de reparação, consagrações individuais ao Imaculado Coração de Maria.
Ligas de oração, ou de penitências foram fundadas para prolongar a irradiação de sua visita.
Como por ocasião do grande retorno à França, a Virgem Maria realizava apostolado realmente sobrenatural, indicando os meios para de novo re-cristianizar o mundo.
O Milagre das Pombas
Um dos mais belos adornos da peregrinação mundial, foi certamente o gracioso prodígio das pombas brancas, misteriosamente atraídas pelas imagens benditas de Nossa Senhora de Fátima.
A primeira cidade que viu o fenômeno foi a mais revolucionária de Portugal, Bombarral. Em 28 de novembro de 1946, a peregrinação Portuguesa deixava esta cidade. Na passagem de um arco do triunfo, soltaram-se cinco pombas em honra da Virgem. Mas em vez de irem para os quatro cantos do céu, voltaram e ficaram no cortejo seguindo a peregrinação. Depois pousaram no carro da Virgem, subindo no meio das flores e se aninhando aos pés da imagem de Nossa Senhora. Aí ficaram durante oito dias. As zoadas dos auto-falantes, o órgão, os foguetes, tiros de homenagem, iluminação, nada espantava as aves.
O que mais impressionava as testemunhas era a atitude religiosa daquelas pombinhas. Por exemplo, foram vistas se voltarem para o púlpito na hora do sermão, colocarem-se umas à direita, outras à esquerda do Ostensório na exposição do Santíssimo Sacramento. Em Lisboa, em 6 de dezembro, durante a missa solene, uma das pombas, foi ficar em cima da coroa da Virgem, e aí ficou com as asas abertas viradas para o altar o tempo todo que durou as 3 mil comunhões.
O fenômeno das pombas se manifestou também durante a peregrinação mundial: no Congresso Mariano de Madri (1948) e em muitas dioceses da Espanha, na França, em diversos países da África, nas peregrinações da América do Sul, (sobretudo na Colômbia, em 1950).
Citemos aqui um fato impressionante que se realizou na capital francesa, Paris, em 8 de dezembro de 1952. Uma grande reunião de informações sobre o Exército Azul tinha sido organizada no Parque de Exposições para lançar o movimento na França. Hamish Fraser (1913-1986) devia tomar a palavra na presença de Monsenhor Rupe, bispo auxiliar de Paris. O orador fora comissário nas brigadas comunistas durante a guerra na Espanha. Foi ele quem comandou o pelotão que, depois de um simulacro de julgamento, condenou Cristo Rei à morte e fuzilou sua imagem numa praça de Madri. Pois ele tinha se convertido ao catolicismo e se tornado um ardoroso apóstolo das mensagens de Fátima.
No momento em que ia começar a falar, uma pomba desceu do alto da sala fez um giro em cima do estrado, pousou sobre a sua cabeça, enquanto ele se levantava. Ficou aí uns 12 minutos, apesar dos flashs das máquinas fotográficas. Ora, eis as palavras que Hamish Fraser tinha resolvido dizer na Conferência: “Sei que a oração pode converter os comunistas. Sei que a oração pode converter a Rússia. Que a Rússia se converta ou não, que haja uma terceira guerra mundial ou não, que a Igreja de Jesus Cristo volte as catacumbas ou não, isto depende de uma resposta a uma pergunta: “Estamos preparados para fazer o que nos pediu a Mãe de Deus pessoalmente?” Se respondermos a esta pergunta dizendo sim, a Rússia se converterá e haverá paz e poderemos olhar o futuro de frente. Se hoje o Corpo Místico de Jesus Cristo está crucificado, não são os comunistas os principais responsáveis, pois os soldados de Stalin que estão a beira de enfiar os cravos na carne do Corpo Místico da Igreja não são os agentes do Kremlin, mas de nossa apatia, de nossa letargia, nossa falta de lealdade e de coragem. Assim que nós, católicos, começarmos a aceitar plenamente nossas responsabilidades, o comunismo se tornará tão ineficaz, quanto a heresia ariana. Na minha fraca e humilde opinião, Fátima é o acontecimento mais significativo do século, talvez o mais significativo da história, do protestantismo para cá” .
