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Art. 2 – Se o objeto da modéstia são só os atos externos.

O segundo discute–se assim. – Parece que o objeto da modéstia são só os atos externos.

1. – Pois, os movimentos internos das paixões não podem ser conhecidos dos outros. Ora, o Apóstolo manda, que a nossa modéstia seja conhecida de todos os homens. Logo, a modéstia tem por objeto só os atos exteriores.

2. Demais. – As virtudes, cujo objeto, são as paixões, distinguem–se da justiça, cuja matéria são os atos. Ora, parece que a modéstia é uma só virtude. Logo, se versa sobre os atos externos, não tem por objeto nenhuma paixão interna.

3. Demais. – Uma mesma virtude não pode ter por objeto o que respeita o apetite, regulado pelas virtudes morais; nem o que respeita o conhecimento, regulado pelas virtudes intelectuais; nem o que respeita o irascível e o concupiscível. Se, pois, a modéstia é uma mesma virtude, não pode ter por objeto tudo o que acaba de ser enumerado.

Mas, em contrário. – Em todos os casos referidos, é mister observar o modo, donde deriva a palavra modéstia. Logo, ela se aplica em todos os casos referidos.

SOLUÇÃO. – Como dissemos a modéstia difere da temperança em ser esta moderadora do que dificilmente refreamos, e aquela, do que nos é fácil dominar. Ora, certos consideraram a modéstia diversamente. Pois, excluem–na em todos os casos em que descobrem uma razão especial no moderar um bem ou uma dificuldade, aplicando a modéstia só a situações fáceis de serem moderadas. Ora, como é manifesto a todos, Implica uma dificuldade especial a moderação dos prazeres do tacto. Por isso, todos distinguem a temperança, da modéstia. Mas, além disso, Túlio notou haver um bem especial na moderação das penas. Por onde, também separou a clemência, da modéstia, deixando a esta a moderação só em casos gerais.

Ora, estes são quatro – Um consistente no movimento da alma em busca de alguma excelência, moderado pela humildade. – O segundo é o desejo em matéria de conhecimento, moderado pela estudiosidade, oposta à curiosidade. ­ O terceiro respeita os movimentos e os atos corpóreos, que devemos fazer conveniente e honestamente, tanto quando procedemos seriamente, que quando nos divertimos. – O quarto concerne à nossa apresentação externa, por exemplo, no vestuário e em cousas semelhantes.

Mas, outros dizem serem certas virtudes especiais as que concernem a alguns desses atos. Assim, Andronico fala na mansidão, na simplicidade, na humildade e noutras semelhantes, de que já tratamos. Aristóteles, por seu lado, considera como o objeto da eutrapélia regular o prazer dos divertimentos. Mas, todas essas virtudes estão contidas na modéstia, no sentido em que Túlio a considera. Por onde, a modéstia concerne não só aos atos externos, mas também aos internos:

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O Apóstolo fala de modéstia com relação às coisas exteriores. Mas também a moderação das atitudes interiores pode manifestar–se por certos sinais exteriores.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A modéstia abrange as diversas virtudes correspondentes às diversas concepções dos autores. Por onde, nada impede versar ela sobre as coisas, que essas diversas virtudes exigem. – E contudo não há tão grande diversidade entre as partes da modéstia, umas para com as outras, como há entre a justiça, que versa sobre os atos, e a temperança, cuja matéria são as paixões. Pois, as ações e as paixões, que não implicam nenhuma dificuldade especial, quanto à matéria delas, mas só quanto à moderação das mesmas, essas não são o fundamento senão de uma virtude, baseada na ideia da moderação.

Donde se deduz clara a RESPOSTA À TERCEIRA OBJEÇÃO.

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