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Art. 5 – Se a temperança versa sobre os prazeres próprios do gosto.

O quinto discute–se assim. – Parece que a temperança versa sobre os prazeres próprios do gosto.

1. – Pois, os prazeres do gosto tem por objeto a comida e a bebida, mais necessários à vida do homem do que os prazeres venéreos, próprios do tacto. Ora, pelo que já se disse, a temperança regula os prazeres concernentes ao necessário à vida do homem. Logo, a temperança versa antes sobre os prazeres próprios ao gosto, do que sobre os próprios ao tato.

2. Demais. – A temperança versa, antes, sobre as paixões do que sobre a realidade mesma. Ora, como diz Aristóteles, o tato é como que o sentido do alimento, quanto à substância mesma deste; o sabor porém que é propriamente o objeto do gosto, é como que o prazer resultante da alimentação. Logo, a temperança versa, antes, sobre o gosto, que sobre o tato.

3. Demais. – Como diz Aristóteles, a temperança e a intemperança, a continência e a incontinência, a perseverança e a molície, que busca as delícias, têm o mesmo objeto, Ora, parece que nestas se inclui o prazer do sabor, próprio do gosto. Logo, a temperança verga sobre os prazeres próprios do gosto.

Mas, em contrário, diz o Filósofo, que a temperança e a intemperança parece que em pouco ou em nada se servem do gosto.

SOLUÇÃO. – Como dissemos a temperança regula os prazeres mais intensos, que por excelência dizem respeito à conservação da vida humana, específica ou individualmente considerada. Ora, nesta matéria, há uma parte principal e outra, secundária. O principal é o uso mesmo da coisa necessária, a saber, da mulher, necessária à conservação da espécie; e da comida e da bebida, necessárias à conservação do indivíduo. Ora, o uso mesmo dessas cousas necessárias é acompanhado de um certo prazer essencial. A parte secundária, em relação a um e outro uso, é o que o torna mais deleitável; como, a beleza e o ornato da mulher, e o sabor deleitável do alimento e também do odor. Por onde, principalmente, a temperança versa sobre os prazeres do tato, por si mesmos resultantes do próprio uso das coisas necessárias, o qual todo consiste em tocar. Secundariamente porém a temperança e a intemperança versam sobre os prazeres do gosto ou do olfato ou da vista; enquanto que os sensíveis desses sentidos contribuem para o uso deleitável das cousas necessárias relativas ao tato. Ora, o gosto, dizendo respeito de mais perto ao tacto, do que os outros sentidos resulta que a temperança versa, antes, sobre o gosto do que sobre os outros sentidos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÁO. ­ Também o uso mesmo dos alimentos e o prazer dele essencialmente resultante pertencem ao tato por isso diz o Filósofo, que o tato é o sentido da alimentação; pois, nós nos nutrimos com coisas quentes e frias, úmidas e secas. Ao gosto porém pertence discernir os sabores, que concernem ao prazer da alimentação, enquanto sinais de nutrição conveniente.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O prazer resultante do sabor é como que acrescentado; ao passo que o prazer do tato resulta, em si mesmo, do uso da comida e da bebida.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O serem os alimentos deliciosos está principalmente na substância mesma deles: mas, secundariamente, no terem um sabor esquisito e na preparação.

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