O quarto discute–se assim. – Parece que a luxúria não é um vício capital.
1. – Pois, parece que a luxúria é idêntica à imundície, como está na Glosa. Ora, a imundície é filha da gula, segundo Gregório. Logo, a luxúria não é vício capital.
2. Demais. – Isidoro diz, que assim como pela soberba, a alma se prostitui ao prazer, assim, pela humildade do espírito conserva a castidade do corpo. Ora, por natureza, um vício capital não pode nascer de outro. Logo, a luxúria não é uma vida capital.
3. Demais. – A luxúria é causada pelo desespero, conforme o diz o Apóstolo: Que, se entregaram a si mesmos à dissolução. Ora, o desespero não é um vício capital; antes, é considerado filho da acédia, como se estabeleceu. Logo, e muito menos, a luxúria é vício capital.
Mas, em contrário, Gregório enumera a luxúria entre os vícios capitais.
SOLUÇÃO. – Como do sobre dito resulta, vício capital é aquele cujo fim é muito desejável, a ponto de esse desejo levar o homem a perpetrar muitos pecados, que todos se consideram nascidos desse vício, como do principal. Ora, o fim da luxúria é o prazer venéreo, que é o máximo. Por onde, esse prazer é o mais desejável pelo apetite sensitivo, quer pela sua veemência, quer também pela conaturalidade dessa concupiscência. Portanto, é manifesto que a luxúria é um vício capital.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Para certos, a imundície considerada filha da gula é uma certa imundície corpórea, como dissemos; e assim a objeção não vem a propósito. Se, porém, a considerarmos como a imundície da luxúria, então, devemos admitir que é causada materialmente pela gula, pois que esta lhe ministra a matéria corporal; mas não quanto à ideia da causa final, em relação à qual a origem dos outros vícios está nos vícios capitais.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Como dissemos, quando tratamos da vanglória, a soberba é tida em geral como a mãe de todos os pecados; por isso também os vícios capitais nascem da soberba.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Dos prazeres da luxúria muitos se abstêm sobretudo pela esperança da glória futura, de que o desespero priva. Por isso, causa a luxúria porque lhe remove o obstáculo; mas não como causa, em si, dela, o que exigem os vícios capitais.