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Art. 3 – Se a gula é o máximo dos pecados.

O terceiro discute–se assim. – Parece que a gula é o máximo dos pecados.

1. – Pois, a grandeza de um pecado depende da grandeza da sua pena. Ora, o pecado da gula é o mais gravissimamente punido; assim, diz. Crisóstomo: A intemperança do ventre expulsou Adão do Paraíso e causou o dilúvio, nos tempos de Noé, segundo aquilo da Escritura: ­ Eis aqui a iniquidade de Sodoma, tua irmã, a tortura de pão, etc. Logo, o pecado da gula é o máximo dos pecados.

2. Demais. – Em cada gênero, a causa tem o primeiro lugar. Ora, a gula é tida como a causa dos outros pecados; pois, àquilo da Escritura – O que feriu ao Egito com os seus primogénitos – diz a Glosa: A luxúria, a concupiscência, a soberba, são o que o ventre antes de tudo gera. Logo, a gula é o gravíssimo dos pecados,

3. Demais. – Depois de Deus, é a si mesmo que o homem deve sobretudo amar–se, como se estabeleceu. Ora, pelo vicio da gula ele se danifica a si mesmo, conforme a Escritura: Muitos morreram pelos excessos da gula. Logo, a gula é o máximo dos pecados, ao menos depois dos pecados contra Deus.

Mas, em contrário, os vícios carnais, entre os quais se conta a gula, segundo Gregório, são os de menor culpa.

SOLUÇÃO. – A gravidade de um pecado pode ser considerada em tríplice ponto de vista. ­ Primeiro e principalmente, quanto à sua matéria. E, por aí, os pecados, que ofendem as coisas divinas, são os máximos. Por onde, a esta luz o vício da gula não é o máximo, pois, respeita aquilo com que o corpo se sustenta. ­ Segundo, no concernente ao pecador. E então, o pecado da gula antes diminui, que aumenta de gravidade, quer pela necessidade que temos de tomar alimento, quer também pela dificuldade em discernir e moderar o que, em tais casos, convém. – Terceiro, no concernente ao efeito consequente. E, por aí, o vício da gula tem uma certa grandeza, enquanto dá ocasião a diversos pecados.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – As referidas penas se referem mais aos vícios consequentes à gula, ou aos fundamentos dela, do que à gula em si mesma. Pois, o primeiro homem foi expulso do paraíso por causa da soberba, que o fez cair na prática da gula. E quanto ao dilúvio e à pena dos sodomitas, foram castigos cominados aos pecados procedentes de luxúria, ocasionados da gula.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A objeção colhe relativamente aos pecados oriundos da gula. Pois, não há de necessariamente uma causa ter a preeminência, salvo as causas que por si mesmas o são. Ora, a gula não é por si mesma causa dos referidos vícios, senão só acidental e ocasionalmente.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O guloso não tem a intenção de causar dano ao seu corpo mas de deleitar–se com a comida. E se algum dano daí se lhe seguir, será só por acidente. O que portanto não respeita diretamente à gravidade da gula. Contudo a sua culpa se agrava, quando sofrermos algum detrimento corporal causado da imoderação em tomarmos os alimentos.

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