O primeiro discute–se assim. – Parece que a vida ativa não abrange os atos de todas as virtudes.
1. – Pois, a vida ativa parece só consistir em relações com terceiros; assim, diz Gregório, que a vida ativa consiste em dar o pão a quem tem fome; e no fim, depois de ter enumerado muitos atos relativos a terceiros, acrescenta: e dar a cada um, o de que tem necessidade. Ora, nós não nos ordenamos aos outros pelos atos de todas as virtudes morais, mas só pelo da justiça e das suas partes, como do sobredito resulta. Logo, a vida ativa não abrange os netos de todas as virtudes morais:
2. Demais. – Gregório diz que Lia, de olhos remelosos, mas fecunda, significa a vida ativa, que, ocupada com as obras exteriores, tem o olhar da alma menos penetrante; mas, ora por palavras, ora pelo exemplo, provoca os outros a imitá–la e engendra numerosos filhos pelas suas boas obras. Ora, parece que isto constitui sobretudo a caridade, pela qual amamos o próximo, do que às virtudes morais. Logo, parece que os atos das virtudes morais não pertencem à vida ativa.
3. Demais. – Como se disse, as virtudes morais dispõem para a vida contemplativa. Ora, disposição e perfeição dizem respeito ao mesmo objeto. Logo, parece que a vida ativa não abrange as virtudes morais.
Mas, em contrário, Isidoro diz: Pela vida ativa devemos primeiro, por meio do exercício das boas obras, eliminar todos os vícios, para passarmos depois à contemplação de Deus, na vida contemplativa, com o puro acume da alma. Ora, os vícios não os expungimos totalmente senão praticando as virtudes morais. Logo, a vida contemplativa implica os atos dessas virtudes.
SOLUÇÃO. – Como dissemos a vida ativa e a contemplativa se distinguem entre si pelas direções diversas que os homens dão aos seus esforços em vista de certos fins. E desses, um é a contemplação da verdade, objeto da vida contemplativa, e o outro é a atividade exterior, a que se ordena a vida ativa. Ora, é manifesto que as virtudes morais não buscam principalmente a contemplação da verdade, mas se ordenam à ação. Donde o dizer o Filósofo, que para a prática da virtude nada ou pouco adianta a ciência. Por onde é manifesto que as virtudes morais pertencem essencialmente à vida ativa. Por isso, o Filósofo ordena as virtudes morais à felicidade ativa.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Dentre as virtudes morais a mais principal é a justiça que nos ordena para outrem, como o prova o Filósofo. Por isso a vida ativa é discriminada relativamente aos atos que nos ordenam para outrem; não que só nisso ela consiste, mas por ser mais principalmente esse o seu fim.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Praticando todas as virtudes morais podemos, pelo nosso exemplo, levar os próximos ao bem, o que Gregório atribui à vida ativa.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Assim como uma virtude ordenada ao fim de outra fica–lhe pertencendo de certo modo à espécie, assim também, quando vivemos a vida ativa, somente enquanto ela nos dispõe à contemplação, fica ela compreendida na vida contemplativa. Mas quando praticamos as virtudes morais simplesmente em vista do bem que produzem e não enquanto dispõem para a vida contemplativa, essas virtudes entram na vida ativa. – Embora também se possa dizer que a vida ativa é uma disposição para a contemplativa.