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Art. 3 - Se o sujeito da soberba é o irascível.

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O terceiro discute–se assim. – Parece que o sujeito da soberba não é o irascível.

1. – Pois, diz Gregório: O obstáculo à verdade é o orgulho do espírito, que, entumecendo–o, obnubila–o. Ora, conhecer a verdade não pertence ao irascível mas à potência racional. Logo, o sujeito da soberba não é o irascível.

2. Demais. – Gregório diz, que os soberbos não consideram a vida daqueles a quem se devem pospor, pela humildade, mas, a daqueles a quem se pretiram, por soberba; por onde se vê que a soberba resulta de uma consideração indevida. Ora, considerar não é próprio do irascível, mas antes, do racional.

3. Demais. A soberba não só busca a excelência, nas causas sensíveis, mas também, nas espirituais e inteligíveis. E também consiste principalmente no desprezo de Deus, segundo aquilo da Escritura: O princípio da soberba do homem é o apostatar de Deus. Ora, o irascível, fazendo parte do apetite sensitivo, não pode estender–se a Deus e ao inteligível. Logo, o sujeito da soberba não pode ser o irascível.

4. Demais. – Como diz Próspero, a soberba é o amor da excelência própria. Ora, o sujeito do amor não é o irascível, mas, o concupiscível. Logo, não é o irascível o sujeito da soberba.

Mas, em contrário, Gregório coloca contra a soberba o dom do temor. O temor, porém, pertence ao irascível. Logo, o sujeito a soberba é o irascível.

SOLUÇÃO. – Devemos indagar qual o sujeito de uma virtude ou de um vício, considerando­lhe o objeto próprio. Pois, um hábito ou um ato não pode ter outro objeto senão o da potência, que serve de sujeito a um e outro. Ora, o objeto próprio da soberba implica uma dificuldade a vencer, pois, é o desejo da nossa própria excelência, como dissemos. Por onde, a soberba pertence necessariamente e de certo modo à potência irascível.

Ora, o irascível pode ser considerado a dupla luz. – Primeiro, no seu sentido próprio e então faz parte do apetite sensitivo, assim como a ira, propriamente considerada, é uma paixão do apetite sensitivo. – Numa segunda acepção o irascível é considerado em sentido mais lato, de modo a pertencer também ao apetite intelectivo, a que também às vezes atribuímos a ira, como quando a atribuímos a Deus e aos anjos, não como paixão, mas, como juízo da justiça judicativa. E contudo o irascível, nesse sentido geral, não é uma potência distinta do concupiscível, como ficou claro pelo que dissemos na Primeira Parte.

Por onde, se o difícil, que constitui o objeto da soberba, fosse só algo de sensível, a que pode tender o apetite sensitivo, a soberba teria necessariamente o seu sujeito no irascível, que faz parte do apetite sensitivo. Mas, como a dificuldade que a soberba deve vencer, geralmente existe tanto na ordem sensível como na espiritual, devemos forçosamente admitir, que o sujeito da soberba é o irascível, considerada não só em sentido próprio, como parte do apetite sensitivo, mas também em sentido geral, como se manifesta no apetite intelectivo. Por isso se atribui a soberba aos demónios.

DONDE A RESPOSTA A PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Duplo é o conhecimento da verdade. – Um puramente especulativo; e este a soberba impede indiretamente, eliminando–lhe a causa. Pois, o soberbo nem sujeita a Deus a sua inteligência de modo a receber dele o conhecimento da verdade, segundo aquilo do Evangelho ­ Escondeste estas causas aos sábios e aos entendidos – isto é, aos soberbos, que se consideram como sábios e prudentes; e as revelaste aos pequenos, isto é, aos humildes. Nem o soberbo se digna aprender dos homens; assim, diz a Escritura: Se aplicares o teu ouvido, isto é, ouvindo humildemente, serás sábio. – Outro é o conhecimento da verdade, chamado o afetivo. E esse conhecimento a soberba o impede diretamente. Porque aos soberbos, comprazendo–se com a excelência própria, repugna–lhes a excelência da verdade. E Gregório diz: Os soberbos, embora percebam intelectualmente certas e determinadas verdades, não lhes podem contudo experimentar a doçura; conhecendo–as como são, ignoram–lhes como sabem. Donde o dizer a Escritura: Onde há humildade, aí há igualmente sabedoria.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Como dissemos, a humildade obedece à regra da razão reta, que nos leva a ter uma verdadeira estima fie nós mesmos. Ora, a essa regra da razão reta não obedece a soberba, que nos leva a nos estimarmos mais do que merecemos. O que se dá pelo apetite desordenado da nossa própria excelência, pois, o que veementemente desejamos facilmente o cremos. Donde também resulta que o nosso apetite busca o que excede a nossa capacidade. Portanto, tudo o que nos leva a nos estimarmos mais do que valemos, faz–nos cair na soberba. E dentre essas causas da soberba, uma é o notarmos os defeitos dos outros; assim como, ao contrário, Gregório diz, que os varões santos, atentando para as virtudes, mutuamente se preferem uns aos outros. E, portanto daqui não resulta seja o racional o sujeito da soberba; mas sim, que na razão há uma certa causa dela.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A soberba não existe só no irascível, enquanto ela faz parte do apetite sensitivo; mas, no sentido em que o irascível é tomado em acepção mais geral, como se disse.

RESPOSTA À QUARTA. – Como diz Agostinho, o amor precede todas as outras afeições da alma e é a causa delas. E por isso pode ser tomado por qualquer dessas afeições. E, assim sendo, diz–se que a soberba é o amor da nossa excelência própria, enquanto que esse amor causa a presunção desordenada de superar os outros, o que constitui propriamente a soberba.

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