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Art. 1 – Se a vida se divide convenientemente em ativa e contemplativa.

O primeiro discute–se assim. – Parece que a vida não se divide convenientemente em ativa e contemplativa.

1. – Pois, a alma é por essência o princípio da vida; assim, o Filósofo diz, que a essência dos seres vivos é a vida. Ora, o princípio da ação e da contemplação é a alma, pelas suas faculdades. Logo, parece que a vida não se divide convenientemente em ativa e contemplativa.

2. Demais. – Inconveniente é dividir o anterior pelas diferenças do posterior. Ora, o ativo e o contemplativo, ou o especulativo e o prático, são diferenças do intelecto, como está claro no Filósofo. Mas, viver é anterior a inteligir; pois, a vida se manifesta nos seres vivos, primeiro, pela alma vegetativa, segundo o ensina o Filósofo. Logo, inconvenientemente se divide a vida em ativa e contemplativa.

3. Demais. – O nome de vida implica movimento, como o mostra Dionísio. Ora, a contemplação consiste antes na quietude, conforme aquilo da Escritura: Entrando em minha casa acharei o meu descanso com ela. Logo, parece que a vida não se divide convenientemente em ativa e contemplativa.

Mas, em contrário, Gregório diz: Duas são as vidas nas quais Deus onipotente nos ensina pela sagrada doutrina – a ativa e a contemplativa.

SOLUÇÃO. – Seres propriamente vivos se chamam os que se movem ou obram por si mesmos. Ora, o que sobretudo convém a um ser em si mesmo considerado é o que lhe é próprio e ao que principalmente tende. Por onde, todo ser vivo manifesta a sua vida pela operação que sobretudo lhe é própria e à qual principalmente se inclina. Assim, dizemos que a vida das plantas consiste sobretudo, em nutrirem–se e gerarem; a dos animais, em sentirem e moverem–se; a do homem enfim, em pensar e agir segundo a razão. E por isso ainda, quanto aos homens, a vida de cada um consiste naquilo que mais lhe agrada e que sobretudo busca; pelo que, cada um quer principalmente a convivência dos amigos, como ensina Aristóteles. Ora, como certos homens buscam sobretudo a contemplação da verdade e outros se entregam principalmente à ação externa, daí resulta o dividir–se convenientemente a vida humana em vida ativa e vida contemplativa.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A forma própria de um ser, que o atualiza, é o princípio da operação própria dele. Por isso se diz ser a vida própria aos seres vivos, porque tais seres, em virtude de sua essência formal, obram como vivos.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A vida, universalmente considerada, não se divide em ativa e contemplativa; mas sim, a vida do homem, que se especifica pelo seu intelecto. Por isso a mesma é a divisão do intelecto e da vida humana.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A contemplação supõe certo a quietude dos movimentos externos; nem por isso porém deixa a contemplação de ser um movimento do intelecto, no sentido em que toda operação se chama movimento. Assim, o Filósofo diz, que sentir e inteligir são determinados movimentos, enquanto que movimento significa o ato de um ser perfeito. E neste sentido Dionísio enumera três movimentos da alma contemplativa: o rectilíneo, o circular e o oblíquo.

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