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Art. 10 – Se orar é próprio da criatura racional.

O décimo discute–se assim. – Parece que orar não é próprio da criatura racional.

1. – Pois, a quem pertence pedir pertence receber. Ora, receber também convém às Pessoas incriadas, isto é, ao Filho e ao Espírito Santo. Logo, do mesmo modo lhes convém orar; pois, o Filho diz: Eu rogarei ao meu pai; e o Apóstolo afirma, do Espírito Santo: O Espírito ora por nós.

2. Demais. – Os anjos, sendo substâncias intelectuais, são superiores às racionais. Ora, eles oram; donde o dizer a Escritura: Adorei ao Senhor todos os seus anjos. Logo, orar não é próprio da criatura racional.

3. Demais. – A quem pertence orar também pertence invocar a Deus, o que, sobretudo fazemos quando oramos. Ora, os brutos podem invocar a Deus, conforme aquilo da Escritura: o que dá aos animais o alimento conveniente e aos filhinhos dos corvos que clamam a ele. Logo, orar não é próprio da criatura racional.

Mas, em contrário. – A oração e um ato de razão, como já se estabeleceu. Ora, a criatura racional é assim chamada por ter razão. Logo, orar é próprio da criatura racional.

SOLUÇÃO. – Como do sobredito se colhe, a oração é um ato racional pelo qual pedimos alguma coisa a quem nos é superior; assim como o império é um ato pelo qual mandamos a um nosso inferior fazer alguma coisa. Portanto, propriamente deve orar quem é racional e pode fazer pedidos a um superior. Ora, nenhum ser é superior às Pessoas divinas; e quanto aos brutos, eles – não têm razão. Por onde, a oração não convém nem às Pessoas divinas nem aos brutos; mas é própria da criatura racional.

DONDE A RESPOSTA A PRIMEIRA OBJEÇÃO. – As Pessoas divinas convêm–lhes por natureza o receber; ao passo que orar é próprio de quem recebe por graça. Mas, dizemos que o Filho roga ou ora, levando em conta a natureza humana que assumiu e não, considerando–lhe a natureza divina. E quanto ao Espírito Santo, dizemos que pede porque nos faz pedir.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O intelecto e a razão não são em nós faculdades diversas, como na Primeira Parte ficou estabelecido; pois, diferem como o perfeito, do imperfeito. Por onde, às vezes, as criaturas intelectuais, que são os anjos, distinguem–se das – racionais; outras vezes compreendem–se nestas e, neste sentido, dizemos que orar é próprio da criatura racional.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Dizemos que os filhotes dos corvos invocam a Deus, por causa do desejo natural, com que cada ser, a seu modo, deseja ser beneficiado pela bondade divina. Assim como também dizemos que os brutos obedecem a Deus por causa do instinto natural com que são por ele movidos. 

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