O terceiro discute–se assim. – Parece que o pecado dos nossos primeiros pais foi mais grave que os outros.
1. – Pois, diz Agostinho: A grandeza da malícia desse pecado deriva da grande facilidade que havia em não o cometer. Ora, os nossos primeiros pais tinham a máxima facilidade de não pecar, porque nenhuma causa intrínseca os impelia a faze–la. Logo, o pecado dos nossos primeiros pais foi mais grave que os outros.
2. Demais. – A pena é proporcional à culpa. Ora, o pecado dos nossos primeiros pais foi gravissimamente punido: pois, por ele é que entrou a morte neste mundo, como diz o Apóstolo. Logo, esse pecado foi mais grave que os outros.
3. Demais. – O que é primeiro num determinado género é também máximo, como diz Aristóteles. Ora, o pecado dos nossos primeiros pais foi o primeiro, entre os outros pecados dos homens. Logo, foi o máximo.
Mas, em contrário, diz Orígenes: Não penso que ninguém, daqueles que foram postos no sumo e perfeito grau, subitamente ceda e caia; mas, sim, que, se cair, sê–lo–á paulatinamente e por partes. Ora, os nossos primeiros pais estavam colocados no sumo e perfeito grau. Logo, o primeiro pecado deles não foi o maior de todos.
SOLUÇÃO. – Podemos descobrir no pecado dupla gravidade. Uma, fundada na espécie mesma dele; assim, consideramos o adultério como um pecado mais grave que a simples fornicação. A outra gravidade do pecado é a fundada nalguma circunstancia de lugar, de pessoa ou de tempo. Ora. a primeira gravidade é mais essencial ao pecado e mais principal. Por isso, ela torna o pecado mais grave; que a segunda.
Donde devemos concluir, que o pecado do primeiro homem não foi mais grave do que todos os outros pecados humanos, quanto à espécie dele. Embora, pois, a soberba tenha, no seu gênero, uma certa excelência entre os outros pecados, contudo, maior é a soberba pela qual negamos a Deus ou contra ele blasfemamos do que a soberba pela qual desejamos desordenadamente nos assemelharmos com Deus, como foi a dos nossos primeiros pais, segundo dissemos. Mas, pela condição das pessoas que pecaram, o referido pecado teve a máxima gravidade, por causa da perfeição do estado delas. Donde devemos concluir foi, de certo modo, o gravíssimo, embora, não, absolutamente falando.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A objeção colhe, quanto à gravidade do pecado, relativamente à circunstância do pecador.
RESPOSTA À SEGUNDA. – A grandeza da pena resultante desse primeiro pecado não lhe corresponde, quantitativamente falando, à espécie própria, mas sim, enquanto foi o primeiro. Pois, destruiu a inocência do primeiro estado, destruída a qual, desordenou–se roda a natureza humana.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Nas coisas submetidas a uma ordem essencial, necessariamente a que é primeira é máxima. Ora, tal não é a ordem realizada pelo pecado, senão que um se segue a outro, por acidente. Donde não se conclui tenha sido o máximo o primeiro pecado.