O sétimo discute–se assim. – Parece que foram inconvenientemente determinadas as seis filhas da ira, a saber: a rixa, a entumescência de coração, a contumélia, a vociteração, a indignação e a blasfémia.
1. – Pois, a blasfémia Isidoro a considera filha da soberba. Logo, não deve ser considerada filha da ira.
2. Demais. – O ódio nasce da ira, como diz Agostinho. Logo, deve ser considerado filho dela.
3. Demais. – A entumescência de coração parece ser o mesmo que a soberba. Ora, a soberba não é filha de nenhum vício, mas, a mãe de todos, como diz Gregório. Logo, a entumescência de coração não deve ser contada entre as filhas da ira.
Mas, em contrário, Gregório assinala essas filhas da ira.
SOLUÇÃO. – A ira pode ser considerada a tríplice luz. Primeiro, enquanto existente no coração. E então dela nascem dois vícios. – Um relativo àquele contra quem nos iramos, e que consideramos indigno por ter feito contra nós uma determinada injúria. E Por isso enumeração assinala a indignação. – O outro vício é o que nasce em nós mesmos ao pensarmos nos diversos meios de vindicta, enchendo por isso a nossa alma desses pensamentos, segundo a Escritura: Porventura o sábio responderá como se falasse ao vento e encherá de ardor o seu peito? E por isso aparece na enumeração a entumescência de coração.
De outro modo, a ira é considerada enquanto se manifesta por palavras. E então dela procedem duas desordens. – Uma consiste em manifestarmos a ira pelo nosso modo de falar, como no caso do que diz contra seu irmão Raca. E por isso a enumeração se refere à vociferação, pela qual se entende o modo de falar desordenado e confuso. – A outra desordem é a pela qual prorrompemos em palavras injuriosas. As quais, se forem contra Deus, constituirão a blasfémia; e se contra o próximo, a contumélia. Em terceiro lugar, considera–se a ira enquanto realizada de fato. E então dele nascem as rixas, pelos quais se entendem todos os danos que, de fato, causamos ao próximo pela ira.
DONDE A RESPOSTA A PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A blasfémia em que o homem prorrompe, de propósito deliberado, procede da sua soberba, que o levanta contra Deus; pois, como diz a Escritura: O princípio da soberba do homem é apostata de Deus, isto é, deixar de venerá–lo, que é a primeira parte da soberba da qual nasce a blasfémia. Ora, a blasfémia em que o irado prorrompe, com a alma em convulsão procede da ira.
RESPOSTA À SEGUNDA. – O ódio, embora às vezes nasça da ira, nasce contudo e mais diretamente de uma causa anterior, que é a tristeza; assim como ao contrário, o amor nasce do prazer. Pois, provocados pela tristeza é que, ora, somos levados à ira e ora, ao ódio. Por onde, mais convenientemente se fez o ódio nascer da acédia, que da ira.
RESPOSTA À TERCEIRA. – A entumescência de coração, na questão presente, não é tomada pela soberba; mas, por um conato ou audácia de quem intenta a vingança. Ora, a audácia é um vício oposto à fortaleza.