Enviando uma de suas brancas pombas para ficar na cabeça do orador, a Virgem de Fátima estava aprovando o magnífico discurso que ele ia pronunciar.
Nossa Senhora Missionária
É preciso falar agora da atração dos não católicos pela Virgem de Fátima. Em 1986, em Assis, e nas outras cerimônias semelhantes que se seguiram, as autoridades da igreja convidaram as falsas religiões a praticarem seus cultos em público para pedir pela paz do mundo, violando e desrespeitando o 1º mandamento da lei de Deus: “adorarás a um só Deus.”
Durante a peregrinação mundial, ao contrário, Nossa Senhora de Fátima chamou os não católicos, não para praticarem os seus cultos aos seus deuses, mas, para se voltar a Ela, única medianeira junto ao único mediador, Nosso Senhor Jesus Cristo.
Em Patna, na Índia, o governador da província, brâmane, entrou na Igreja e rezou diante da imagem da Virgem.
Numerosos países da Ásia, da África e da Oceania, governadores e prefeitos, pagãos e protestantes, autorizaram e facilitaram procissões que muitas vezes faziam pela primeira vez naquela cidade onde os católicos são uma pequena minoria. Dirigiam a Nossa Senhora homenagens e a oração oficial de seus administrados.
Na África do Sul, todas as raças e religiões se juntaram na hora das procissões mariais. Em Untata, uma delegação de anglicanos veio solicitar ao bispo que fizesse parar a procissão diante da catedral deles. A autorização não foi dada, para não dar apoio à religião falsa, mas conseguiram que o cortejo passasse pela frente. No momento em que a procissão passou, eles abriram as portas da catedral e assistiram a passagem da Virgem, unindo-se aos cantos e orações, seguindo o cortejo com flâmulas nas mãos.
Dois casos particulares: os mulçumanos e os protestantes.
A acolhida triunfal dos mulçumanos.
A Virgem Maria exercia uma atração especial sobre os mulçumanos. Do Marrocos espanhol ao Cairo, a branca imagem foi objeto de toda espécie de homenagem. Os corais mulçumanos pediam favores em seguir as procissões; os imans ensinaram os seus cânticos aos cristãos da cidade sem missionário, arcos de triunfo foram erguidos diante das mesquitas adornadas.
No Moçambique o fervor mulçumano foi tal que houve numerosas conversões ao catolicismo. Na cidade de Têtê, os maometanos que normalmente nunca descobrem a cabeça, aceitaram tirar o turbante para poder assistir a missa.
Na Etiópia, em Addis-Abeba nada se tinha previsto para receber Nossa Senhora e os prudentes tinham mesmo aconselhado a não irem àquele país mulçumano. Foi um triunfo inaudito e o Nêgus, o chefe do país em pessoa, fez homenagem à Virgem. Mas o país mulçumano onde houve mais fervor à Rainha da Paz foi certamente no Paquistão. A Virgem foi escoltada por elefantes e milhares de mulçumanos seguiram a procissão. Pode-se perguntar se aparecendo em 1917 numa localidade que tem um nome árabe, Fátima, a Mãe de Deus não quis atrair para Ela os olhares dos povos mulçumanos. A situação geográfica da Rússia e sua influência sobre os países maometanos, leva de fato a pensar que a conversão da Rússia levará à conversão dos mulçumanos.
Conversão dos Protestantes
Nos Estados Unidos, os protestantes se precipitaram em multidões para junto da imagem de Nossa Senhora. Assim na cidade de Buffalo (estado de New York) que não contava senão algumas dezenas de milhares de católicos, mais de 200 mil pessoas vieram venerar a imagem, “a maior reunião da cidade”, segundo a nota de um relatório policial.
