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Art. 4 – Se a vida ativa tem prioridade sobre a contemplativa.

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O quarto discute–se assim. – Parece que a vida ativa não tem prioridade sobre a contemplativa.

1. – Pois, a vida contemplativa diretamente se aplica ao amor de Deus, e a ativa, ao do próximo. Ora, o amor de Deus tem prioridade sobre o do próximo, pois, a este o amamos por amor de Deus. Logo, parece que também a vida contemplativa tem prioridade sobre a ativa.

2. Demais. – Gregório diz: Devemos saber que assim como a boa ordem de viver é passar da vida ativa para a contemplativa, assim no mais das vezes o bem exige que se deixe esta por aquela. Logo. a vida ativa não tem, absolutamente falando, prioridade sobre a contemplativa.

3. Demais. – Coisas que convêm a diversos nos têm entre si ordenação necessária. Ora, a vida ativa e a contemplativa convêm a diversos; pois, como diz Gregório, muitas vezes os que podiam se entregar em paz à contemplação caíram vítimas das preocupações externas; e muitas vezes também homens, que podiam viver felizes entregues à vida ativou, acharam no repouso uma causa de ruina. Logo, a vida ativa não tem prioridade sobre a contemplativa.

Mas, em contrário, Gregório diz: A vida ativa tem prioridade sobre a contemplativa, pois pelas boas obras é que nos alçamos à contemplação.

SOLUÇÃO. – A prioridade de uma coisa sobre outra é susceptível de dupla apreciação. ­ Primeiro essa prioridade por sua natureza. E neste sentido a vida contemplativa tem prioridade sobre a ativa, porque se aplica a um objeto superior e melhor. Por isso move e dirige a vida ativa; pois, a razão superior aplicada à contemplação está para o inferior, aplicada à ação, como o homem está para a mulher, que deve ser governada por ele, como diz Agostinho. – Noutro sentido, a prioridade o é relativamente a nós, isto é, funda–se na ordem de geração. E então a vida ativa tem prioridade sobre a contemplativa, porque dispõe para esta, como do sobredito resulta. Ora, na ordem da geração, a disposição precede a forma, pois, é absolutamente e por natureza anterior a esta.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A vida contemplativa não se ordena a um amor qualquer de Deus, mas, ao amor perfeito. Ao passo que a vida ativa é necessária para o amor do próximo, qualquer que ele seja. Por isso diz Gregório: Sem a vida contemplativa podem entrar na pátria celeste os que não deixam de fazer o bem que podem; mas, sem a ativa, nela não podem entrar se descuram a prática do bem que podem fazer. Donde também se conclui que a vida ativa tem precedência sobre a contemplativa, assim como aquilo que é geral a todos precede, na via da geração, o que é próprio aos perfeitos.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Da vida ativa passamos para a contemplativa, na ordem da geração; mas, da vida contemplativa passamos para a ativa, por via de direção, isto é, dirigindo a vida ativa pela contemplação. Assim como também pelas operações adquirimos o hábito e, pelo hábito adquirido, obramos mais perfeitamente, como diz o Filósofo.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Os levados a agir pelo ímpeto das suas paixões são, absolutamente falando, mais aptos para a vida ativa por causa da mobilidade do seu espírito. Por isso diz Gregório: Certos são de tal modo inquietos que a ausência do trabalho seria para eles mais rude que todos os trabalhos; são vítimas da agitação do coração, tanto mais funesta quanto mais lazer têm de vacarem à meditação. Outros porém são naturalmente dotados da pureza e da quietude da alma que os tornam aptos à contemplação; e sofreriam detrimentos se fossem totalmente destinados à ação. Por isso Gregório diz; que certos têm a alma de tal modo inclinada ao repouso que se os trabalhos da atividade os invadissem, neles sucumbiriam desde o começo. Por onde, os mais aptos à vida ativa podem, exercendo a atividade, preparar–se à contemplação; e por seu lado, os mais inclinados à contemplação podem aplicar–se ao exercício da vida ativa afim de se prepararem melhor para a contemplação.

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