Em Flora, no Illinois, um proprietário protestante de um jornal local organizou um altar diante de seu escritório para aí entronizar Nossa Senhora e fez pregar o dia todo aos transeuntes a mensagem de Fátima, episódio imprevisto nesta cidade que só contava na época 200 católicos.
Para satisfazer a curiosidade americana, o grande magazine Life, numa tiragem de 8 milhões de exemplares, que era considerado o bastião inexpugnável do protestantismo, publicou sobre Fátima, a 3 de janeiro de 1949, um artigo muitíssimo exato com numerosas fotografias, tal que nenhum jornal católico Francês jamais publicou.
Lá também, a passagem da Virgem de Fátima através da América do Norte, não foi um simples fogo de palha sem amanhã, mas despertou obras duráveis. Citemos:
- o terço diário recitado na rádio por Mons. Legêr, bispo de Montreal, seguido por um milhão de ouvintes.
- “A Hora do Rosário”, organizada pelo Padre Peyton e retransmitida todas as sextas-feiras para a maior parte das cadeias de rádios norte americanas.
- “A Sociedade da Reparação”, fundada pelo Padre Ryan S.J. de Baltimore;
- O “Exército Azul” fundado pelo Padre Colgan e John Haffert, cuja finalidade era despertar um movimento de oração e penitência em favor da conversão da Rússia.
Grande movimento de conversão se realizou então nos Estados Unidos. O cônego Barthas escreveu:
“Como não atribuir a Nossa Senhora de Fátima as milhares de conversões de comunistas e protestantes, obtidas pelo seu grande apóstolo nos Estados Unidos Mons. Fulton Sheen (1895-1979)? Também tantas conversões de comunistas influentes nos países Anglo Saxônicos, principalmente, sobretudo quando eles, tais Douglas Hyde ou Hamish Fraser, declaram haver sua volta ao catolicismo à intercessão de Nossa Senhora de Fátima?
É verdade esta aproximação dos heterodoxos para junto de Nossa Senhora de Fátima não era ainda o retorno dos povos ao único rebanho, não era a hora, pois a Rússia ainda não tinha sido consagrada ao Imaculado Coração de Maria. Mas era uma pré-figura.
Conclusão
A Virgem de Fátima restauradora de Portugal não manifestou somente seu poder neste país, quis também mostrá-lo no mundo inteiro pelas maravilhas que acompanharam suas peregrinações de país em país. Era um insistente convite a realizar seus pedidos sem demora. Nunca aliás um acontecimento tão espetacular como esta peregrinação especial se tinha visto em toda a história da Igreja, manifestando a importância maior das aparições de Fátima.
Seria desejável que as mais altas autoridades da Igreja prestassem atenção a isto. João XXIII não deu nenhuma atenção a Fátima. Quando a Virgem peregrina de Fátima chegou a Roma em setembro de 1959, acolhida pelo prefeito de Roma e por uma multidão imensa, não somente o papa não se mexeu, mas não pronunciou uma só palavra de boas vindas a Nossa Senhora que visitava a sua diocese. Chegara, contudo, Ela, de um périplo triunfal pela Itália durante o qual os bispos tinham solenemente consagrado o país ao Imaculado Coração de Maria. Contudo a peregrinação mundial e a aproximação do ano de 1960, em que devia ser revelado o 3º segredo de Fátima, suscitava interesse do mundo inteiro e um fervor mariano crescente. Tudo foi estancado, parado, claramente, quando João XXIII se recusou a revelar o 3º segredo. O Concílio Vaticano II e os Papas que o aplicaram se entregaram então a uma política ecumênica radicalmente contrária à mensagem de Nossa Senhora e conduzindo-o para a apostasia. É perigoso repelir os planos do Céu. Mas as promessas da Virgem continuam: “Nunca será tarde demais para recorrer a Jesus e a Maria” .
Tradução: Permanência. Publicado originalmente em Le Sel de la Terre, nº 53, pág. 157